La Montagne

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Fechados contra o Mundo e seu Rei, Espírito contra Matéria!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A REVELAÇÃO DAS QUINZE PÉROLAS DO CATARISMO [5/5]


A REVELAÇÃO DAS QUINZE PÉROLAS DO CATARISMO [5/5]
Valores latentes e Orientação Espiritual






Tiago disse, "Mestre, se eles se armam contra você, então não podem culpá-lo por erguer a espada da sua boca contra eles.

"Com sabedoria, assim, você veio: Para repreender fantasmas desmemoriados.
Com lembranças você prova o teu valor e, deste modo, reprova estes hospedeiros teimosos.'

"Mas eu estava preocupado por sua causa!

" 'Pois você desceu para dentro da ignorância da morte ,e mesmo assim a ignorância não te pegou, nem emboscou,
Pois você desce para a insensatez e risco, e o risco é conquistado, lembranças partilhadas.

" 'Você anda pelo lodo; suas vestimentas não se sujam, nenhum joelho dobrado te rendeu à lama imunda;
Assim, hebdômadas e alturas de céus você destrói, misteriosamente invisíveis, na decomposição do erro.' "

Ele me respondeu, "E eu não era como eles, mas eu me vesti com tudo que era deles.

" 'Há em mim um grande esquecimento por todos os costumes de Beliel e os assuntos dele.
Embora o que esteja perdido seja porém uma ninharia a menos: pois eu lembro de presentes que não são deles.

A distração da mente em horas malvadas liberta, quando no meio deles, poderes inquietantes.' "

(I Apocalipse de Tiago)

O Mito do Kristos da Luz Não Criada – “mito” não significa história, conto, ficção; Mito significa uma trama psíquica organizada e passível de ser reproduzida, consistente com a pregação Cátara que convida todos a se tornarem Kristos – revela seu poder no fato de que a Pureza real, advinda do Pleroma que é nossa realidade esquecida, é incorruptível, e que no embate com o impuro (pelo fato da impureza ser transiência, e a pureza, eternidade) a impureza é destruída, não importa quanto tempo leve, pelo mero contato com algo puro.

Isto significa, necessariamente,que a corrupção que presenciamos em tudo no mundo, e que gera no Cátaro uma reação de nojo e repulsa à existência mundana, não é e não tem nenhuma possibilidade de atingir o tecido,o material, que compõe o Espírito. Conclusão lógica: todos os que possuem em si o Espírito Eterno, mesmo privado de sua Epinoia, não estão corrompidos, mas meramente alienados de si mesmos.

Noções cristãs como o pecado e seus desdobramentos (a confissão, a remissão dos pecados, os Sacramentos como instrumentos de remissão,o julgamento) são simplesmente absurdas para o Catarismo, que vê no lugar de “pecado” a modelagem adaptativa de Jehova-Satanas, basicamente uma distorção do processo cognitivo que nos conduz continuamente a mitos (estruturas e mecanismos psíquicos) agônicos e trágicos, gerando sofrimento para nós e para os outros.

Se existe, então, uma dupla determinação psíquica, a da Alma mortal (substância da psique) criada por Jehova para modelar nosso comportamento no mundo, e a do Espírito Eterno que está extraviado, enganado, e cujos pálidos reflexos vitais se podem ver na Esfera de Consciência, é também possível separar os fenômenos mentais de forma dualista: a desorientação ou erro, e a orientação espiritual, que se reflete na forma de valores e atitudes éticas latentes.

Tais atitudes podem ser diversas e inclusive podem parecer opostas, vindas de pessoas diferentes, mas julgar atitudes éticas externamente à nossa própria mente é extremamente arriscado, pois provavelmente não será possível compreender o pensamento profundo de cada um. De forma geral, existirão premissas conducentes comuns que são caracteristicamente espirituais, e estas constituirão, para o buscador do Espírito, as três primeiras pérolas ou tesouros psicológicos que ele encontrará na sua busca pelo Pleroma.

PUREZA


Já foi dito de forma exaustiva que o Catarismo é a práxis da Catharsis, da Purificação do Eu. O que seria, no entanto, purificação – o que é impuro, o que é falso e o que é verdadeiro?

