La Montagne

La Montagne
Fechados contra o Mundo e seu Rei, Espírito contra Matéria!

sábado, 30 de maio de 2015

A Revelação de Isais (Parte 1)



Buscai os lugares, tomai os espaços, aonde quer que a espada do herói seja clamada, aonde quer que a ação corajosa seja necessária. Sabei qual é vosso lugar. Quem hesita, tolera – e quem tolera, permite que prevaleçam as Forças do Inferno.

No período de 1226 a 1238, por doze anos, um grupo de cavaleiros alemães se reunia nas florestas em Ettenberg, na área de Berchtesgaden, em um local onde com frequência uma aparição surgia, na forma de uma dama, que chamava a si mesma Isais, Isaria ou Istara. 

À época, o sul e o oeste da Alemanha sofreram uma influência considerável do movimento cátaro, que embora não tenha firmado raízes, tem boas chances de ter influenciado na mensagem que se produzirá a seguir. Para estes cavaleiros, por exemplo, o Gral é na realidade uma pedra, negra com brilho lilás, de onde brota a luz do Mundo Verdadeiro que inspira o retorno para a Origem. Por causa disto, chamavam a si mesmos "Herren von der Schwarzer Stein" ou HvdSS (Senhores da Pedra Negra).

Durante essas seções mediúnicas com "Isais", ela transmitia mensagens, algumas foram escritas a posteriori por membros do círculo de cavaleiros (cuja importância e desdobramentos são outro assunto, totalmente à parte). As anotações foram, então, traduzidas em 2005 por um grupo que se diz a continuidade do antigo círculo medieval (e que no entanto realiza muitas atividades confusas... mas este também é outro tema). A compilação de mensagens, e alguns outros textos mais modernos, se chama "Wissensbuch der ILU-Lehre" (o Livro da Sabedoria dos ensinamentos de ILU), e pode ser encontrado com alguma dificuldade na internet. A tradução ao português é da autoria do autor deste Blog, com ajuda de outros textos da época para embasar algumas traduções dúbias, ou obscuras.

A mensagem, em si, é e não é familiar ao pensamento que temos reproduzido nesta página: gnóstico em essência, possui uma visão dualista de raiz (o Bem e o Mal se originaram separadamente, e são absolutamente separados) como os gnósticos do Oriente Médio, e juntamente com as influências do cristianismo e do paganismo nórdico, encontramos nomes e histórias com raízes sumérias e babilônicas (o próprio nome Isais é aparentado com Ishtar, a manifestação mais antiga de Epinoia), o que é absolutamente incomum e peculiar para o lugar e a época. 

Para o Catarismo, não existe uma pretensão de ser uma religião única, ou de ser "A verdadeira" - o que algumas religiões denominam deuses e demônios, outras chamam de anjos, guias... diferenças teológicas e mitopoiéticas também podem ser sublimadas como distorções culturais de uma verdade que brota do íntimo: a verdade de que somos estrangeiros, presos neste mundo contra nossa vontade, por um deus sanguinário ao qual declaramos guerra para conquistar o retorno ao lar. Qualquer doutrina que reconheça esta verdade, ou qualquer pessoa que o sinta, serão para nós irmãos e camaradas. Este texto prova isto: que a verdade do aprisionamento espiritual não é uma doutrina, uma idéia, mas um sentimento, uma GNOSIS no sentido mais puro de 'Nous', que tomou várias traduções culturais por quem a tentou expressar. 

E é muito interessante ver uma manifestação da Gnosis fora da "rota" histórica, nascida espontaneamente no centro da Europa, reforçando de que realmente se trata de uma memória ancestral acessada por aqueles que não são deste mundo. Uma visão menos influenciada pelo cristianismo, e muito mais beligerante, provando que o Catarismo não é a religião de "tolerância" irrestrita como os reconstrucionistas modernos querem pintar.

O texto será dividido em três partes; a primeira relatando a criação e a hostilidade essencial entre espírito e matéria; a segunda tratará da Pedra do Gral; a terceira, da descida de Isais ao Inferno-prisão deste mundo para recuperar tal Pedra. Segue a primeira parte:

A REVELAÇÃO DE ISAIS



A verdade eu vos falo -  para que ouçam. Imagens eu lhes mostro, para a sua visão; discorro sobre um conhecimento e uma sabedoria que a tudo abarcam, desde o pré-início até o fim do fim,  

