La Montagne

La Montagne
Fechados contra o Mundo e seu Rei, Espírito contra Matéria!

domingo, 11 de setembro de 2016

A morte por mil cortes

A morte por mil cortes 
(e um ‘mea culpa’ há tempos necessário)



     A ignorância a respeito do Pai trouxe terror e medo. E o terror se tornou denso como uma névoa – ninguém conseguia ver. Por causa disto, o erro se tornou forte. Mas este trabalhava em vão sua substância hílica, porque desconhecia a Verdade. O erro foi moldado para preparar, com Poder e Beleza, um simulacro da Verdade. Isto, então, não foi uma humilhação para Ele, que é ilimitado e inconcebível. Pois eles eram como o nada, esse terror e esse esquecimento e esta figura de falsidade, enquanto a Verdade estabelecida é imutável, jamais perturbada e completamente bela.
     Por esta razão, não leve o erro a sério demais. Pois este, não tendo raíz, não é mais do que uma névoa para o Pai, engajada em criar medo e esquecimento para enganar aqueles que estão no meio e faze-los cativos. O esquecimento do erro não foi revelado, não se tornou uma luz ao lado do Pai. O esquecimento não existiu a partir Dele, ainda que exista por causa Dele. O que existe no Incognoscível é o conhecimento, que foi revelado para que o esquecimento possa ser destruído e para que eles O conheçam. Uma vez que o esquecimento existe porque eles não conhecem o Pai, a partir do momento em que o conheçam o esquecimento cessará de existir.
(o Evangelho da Verdade)


O Cátaro está em eterna peregrinação rumo a montanhas mais altas e isoladas, e de acordo com um adágio celta, a existência é, em si mesma, uma peregrinação eterna e incessante. No caminho, somos forçados pelo cansaço a deixar, na beira da estrada, todo o supérfluo, todos os adereços artificiais que não pertencem ao Ser: esse trabalho de purificação é o que há de mais difícil e árduo na nossa doutrina, porque a Alma é um animal de hábitos, e quimeras psicológicas não são abandonadas sem oferecer uma resistência violenta ao nosso impulso consciente de purificação.

Essa dificuldade extrema leva o Cátaro ao imperativo da sinceridade extrema – a vontade de ser puro faz com que não temamos ser extremamente abertos em relação a nossas falhas e defeitos, porque não nos apegamos a eles nem os identificamos com nosso próprio ser: todas as falhas e defeitos que possuímos são armadilhas, são deformações impostas pelo Criador que remodelou e amputou nosso Ser Original para que este “coubesse” na Alma limitada que ele criou.

Dito isto, faço um ‘mea culpa’ que há tempos se faz necessário: há mais de dois anos eu venho negligenciando a manutenção desta página, que eu julgo como uma alta prioridade da minha vida espiritual (e que outra vida existe, na verdade?); o que me impediu de escrever e fez cessar minha inspiração por um bom tempo foi, talvez, a mesma armadilha que aflige a vida da maioria das pessoas e impõe obstáculos ao pleno exercício da espiritualidade: a forma como a vida moderna não apenas suga as horas do nosso dia na luta pela sobrevivência frente à instabilidade material da vida, mas ocupa nossa mente com neuroses e medos durante o percurso de todas as vinte e quatro horas.

Gurdjeff dizia que apenas uma pessoa com a vida material estabilizada poderia pensar nas questões da consciência e do espírito de forma desimpedida. Não concordamos com essa noção, porque retomar o espaço psíquico inundado pela neurose da sobrevivência e do medo da pobreza são, especialmente hoje em dia, o front espiritual onde a batalha é mais acirrada e intensa. Não há espiritualidade sem guerra espiritual. E a vida do homem moderno é o padecimento da morte por mil cortes, exatamente como no abate ritual Kosher, onde todo o sangue do animal abatido é drenado por numerosos e profundos cortes: atormentado por milhares de incômodos ao dia, estímulos de baixa intensidade e alta frequência de repetição (pressões no trabalho, meios de sustento eternamente insuficientes, medo do desemprego, medo do fracasso, violências diárias às quais não se pode reagir, pressão para suceder e produzir, e toda uma miríade de mensagens bombardeadas para ensinar a apatia, a desesperança, a obediência, o trabalho como sentido e utilidade da vida), o homem moderno não padece das mesmas dores e agruras físicas do homem primitivo, mas precisa lutar de forma cada vez mais agressiva para libertar espaços dentro da própria psique, para livrar a mente do controle/condicionamento externo, nem que seja por alguns instantes. O objetivo é verter e drenar nossa energia psíquica, volitiva, nosso Sangue Espiritual, em sacrifício e honra ao Príncipe do Mundo, que se regozija no derramamento ritual de sangue.