As religiões abraâmicas consideram o ser humano fruto do Pecado Original, e que são seres impuros por natureza, devendo obedecer a séries de leis e normas imperativas para se livrar da sua sujeira essencial. Rejeitamos energicamente essa visão demoníaca da humanidade, que vê no mero existir a continuidade de uma culpa que se transmite de geração em geração, sem remissão nem perdão fora da completa submissão à “Lei” do criador.

Mas se o ser humano é originalmente puro e inocente, agindo de forma demoníaca e gerando sofrimento por desinformação e confusão psíquica imposta por forças superiores (processo que chamamos modelagem adaptativa) – resta definir o que é a impureza da qual se livra pela Catharsis.

O universo da matéria e energia foi criado pelo Arconte chefe, Jehova-Satanas, e seus aliados nos mais altos tronos da criação, como uma espécie de experimento, o qual suas criaturas devem descobrir, nomear, encantar-se e render graças eternas pela comoção das descobertas contínuas. A forma mais pungente e intensa de interagir com a Obra é pelos sentimentos mais intensos: a paixão e o sofrimento. Por isso, a lei da vida é o sofrimento, e se obtém o sofrimento dos entes através da transiência: a eterna mortificação e retransformação de todo o existente, onde cada forma deve perecer para benefício não próprio, mas do sistema geral.

Mesmo dentro do período de vida de um ente, este morre muitas vezes, e amarga perdas, dores, doenças e diversos outros “males” – formas atualizadas de garantir a contínua transiência e efemeridade das coisas – que lhe arrancam dor, porque o Espírito tem a memória do Pleroma, da plenitude eterna daquilo que é essencial e imutável. Da tensão agônica entre essa memória do Eterno e a mortificação constante daquilo que os seres encarnados aprendem a amar, o Arconte chefe se alimenta e se deleita, pois o sofrimento é a forma mais extrema de transferir energia dos entes para o todo, para a “natureza” que é parte dele mesmo. Através do sofrimento, os Espíritos são parasitados pelo seu carcereiro. E os sacerdotes do carcereiro, com seu conceito de pecado,mantêm as pessoas presas na teia da aranha que sorve lentamente sua vida, sua alegria, seu Espírito. Imbuído de Pureza nobre e espiritual, escreveu Dietrich Von Bern:

Por muito tempo foi um enigma para mim
Como poderia a Natureza suportá-los em seu seio.
Quando eu era apenas uma criança, já os evitava,
A vós, os corruptos. Meu coração infinitamente piedoso,
Que é incorruptível, intimamente amável se aderiu
Ao Sol, ao Éter e aos grandes mensageiros
Da grande, largamente pressentida Natureza;
Porque bem senti em meu temor
Que o livre amor dos deuses de bom coração
Discutir desejais, para serviço comum.
E que eu o executei como vós.
Ide embora! Não posso ver diante mim um homem
Que o Divino trata como uma indústria,
Seu rosto é falso, frio e morto,
Como seus Deuses são. Que os surpreende...
Ide-vos agora!

A impureza que devemos eliminar de nós mesmos diz respeito justamente à transiência, à transitoriedade dos entes, ideias e paixões mundanas. A iluminação do Buddha, que resistiu a uma procissão de entidades (físicas, eidéticas e psíquicas), celestiais e infernais, com suprema impassibilidade e indiferença, e a determinação implacável de Parsifal em sua busca do Gral, significam o mesmo Nirvana (extinção dos sentidos) ou Catharsis (purificação do mundano), o ideal Cátaro de “despir o manto de carne” e manter uma orientação ou equilíbrio voltado ao Pleroma, ao que é fixo e imutável em Si Mesmo, a semente do Espírito Eterno.

Isto tem uma relação biunívoca com o conceito seguinte, que lhe é complementar.


AMORT


Diziam os Cátaros medievais que Amor era o exato oposto, uma contra-via, de Roma: alcançava-se Amor afastando-se de Roma, e vice-versa. Otto Rahn notou isto graciosamente em seu “diálogo” com Fausto: “lá se é orgulhoso, e não vaidoso como em Roma. [...] melhor a companhia de um portador de Luz do que um sumidouro de Luz, ou espelho quebrado que destila sangue.”

Os Trovadores descreveram o Amor de uma forma que até hoje o mundo não compreende. A neurose que vive o mundo moderno, onde se busca um “amor” romântico idílico e perfeito (gerando apenas decepção e rejeições injustas), é um efeito colateral não desejado do Catarismo medieval, pela compreensão incompleta que as pessoas tiveram da noção de Amor, ou AMORT: o Amor-Morte, ou imortalidade pelo Amor.