2                E não falo em parábola ou em mistérios, minha palavra não é confusa, mas falo claramente sobre o que foi, o que é e o que pode vir a ser;
3                Seres humanos, aqui presos à Terra, que seguem a Morte – e são, ainda assim, imortais; Filhos das Estrelas, vindos dos céus, mais velhos do que este mundo;
4                Filhos das forças da Luz e Filhas do Brilho, habitantes dos altos céus, perdidos nas Trevas; seres de Luz que caminham nas Sombras; Eternos, mas não livres da Morte;
5                Andarilhos sobre os cumes dos mundos, recém-nascidos deste lado – por mais tempo pertenceram eles ao outro lado. Filhos de Deuses, mas sem a semelhança divina. E mais isto pode-se dizer sobre os homens: antiga é vossa raça, jovem o vosso mundo.
6                O Espírito do homem não é nascido, mas está lá desde antes do Princípio – e ali estará até depois do Fim.
7                Antes do princípio, existia tudo aquilo que pertence à Eternidade perene; não havia espaço, ou tempo. Sem consciência nem vida, as essências ali permaneciam, até que o Pai de Todos criou, para elas, tempo mensurável e espaço transitável: os mundos eternos celestiais.
8                Ali se projetaram as sementes de todos os seres; a Eternidade assim foi criada a partir da pré-eternidade, e o Princípio se fez.
9                Ali se projetou o Pai para cuidar de seus seres, lhes preencher com vitalidade, insufla-los com força, inspirar-lhes o Espírito. Os mundos celestiais então despertaram em vida e atividade. Os seres reconheceram uns aos outros de acordo com seu tipo:
10           Haviam aqueles, que mais tarde se tornariam homens; haviam outros, que se tornariam depois como animais; haviam alguns como as plantas que crescem do solo; e haviam espíritos demoníacos.
11           E nada era como hoje se conhece na terra, lá nos mundos celestiais que ainda não haviam sido corrompidos: tudo era similar e não-similar ao mesmo tempo.
12           Verdadeiramente nasceu nos Céus, tudo aquilo que hoje se arrasta na terra, e esteve uma vez sob a Luz do Pai, aquilo que hoje vaga em uma busca incessante na escuridão, doente e sem destino.
13           Então um senhor das sombras se apossou dos mundos celestiais, para desafiar o Pai Celeste. Um Reino das Sombras criou este Senhor sombrio, longe do Céu, nas profundezas obscuras do Inferno.
14           Um vazio infinito se estende no meio – ninguém poderia se situar ali.
15           No meio deste vazio, entre as Trevas e a Luz, Espíritos poderosos construíram o Valhalla. Ali vivem os melhores filhos do Pai, Deusas gentis e corajosos Deuses.
16           Desde então, existe Guerra incessante entre Valhalla e o Inferno.
17           Mas inúmeros seres caíram dos Céus. Sem saber o que faziam, queriam espiar a fronteira do Inferno. Mais tarde, desses seres foi moldado o Homem.
18           Todos os que caíram se tornaram inconscientes, esqueceram seus nomes, esqueceram tudo o que aconteceu.
19           Para estes caídos, o Pai de Todos criou um novo plano: reinados neste mundo, sob o firmamento das Estrelas; com isto se tornou possível um segundo nascimento das multidões perdidas, e lhes foi oferecida uma Via até a morte terrena, e a partir dali um portal para retornar ao Lar.  
20           Longas pontes para os outros mundos estendeu o Pai, para uso de toda a humanidade caída; pontes para um retorno feliz para casa.
21           Eu lhes darei a conhecer estes mundos, plenos, criados pelo Pai: acima de todos, o Reino dos Céus e sua Luz eterna, o lar original de todos os seres.
22           Os grandes campos que a tudo englobam eu nomeio a seguir – nenhum plano existe, fora destes campos, deste ou daquele lado do Grande Espelho, que é o nome da fronteira entre este e aquele lado. O Inferno está ali, o obscuro e terrível: sangue fervente, repulsa e tormento infindáveis. Em meio aos campos infindáveis, se situa o Valhalla; fortes muralhas, e um imponente castelo.
23           Também o mundo de cá se situa nestes campos, com a Terra e seu firmamento estrelado.
24           Igualmente se estendem pelos vários mundos arcos de muitas cores, desde os Céus até as proximidades do Inferno. Numerosos são os mundos ali, para as pessoas vagarem depois da morte terrena.
25           Nos confins dos campos, a uma distância inenarrável, um Reino não familiar: o portal cinzento dos demônios; um local aterrorizante, mas completamente silencioso.
26           Existem nos campos muitos mundos do sono –
27           E também o silente vale dos afogados. Os habitantes da Terra vêm dali, para vagar o mundo até conseguir sua libertação e o retorno para casa.
28           A verdade, eu digo, conhecimento e Sabedoria, queiram aprender a Via que lhes ensino com claras palavras: no Reino dos Céus vive o Pai de Todos, com aqueles que lhe são leais. No Inferno, entretanto, mora o sinistro Príncipe das Sombras, o rejeitado, o desolador: Shaddai é o seu nome. No Valhalla, os heróis serenos governam, os Deuses com suas Esposas.
29           Estes receberam com hospitalidade Istara, Mensageira do Pai Eterno. Das portas do Valhalla entram e saem a todo momento os Einherjar, os duplamente imortais. Muitos destes eu tenho por irmãos e irmãs.
30           Neste mundo permanecem todos os homens, com os animais e plantas, para vagar sobre a terra. O Outro Mundo se abre e estende, após a morte terrena, um caminho para o retorno ao Reino Celeste; ali, todos escolhem seu caminho.  