Nossos irmãos em espírito caíram nos escombros de Montségur, Beziers, Carcassonne e onde quer que homens despertos tenham sido martirizados; mas nos dias de hoje, onde o adversário terrível possui todo o domínio do mundo da matéria, o front retrocedeu e estamos lutando pelo controle de nossa própria mente. E o inimigo veicula a todo o momento, incessantemente, mensagens de desesperança e medo, de desejos inalcançáveis e da ameaça velada da miséria para os que não se submetam. Cabe a cada peregrino encontrar na Origem de Si Mesmo o manancial de força infinita, Graça suprema do Paráclito do Incognoscível, para levar adiante essa luta e libertar nossos castelos interiores, nossa esfera psíquica, do controle da neurose e do medo.

Mea culpa – negligenciei minha missão espiritual, tendo passado dois anos da minha vida sem esquecer um minuto da minha espiritualidade, mas sempre “ocupado demais” com o trabalho, com a falta de dinheiro, com o imperativo de gastar todo o meu tempo livre estudando OU SENÃO eu seria descartado pelo rei-mercado como um inútil... porém, o erro foi revelado, e diante disto, neutralizá-lo e reverter seus efeitos é um imperativo absoluto no processo de Catharsis.

Deixo isto como um exemplo a todos, de que não devemos ser fariseus e fingir que as necessidades da vida material não são um imperativo – afinal, devemos sobreviver para continuar trilhando nosso caminho – mas que basta ceder a um medo, a uma neurose, para que o controle sobre essa vida material seja perdido e sejamos jogados no turbilhão da vida, sem controle sobre os rumos e sobre o tempo que transcorre... devemos ter como alta prioridade, na guerra espiritual, buscar sermos senhores do próprio tempo e do próprio destino, relegando os anseios do corpo e da alma ao seu papel secundário e vivendo sempre sob a ótica imutável da preeminência do Espiritual: o que quer que auxilie na nossa peregrinação Montanha acima, o que se faça necessário para tal, é bem-vindo; o que não auxilie nesse processo, é um excesso descartável e precisa ser neutralizado internamente.


Reafirmo, agora e sempre, meu compromisso com o projeto desta página, na esperança de que possa ser um auxílio para os Buscadores do Espírito eterno, e alerto que o Tempo é um bem que traz mais poder do que o Ouro, nesta vida mortal: não apenas o tempo que transcorre, mas principalmente o Tempo interno, o direcionamento das energias mentais. Purifiquem-se de todos os cancros que sugam a atenção da mente e nos mantém com os olhos internos focados com preocupações e elucubrações deste mundo além do saudável e necessário para a sobrevivência, pois a energia mental desperdiçada é precisamente o análogo astral do sangue físico derramado nos templos do Rei deste Mundo. Falando alquimicamente, apenas o Louco, na neutralidade absoluta do ponto zero, está em condições para entrar, sair ou escapar da Roda incessante das aflições. Tal estado de neutralidade interior absoluta é e sempre será o mais alto objetivo do processo de purificação do qual o Catarismo se encarrega. Portanto, estejam sempre alertas!

Uma revisão dos textos anteriores será feita aos poucos, assim como uma reforma na página e dois textos novos em algum momento nos próximos dois meses.

sábado, 30 de maio de 2015

A Revelação de Isais (Parte 1)



Buscai os lugares, tomai os espaços, aonde quer que a espada do herói seja clamada, aonde quer que a ação corajosa seja necessária. Sabei qual é vosso lugar. Quem hesita, tolera – e quem tolera, permite que prevaleçam as Forças do Inferno.