Isto deve ser entendido de forma bem específica para evitar as confusões que se fizeram acumular nos últimos setecentos anos.

Existe em cada ente encarnado uma dualidade especular, e cada ente (físico ou eidético) manifesto no mundo da matéria, existe um oposto,e da síntese destes opostos se recupera o Arquétipo astral, o ente completo que existia antes de ser quebrado ao meio e projetado na Matéria física. O que significa que todas as coisas e ideias existentes são metades separadas por um espelho invisível: começando pela mente, ou microcosmo, que é um reflexo (portanto, uma cópia invertida) do macrocosmo, ou mundo exterior aos sentidos.

O homem moderno lê os trovadores cátaros – Jaufre Rudel, por exemplo, e interpretam seus poemas, “Lanquam li Jorn”, por exemplo, como um amor incontrolável por uma mulher distante. Neste poema, ele conta a história da Condessa de Tripoli, por quem um alfaiate cego da Provença se apaixonou pelos relatos que os cruzados contavam de sua beleza, e cego de amor, saiu tateando estrada afora em eterna peregrinação pela Amada distante.

Johann Bereslavsky escreve, “Os Cátaros eram um amor demente...”, e os simplórios crerão que se trata de um amor platônico pela mulher idealizada, ou um amor místico por Deus à maneira de Sâo João da Cruz. Ambas as visões são erradas, e se predominam entre os historiadores e literatos, é porque os Cátaros foram extintos e não puderam propagar o conhecimento esotérico por trás das Trovas de Amor.

Se tomada isoladamente, a Via Patibilis – a morte em vida, o morrer para o mundano – pode parecer um desejo de extinção,de não existência, porque falta o outro lado: o Cátaro deseja morrer para as coisas desta vida e deste mundo não por apatia ou derrotismo, mas porque sua mente está tomada de Amor pela Sagrada Epinoia, pela dama distante Minne que é o nosso complemento essencial que não está neste mundo nem nesta vida.

Esta é a via do Amor-Morte, ou AMORT, antigo Mysterium atlante onde as duas forças em combinação sincrônica produzem um impulso psíquico irresistível, que lança o Cátaro em sua busca demente pela Amada perdida, a sua Minne que canta para ele desde fora da prisão material. Como dois dançarinos no gelo que se empurram mutuamente para gerar o dobro do impulso, a mortificação psíquica reduz gradualmente a esfera de ação do sofrimento cercando e isolando a Consciência dos sentidos físicos, enquanto o Amor pela amada distante alimenta o desejo de escape da Matéria e de guerra contra os Arcontes, sendo uma via conducente à transcendência e à libertação espiritual.

Dizia Nietzsche: “A fórmula da nossa felicidade: uma reta, uma seta, uma meta”. Isto é Amort, a pulsão consciente que nos isola do mundo ao mesmo tempo que fortalece nossa Vontade através da sagrada nostalgia por Epinoia.

A força interior libertada por Amort é terrível e nem os Arcontes podem pará-la. Uma vez que o isolamento da consciência abre a via conducente da libertação, o “único olho de Wothan” (direção única e irrevogável, como a flecha de Saggitarius), nada no universo conseguirá parar o buscador nem amolecer sua Vontade absoluta. Aqueles homens enganadoramente frágeis, ascetas ou “enlouquecidos” de amor, longes em tudo do arquétipo físico do herói ou do guerreiro, travaram uma guerra interior com uma força e uma determinação que impunha medo aos demônios do grande arquiteto, que gritam de pavor cada vez que um morto-em-vida resiste impassível a todas as suas tentações e não detém seu avanço furioso rumo à saída.


INOCÊNCIA


O Cátaro rejeita os sacramentos por causa da crença na inocência perene do Espírito. Porém, como todos os termos importantes, é necessário recuperar do tempo decadente uma explicação mais completa, e menos simplória, do que significa ser inocente, como Parsifal.

Uma boa aproximação inicial é a carta do Tarot representando o primeiro Arcano, o Louco. Os Arcanos do Tarot representam conexões ou caminhos entre os dez Sephirah (aspectos de manifestação de Jehova-Satanas) que compõem a Árvore do Terror onde Wothan (manifestação atlante do Kristos) se pendurou para buscar o segredo da Morte, capaz de vencê-la. São mecanismos kármicos, as vias dramáticas que a alma transita em seu giro atormentado pelos ciclos da existência material.