31           Nos Campos Exteriores todas as essências se encontram: boas e más, de todos os tipos. Isais, quem vos ensina, opera desde ali.
32           À noite, durante o sono, seus Espíritos frequentemente deixam o corpo, para vagar pelos mundos do sono. Muitos encontros acontecem ali, fora do Tempo.

33           Também à luz do dia o Espírito, por vezes, busca alçar às alturas. Vibrações do além gostam de se comunicar com ele, para dar mensagens e conselhos. Eu os advirto, no entanto: com frequência, os conselhos são falsos.
34           Atentai-vos, ó homens, ó nascidos da Terra! E vede: não é aqui, a vossa origem. Escutai! A verdade eu vos digo, e ofereço conselho em clara voz.
35           A dança das guerras segue incessante ao longo das eras, desde que Schaddai declarou Guerra ao verdadeiro Deus. Buscai os lugares, tomai os espaços, aonde quer que a espada do herói seja clamada, aonde quer que a ação corajosa seja necessária.
36           Sabei qual é vosso lugar. Quem hesita, tolera – e quem tolera, permite que prevaleçam as Forças do Inferno.
37           Sede gentis e delicados com os de natureza gentil e delicada, mas lancem gritos de batalha contra os maus. Conheçam a hora certa para o amor, assim como para a hora das lanças.
38           Tende compaixão com os que agem acossados pelo desespero – mas guardem um olhar duro e hostil contra os que exploram o sofrimento daqueles.
39           Avançai para a luta sem demora, aonde quer que as nuvens sombrias se estendam. Sede guerreiros aonde o clamor da guerra prevaleça, guardem vossa amabilidade para o reduto do lar.
40           Dividido em dois é todo aquele que vaga pela terra, como claro é o dia e escura é a noite, e não lhe é possível assumir apenas uma das duas naturezas.
41           A verdade vos digo, e conselho vos ofereço; mostro-lhes como a realidade é: Schaddai ronda pelos países e terras do mundo, pelos mares e cavernas, desertos e florestas, colinas e montanhas. Ele traz consigo as fontes do tormento, e traga o sangue que escorre da história das nações, consagrando a si mesmo, com isto, “Deus”.

42           Com muitas faces sorri o Maligno de todos os cantos da terra simultaneamente, multíplices são suas mandíbulas que tudo devoram: nenhum golpe de espada, por si, basta para degolar todas as faces.
43           Mares de chamas se abaterão sobre todas as terras durante um tempo, até que o Verminoso passe. A malícia alimenta o estômago desta monstruosidade, torna poderoso o lançador das Sombras.
44           E quem poderá fazer cessar este terror, enquanto não se derrame o vaso de águas claras [N.T. o tempo]? Suportai o quanto for necessário! Estejais prontos a todo momento, até que se cumpra a hora da espada vitoriosa! Somente então os estandartes voarão no vento da tempestade da vitória final, quando a água que flui do vaso inundar o mundo material.

45           Longe está o dia final, longe está a hora da vitória. Nuvens enérgicas fluem de lá, para cuspir seus relâmpagos.

46           Ó Reino da Luz! O navio está se quebrando, apenas destroços chegam à praia do perigo. Recolhidas foram as peças, e guardadas para uma nova obra: o navio da vitória então será. Quando um vento inexplicável soprar as velas – invisível ele virá, através do Sol invisível de Ilu – então será a hora.


7 comentários:

  1. Muiti interessante o seu blog. Parabéns.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado - só o que eu espero deste trabalho é que sirva de luz e esclarecimento, especialmente quando existem tantas partes interessadas em ocultar, distorcer ou supersimplificar a História e o pensamento dos Cátaros.

      Excluir

  2. "(...) Isais, Isaria ou Istara." Sim, de cara me lembrou Inanna Ishtar.

    "(...) uma pedra, negra com brilho lilás (...)" Me lembrou algo como a pedra negra de Papan, descrita na H. S. da Thulegesellschaft.

    Grato por essa postagem, camarada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Os nomes da Valquíria lembram, ainda, Ostara ou a princesa Isa, da história de Nimrod. Derivações linguísticas de uma mesma entidade? ;)

      A pedra a que eles se referem bate com a descrição que LFM dá do próprio Gral, que é representado SIMBOLICAMENTE pelo arquétipo do Cálice, mas que na realidade é uma pedra, de fora do universo, com a runa de ouro gravada nela. A propriedade energética que a pedra propaga, e as propriedades alquímicas do Cálice, coincidem, por isso a confusão que vários povos fizeram...

      Excluir
  3. Parabéns pela iniciativa. Esta obra nos é muito preciosa!

    ResponderExcluir
  4. Saudações Bruno, muito bom este blog, estou aguardando a continuação deste post.

    ResponderExcluir
  5. Caro autor do texto, como posso iniciar-me para libertar esse espirito ? E qual os perigos ? Grato

    ResponderExcluir