No período de 1226 a 1238, por doze anos, um grupo de cavaleiros alemães se reunia nas florestas em Ettenberg, na área de Berchtesgaden, em um local onde com frequência uma aparição surgia, na forma de uma dama, que chamava a si mesma Isais, Isaria ou Istara. 

À época, o sul e o oeste da Alemanha sofreram uma influência considerável do movimento cátaro, que embora não tenha firmado raízes, tem boas chances de ter influenciado na mensagem que se produzirá a seguir. Para estes cavaleiros, por exemplo, o Gral é na realidade uma pedra, negra com brilho lilás, de onde brota a luz do Mundo Verdadeiro que inspira o retorno para a Origem. Por causa disto, chamavam a si mesmos "Herren von der Schwarzer Stein" ou HvdSS (Senhores da Pedra Negra).

Durante essas seções mediúnicas com "Isais", ela transmitia mensagens, algumas foram escritas a posteriori por membros do círculo de cavaleiros (cuja importância e desdobramentos são outro assunto, totalmente à parte). As anotações foram, então, traduzidas em 2005 por um grupo que se diz a continuidade do antigo círculo medieval (e que no entanto realiza muitas atividades confusas... mas este também é outro tema). A compilação de mensagens, e alguns outros textos mais modernos, se chama "Wissensbuch der ILU-Lehre" (o Livro da Sabedoria dos ensinamentos de ILU), e pode ser encontrado com alguma dificuldade na internet. A tradução ao português é da autoria do autor deste Blog, com ajuda de outros textos da época para embasar algumas traduções dúbias, ou obscuras.

A mensagem, em si, é e não é familiar ao pensamento que temos reproduzido nesta página: gnóstico em essência, possui uma visão dualista de raiz (o Bem e o Mal se originaram separadamente, e são absolutamente separados) como os gnósticos do Oriente Médio, e juntamente com as influências do cristianismo e do paganismo nórdico, encontramos nomes e histórias com raízes sumérias e babilônicas (o próprio nome Isais é aparentado com Ishtar, a manifestação mais antiga de Epinoia), o que é absolutamente incomum e peculiar para o lugar e a época. 

Para o Catarismo, não existe uma pretensão de ser uma religião única, ou de ser "A verdadeira" - o que algumas religiões denominam deuses e demônios, outras chamam de anjos, guias... diferenças teológicas e mitopoiéticas também podem ser sublimadas como distorções culturais de uma verdade que brota do íntimo: a verdade de que somos estrangeiros, presos neste mundo contra nossa vontade, por um deus sanguinário ao qual declaramos guerra para conquistar o retorno ao lar. Qualquer doutrina que reconheça esta verdade, ou qualquer pessoa que o sinta, serão para nós irmãos e camaradas. Este texto prova isto: que a verdade do aprisionamento espiritual não é uma doutrina, uma idéia, mas um sentimento, uma GNOSIS no sentido mais puro de 'Nous', que tomou várias traduções culturais por quem a tentou expressar. 

E é muito interessante ver uma manifestação da Gnosis fora da "rota" histórica, nascida espontaneamente no centro da Europa, reforçando de que realmente se trata de uma memória ancestral acessada por aqueles que não são deste mundo. Uma visão menos influenciada pelo cristianismo, e muito mais beligerante, provando que o Catarismo não é a religião de "tolerância" irrestrita como os reconstrucionistas modernos querem pintar.

O texto será dividido em três partes; a primeira relatando a criação e a hostilidade essencial entre espírito e matéria; a segunda tratará da Pedra do Gral; a terceira, da descida de Isais ao Inferno-prisão deste mundo para recuperar tal Pedra. Segue a primeira parte:

A REVELAÇÃO DE ISAIS



A verdade eu vos falo -  para que ouçam. Imagens eu lhes mostro, para a sua visão; discorro sobre um conhecimento e uma sabedoria que a tudo abarcam, desde o pré-início até o fim do fim,  