Mas o Louco é especial. No limiar entre o fim e o início do ciclo, entre o vivo e o morto, coincide com o Ascendente astrológico, ou com a simbologia do Sol nascente, representando sempre o lusco-fusco entre um karma (ou uma vida) que está se exaurindo, se extinguindo, e a ânsia pelo recomeço, que é o estado que mais aproxima a psique de um estado de plenipotência: tudo é possível, a jornada se inicia; a vida anterior fica guardada como sabedoria acumulada, e uma nova se inicia aqui e agora. Por isso, o Louco pode representar um reinício kármico, ou uma iniciação espiritual.

Mais do que isso, o Louco, dentre todos os caminhos da árvore do terror, é o menos carregado de dramas internos e agonia, porque todo o sofrimento passado foi consolidado como sabedoria e espera-se o futuro de forma alerta, mas neutra: sem ilusões de expectativa, ou neurose pelo futuro. Neutralizada a expectativa do futuro que prende a psique no tempo, ele caminhará na senda única do Amort, e nenhuma outra consideração racional ou sensorial o fará parar ou mudar de ideia: tal é a Inocência do Espírito, que desconhece,ou melhor, ignora, o que não conduz ao reencontro com a Amada perdida.

 O Louco é a porta de entrada e de saída da Ilusão, e através da Catharsis o Cátaro buscará a cada instante psicológico regredir a este estado primordial de sabedoria e neutralidade, fonte de foco e vontade: essa é a inocência de Parsifal, o Cavaleiro perfeito, buscador do Graal que, impulsionado por Amort, vagou em busca do Gral sem deixar quaisquer preocupações – do corpo, da mente, do mundo – revogarem a decisão firme da sua Vontade. Isto chamamos inocência porque as ilusões de bem e mal do mundo são ignoradas, e o cavaleiro errante saberá sabiamente transitar entre o luminoso e o obscuro, conforme a necessidade imperar, com o olho fixo no Pleroma e n’Aquela que o aguarda ali. Um tal inocente jamais será um moralista, pois a única moral é a Vontade, o único Bem é vencer a guerra contra o Demiurgo maldito em nome da cessação do sofrimento de todos os seres sencientes. O resto – espelhos e máscaras.

O buscador que encontrará, eventualmente, uma resposta espiritual no Catarismo, demonstrará tacitamente em suas atitudes a nostalgia de Amort, a Inocência e Pureza do Espírito, em grau cada vez mais forte quanto mais avançar no processo de catarse. Estas três pérolas são o princípio e o final da Via Cátara, pois representam o fim da vida mundana e o início da via de regresso. Não importará a partir deste momento crucial o que quer que se tenha de desejos e medos, mas todo o “manto de carne” – e de psique – será gradualmente abandonado como os peregrinos que acabam por deixar no caminho a maior parte dos seus pertences – roupas, itens de conforto, calçados extras, latas e outras quinquilharias -  que se tornam nada mais que um peso que atrasa sua chegada ao solo santo.

Tais peregrinos resolutos, irreprimíveis, envoltos na névoa dos ares astrais e indiferentes ao mundo da carne e seu destino, subitamente libertos pela própria peregrinação que sua Vontade empreede, seguem silenciosamente cantando o hino sagrado de todos os que rumam para Montségur e os Castelos do Deus Incognoscível mais além das Estrelas:

O rio corre mais além do Tempo,
Está consagrado o Mistério dos Cavaleiros,
O Hino de Amort soprava sobre os continentes
Nos corações puros e transparentes.

Ó Deus nosso, no Jardim das Divindades,
Envia-me a coroa de puro ouro
Das Perfeições Consagradas!

Ofereça sentar-me à távola da ceia nupcial,
Presente no Cálice dos Cavaleiros do Santo Gral.

Nas terras do Languedoc e Occitanía
Os ungidos se unem em Sagrada Teogamia -
No seio do Fogo de Amort se tornam de fato Perfeitos,
E o Triunfo de Montségur se eleva aos céus!
O Triunfo de Montségur se eleva aos céus!

Vede que o Laurel está verde e renovado:
O Mistério do Consolamentum está consumado.