2                E não falo em parábola ou em mistérios, minha palavra não é confusa, mas falo claramente sobre o que foi, o que é e o que pode vir a ser;
3                Seres humanos, aqui presos à Terra, que seguem a Morte – e são, ainda assim, imortais; Filhos das Estrelas, vindos dos céus, mais velhos do que este mundo;
4                Filhos das forças da Luz e Filhas do Brilho, habitantes dos altos céus, perdidos nas Trevas; seres de Luz que caminham nas Sombras; Eternos, mas não livres da Morte;
5                Andarilhos sobre os cumes dos mundos, recém-nascidos deste lado – por mais tempo pertenceram eles ao outro lado. Filhos de Deuses, mas sem a semelhança divina. E mais isto pode-se dizer sobre os homens: antiga é vossa raça, jovem o vosso mundo.
6                O Espírito do homem não é nascido, mas está lá desde antes do Princípio – e ali estará até depois do Fim.
7                Antes do princípio, existia tudo aquilo que pertence à Eternidade perene; não havia espaço, ou tempo. Sem consciência nem vida, as essências ali permaneciam, até que o Pai de Todos criou, para elas, tempo mensurável e espaço transitável: os mundos eternos celestiais.
8                Ali se projetaram as sementes de todos os seres; a Eternidade assim foi criada a partir da pré-eternidade, e o Princípio se fez.
9                Ali se projetou o Pai para cuidar de seus seres, lhes preencher com vitalidade, insufla-los com força, inspirar-lhes o Espírito. Os mundos celestiais então despertaram em vida e atividade. Os seres reconheceram uns aos outros de acordo com seu tipo:
10           Haviam aqueles, que mais tarde se tornariam homens; haviam outros, que se tornariam depois como animais; haviam alguns como as plantas que crescem do solo; e haviam espíritos demoníacos.
11           E nada era como hoje se conhece na terra, lá nos mundos celestiais que ainda não haviam sido corrompidos: tudo era similar e não-similar ao mesmo tempo.
12           Verdadeiramente nasceu nos Céus, tudo aquilo que hoje se arrasta na terra, e esteve uma vez sob a Luz do Pai, aquilo que hoje vaga em uma busca incessante na escuridão, doente e sem destino.
13           Então um senhor das sombras se apossou dos mundos celestiais, para desafiar o Pai Celeste. Um Reino das Sombras criou este Senhor sombrio, longe do Céu, nas profundezas obscuras do Inferno.
14           Um vazio infinito se estende no meio – ninguém poderia se situar ali.
15           No meio deste vazio, entre as Trevas e a Luz, Espíritos poderosos construíram o Valhalla. Ali vivem os melhores filhos do Pai, Deusas gentis e corajosos Deuses.
16           Desde então, existe Guerra incessante entre Valhalla e o Inferno.
17           Mas inúmeros seres caíram dos Céus. Sem saber o que faziam, queriam espiar a fronteira do Inferno. Mais tarde, desses seres foi moldado o Homem.
18           Todos os que caíram se tornaram inconscientes, esqueceram seus nomes, esqueceram tudo o que aconteceu.
19           Para estes caídos, o Pai de Todos criou um novo plano: reinados neste mundo, sob o firmamento das Estrelas; com isto se tornou possível um segundo nascimento das multidões perdidas, e lhes foi oferecida uma Via até a morte terrena, e a partir dali um portal para retornar ao Lar.  
20           Longas pontes para os outros mundos estendeu o Pai, para uso de toda a humanidade caída; pontes para um retorno feliz para casa.
21           Eu lhes darei a conhecer estes mundos, plenos, criados pelo Pai: acima de todos, o Reino dos Céus e sua Luz eterna, o lar original de todos os seres.
22           Os grandes campos que a tudo englobam eu nomeio a seguir – nenhum plano existe, fora destes campos, deste ou daquele lado do Grande Espelho, que é o nome da fronteira entre este e aquele lado. O Inferno está ali, o obscuro e terrível: sangue fervente, repulsa e tormento infindáveis. Em meio aos campos infindáveis, se situa o Valhalla; fortes muralhas, e um imponente castelo.
23           Também o mundo de cá se situa nestes campos, com a Terra e seu firmamento estrelado.
24           Igualmente se estendem pelos vários mundos arcos de muitas cores, desde os Céus até as proximidades do Inferno. Numerosos são os mundos ali, para as pessoas vagarem depois da morte terrena.
25           Nos confins dos campos, a uma distância inenarrável, um Reino não familiar: o portal cinzento dos demônios; um local aterrorizante, mas completamente silencioso.
26           Existem nos campos muitos mundos do sono –
27           E também o silente vale dos afogados. Os habitantes da Terra vêm dali, para vagar o mundo até conseguir sua libertação e o retorno para casa.
28           A verdade, eu digo, conhecimento e Sabedoria, queiram aprender a Via que lhes ensino com claras palavras: no Reino dos Céus vive o Pai de Todos, com aqueles que lhe são leais. No Inferno, entretanto, mora o sinistro Príncipe das Sombras, o rejeitado, o desolador: Shaddai é o seu nome. No Valhalla, os heróis serenos governam, os Deuses com suas Esposas.
29           Estes receberam com hospitalidade Istara, Mensageira do Pai Eterno. Das portas do Valhalla entram e saem a todo momento os Einherjar, os duplamente imortais. Muitos destes eu tenho por irmãos e irmãs.
30           Neste mundo permanecem todos os homens, com os animais e plantas, para vagar sobre a terra. O Outro Mundo se abre e estende, após a morte terrena, um caminho para o retorno ao Reino Celeste; ali, todos escolhem seu caminho.  

31           Nos Campos Exteriores todas as essências se encontram: boas e más, de todos os tipos. Isais, quem vos ensina, opera desde ali.
32           À noite, durante o sono, seus Espíritos frequentemente deixam o corpo, para vagar pelos mundos do sono. Muitos encontros acontecem ali, fora do Tempo.

33           Também à luz do dia o Espírito, por vezes, busca alçar às alturas. Vibrações do além gostam de se comunicar com ele, para dar mensagens e conselhos. Eu os advirto, no entanto: com frequência, os conselhos são falsos.
34           Atentai-vos, ó homens, ó nascidos da Terra! E vede: não é aqui, a vossa origem. Escutai! A verdade eu vos digo, e ofereço conselho em clara voz.
35           A dança das guerras segue incessante ao longo das eras, desde que Schaddai declarou Guerra ao verdadeiro Deus. Buscai os lugares, tomai os espaços, aonde quer que a espada do herói seja clamada, aonde quer que a ação corajosa seja necessária.
36           Sabei qual é vosso lugar. Quem hesita, tolera – e quem tolera, permite que prevaleçam as Forças do Inferno.
37           Sede gentis e delicados com os de natureza gentil e delicada, mas lancem gritos de batalha contra os maus. Conheçam a hora certa para o amor, assim como para a hora das lanças.
38           Tende compaixão com os que agem acossados pelo desespero – mas guardem um olhar duro e hostil contra os que exploram o sofrimento daqueles.
39           Avançai para a luta sem demora, aonde quer que as nuvens sombrias se estendam. Sede guerreiros aonde o clamor da guerra prevaleça, guardem vossa amabilidade para o reduto do lar.
40           Dividido em dois é todo aquele que vaga pela terra, como claro é o dia e escura é a noite, e não lhe é possível assumir apenas uma das duas naturezas.
41           A verdade vos digo, e conselho vos ofereço; mostro-lhes como a realidade é: Schaddai ronda pelos países e terras do mundo, pelos mares e cavernas, desertos e florestas, colinas e montanhas. Ele traz consigo as fontes do tormento, e traga o sangue que escorre da história das nações, consagrando a si mesmo, com isto, “Deus”.

42           Com muitas faces sorri o Maligno de todos os cantos da terra simultaneamente, multíplices são suas mandíbulas que tudo devoram: nenhum golpe de espada, por si, basta para degolar todas as faces.
43           Mares de chamas se abaterão sobre todas as terras durante um tempo, até que o Verminoso passe. A malícia alimenta o estômago desta monstruosidade, torna poderoso o lançador das Sombras.
44           E quem poderá fazer cessar este terror, enquanto não se derrame o vaso de águas claras [N.T. o tempo]? Suportai o quanto for necessário! Estejais prontos a todo momento, até que se cumpra a hora da espada vitoriosa! Somente então os estandartes voarão no vento da tempestade da vitória final, quando a água que flui do vaso inundar o mundo material.

45           Longe está o dia final, longe está a hora da vitória. Nuvens enérgicas fluem de lá, para cuspir seus relâmpagos.

46           Ó Reino da Luz! O navio está se quebrando, apenas destroços chegam à praia do perigo. Recolhidas foram as peças, e guardadas para uma nova obra: o navio da vitória então será. Quando um vento inexplicável soprar as velas – invisível ele virá, através do Sol invisível de Ilu – então será a hora.


domingo, 3 de maio de 2015

Responsabilidade Individual

“Erguei e despertai os que dormem. Pois vós sois o Entendimento que encoraja. Se os fortes seguirem este caminho, serão ainda mais fortes. Voltem vossa atenção para vós mesmos. Não vos preocupeis com outras coisas, isto é, as que vós já lançastes fora de si mesmos, as que vós descartastes. Não retorneis a comer delas novamente. Não vos tornei rotos. Não sejais corrompidos, pois isto já lançastes fora de si mesmos. Não sejais uma morada para o demônio, que vós já haveis destruído.”
(d’O Evangelho da Verdade)



Surgido da reação espontânea, popular, à pregação dos Bogomilos, o Catarismo mantém como valores incontestáveis ideias que eram naturais para as antigas religiões europeias. Em relação à atitude do homem frente ao Divino, temos um degradée do extremo oriente ao extremo ocidente, de uma mentalidade de completa absorção do homem no Divino (o homem como peça no maquinário do Cosmos, Soto-Zen, o sagrado está dissolvido em todo o manifesto que é ilusório mas por isso mesmo reafirmado em sua completa des-individuação panteística) até o mito de Prometheus no mundo helênico, onde o homem conquista violentamente a Divindade para si, contra a vontade de Deuses caprichosos.

No meio do espectro, o oriente médio tentou compreender a “Lei de Deus”, ora pelo mecanicismo da Astrologia, ora pelo cumprimento de obrigações rituais, e nisto está o povo hebreu que originou e disseminou o “cristianismo” que conhecemos hoje – uma religião legalista, dogmática material, que clama que o homem não deve buscar senão a obediência à Lei escrita e à vontade dos sacerdotes e interpretadores de tal Lei.

A mentalidade européia, com sua ênfase absoluta na atitude individual e na tomada de decisões, via tal submissão da Vontade ao dogma como algo essencialmente estrangeiro, estranho... quando os Bogomilos, vindos do sudeste europeu, vieram na direção de Albi, ensinando que o mundo é um campo de batalha polarizado no qual nossas decisões influenciam na batalha, instigando as pessoas a quebrarem o grilhão da culpa do “pecado” e tomarem para si suas vidas e a responsabilidade sobre sua libertação ou morte eterna, o monopólio sacerdotal das interpretações caiu por terra e a ideia alienígena de obediência dogmática, legal, a um código escrito foi completamente repudiada.

Isto parece um regresso a uma série de questões que oito séculos de teologia dogmática, desde os primeiros concílios, tencionavam ter já resolvidas. O que é a Lei? Quem pode interpretá-la? Quão fixas ou irrevogáveis são suas fontes? Qual o papel do homem na busca pela divinização, o de agente ativo ou passivo? E acima de tudo: quão responsável é o homem sobre suas ações, e como ele responderá por elas?

Se uma teologia material, dogmática havia sido estabelecida e consolidada cultural e politicamente em séculos de ação repressora das igrejas institucionalizadas de Roma e Bizâncio, a pregação dos grupos gnósticos desfez tal solidez como um castelo de cartas, dando início a uma perseguição violenta.

Como já foi visto em outros textos que eu selecionei, nos textos gnósticos os homens e mulheres espirituais vivem o martírio não como uma injustiça sofrida passivamente, ou uma penitência auto-imposta, mas como o resultado inexorável de uma ação de guerra: Noria destruiu com um sopro de fogo a primeira arca de Noé, servo de Yaldabaoth; quase foi violentada pelo mesmo, e foi salva pela intercessão divina de Barbelo, Quem fala pela voz da Epinoia. Sophia sofreu o aprisionamento e foi sugada quase à exaustão pelo monstro que gerou, mas combateu sua arrogância desmedida e o apavorou com uma pequena mostra da Luz inenarrável que existe nos altos Céus.

Isto sem contar o Cavaleiro cátaro mencionado por Rahn que, frente à inquisição dominicana que o tentava a adorar a cruz para poupar sua vida e evitar morrer emparedado, respondeu em alta voz, e várias vezes, que jamais aceitaria ser “salvo” por tal signo.

Não se deve entender com isso que os Cátaros eram derrotistas suicidas, que pulavam de bom grado nas fogueiras de qualquer algoz para garantir um ticket para o Expresso Pleroma. A quase veneração pelo Martírio espiritual não significa que creiamos na salvação pela morte em batalha – simplesmente não existe salvação! Existe um esforço ativo e sincero de, sabendo-se estrangeiro no mundo, e sentindo com o instinto mais profundo o terror da existência material, declarar guerra a todos os que sustentam tal criação hedionda e rebelar-se de todas as formas possíveis: o que quer que aconteça, a partir dessa decisão plenamente consciente, não será nem graças a deuses nem por culpa de demônios.

O Teogamita, o homem que fez votos de purificação (reorientação gnóstica) contínua, o galhardo cavaleiro que, montando seu Eu animal, declara guerra sem piedade ao Rei do Mundo, assume responsabilidade pessoal absoluta por voluntariar-se para a guerra mais antiga do Cosmos, e a última a terminar: quão desprezível e digno de pena será, para ele, o homem que lota os templos de Jehova para pedir curas e favores materiais! Quão imundo, em sua visão, aquele homem que só sabe pedir, e que atribui a Deus suas vitórias, e ao Demônio seus vícios e fracassos. Vitórias e derrotas, virtudes e vícios, o Teogamita os assumirá para si na íntegra, e ao invés de pedir aos deuses, buscará ajudá-los no esforço de libertar toda a humanidade espiritual.

Sim, existem orações no Catarismo, e nos comunicamos tanto com os guias que os antigos conheceram como “Deuses” ou “Anjos”, quanto com o Deus Incognoscível, cuja paraclese divina pedimos sempre que nos faltam forças para o combate – porque somente o Paráclito do Incognoscível pode conceder a graça de uma energia interna infindável, que se renova com a fúria e o exercício da volição espiritual. Isto, porém, é tudo – pede-se orientação, ou forças para fazer o necessário. Nunca pedimos favores materiais, nunca pedimos que o fardo da guerra nos seja aliviado (pois que mérito haveria se não nos fosse dado sermos tentados e atribulados por Jehova-Satanas?), porque a decisão de lutar contra o Rei do Mundo é íntima, e tão essencial em nós que não é possível mentir ou ignorar a decisão por muito tempo.

Nietzsche alertava que era necessário ter o “direito” à liberdade. Isto é, todos querem ser “livres”, porém deve-se indagar ao rebelde-em-potencial, para que ele quer ser livre – para quê, afinal de contas? Muito poucos saberão objetivamente responder porque almejam a liberdade (que não é a ausência de grilhões, mas a mais pesada das contenções que é assumir a responsabilidade integral por toda a sua existência) e tampouco sabem o que fazer com ela. A verdadeira liberdade, e portanto o hábito de assumir a tudo e a todos para si, vem apenas da nobreza de sangue herdada por aqueles que sabem, no fundo silencioso de seu ser mais profundo e adormecido, que são estrangeiros neste mundo.

Por essa razão, os Cátaros rejeitavam o batismo e a extrema unção: o Amor incondicional que existe entre os Espíritos eternos e seu Deus incognoscível nunca poderia conceber algo como “entregar-se nas mãos de Deus”, ou seja, lançar-se passivamente e deixar-se ser guiado, atribuindo todos os fatos da vida a Ele; exige ao contrário a busca ativa, volitiva, da Divinização pela Catarse, exige o domínio da alquimia que transforma a Última Gota de sangue na Luz Imaterial que o Cálice derrama. Exige dar tudo de si, com sinceridade de intenção, e não implorar favores aos Guias que tem a seus camaradas em auto-estima, e jamais cobrariam prostração ou subserviência.

Assim como os antigos nórdicos, que consideravam uma indecência prostrar-se ou portar-se perante seus Deuses com atitude de fraqueza, portamo-nos perante o Deus Verdadeiro como Parsifal - nu, com completa sinceridade em relação às próprias virtudes e defeitos (afinal, o farisaísmo impede que o indivíduo se lance contra os próprios defeitos, porque não os encara). Se pedimos ajuda aos Éons que lutam por nossa libertação, não os estorvamos com pedidos de uma vida mais leve, mas pedimos força para levar adiante o embate espiritual, E para nossos camaradas prisioneiros, tentamos fazer de nossas ações um exemplo, sem negar que, enquanto prisioneiros da carne, temos vícios e falhas, mas nunca os justificando ou aceitando.

Hoje em dia, existe uma ênfase muito forte em colocar o Catarismo como uma religião de tolerância universal e bondade irrestrita. A segunda parte é verídica, desde que entendida direito: a Bondade suprema é combater tudo o que gera sofrimento, o que implica em, muitas vezes, lutar e ferir os agentes das sombras e aqueles preguiçosos demais para enxergar a verdade. Porém, se somos livres de dogmas e morais, porque realmente não importa para a Eternidade o que se fez ou deixou de fazer na vida encarnada, cobramos uma sinceridade e uma retidão absolutas no professo desejo de libertação espiritual, e daqueles que almejam recuperar sua Perfeição, cobramos que seus atos reflitam espontaneamente a Paratge - a galhardia de Kristos Luz - e que tomem absoluto controle de suas vidas, como deuses que são.


Esta reflexão foi inspirada nas palavras de um diário de um russo morto na revolução de 1917, cuja pureza de sangue gerou nele uma epifania que o aproximou muito ao pensamento que nós possuímos. Disponho, logo abaixo, de trechos da carta:

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Das notas de um amigo assassinado, 8/11/1917.

“Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Romanos VIII:26)

Esta noite antes da minha decisão, eu nunca vou esquecer. Está claro que o país está à beira do abismo, e que as pessoas não conseguem entender ou se opor a essa tentação. Nós, os sóbrios e leais, somos poucos, e coagidos a lutar até o fim. Eu tive de decidir, e a tragédia da vida se desenrolou frente aos meus olhos pela primeira vez.Eu vi, e vejo, tragédia no fato de que, na vida, não existe resultado que aplaque a consciência, e a própria vida demanda decisões e ação. E quanto mais valorosa e sagrada a causa pela qual você luta, menos visível é o caminho à frente, e mais irreparáveis as consequências das decisões, que são mais difíceis também.Por aqui, vilões se ergueram, homens de uma composição espiritual ainda inédita na terra, possuídos, selvagens e despudorados. O povo confia neles como criancinhas confiariam – e de uma forma apaixonada como um adulto imaturo. Eu vejo as tentações, a infâmia que avança, o colapso inexorável, e meu coração se toma de amor e comiseração. Mas eu não consigo DEIXAR DE VER que a luta será sangrenta e impiedosa, e que portanto malícia e crueldade serão necessárias. Meu coração se retorce de horror e repulsa.E quão fácil é dizer, “Senhor, livrai-me desta decisão!”E é impossível. Afinal, isto significaria dizer, “tome de mim a força de meu espírito, que é a imagem viva de Teu Espírito! Extingua minha liberdade que reside oculta nessa força! Me livre do serviço, da responsabilidade e do peso da vida[...]” Esta seria uma oração de fraqueza, timidez e fuga. Seria uma oração pela erradicação da dignidade humana, da extinção da verossimilhança divina: “Tire de mim o vosso gracioso fogo espiritual, pois não posso e não quero carrega-lo!”
E eu comecei a mentalmente procurer ajuda de outras pessoas, consultar, pedir direções, sonhando com a subordinação cega a uma ordem... eu estava sozinho, e não tinha ninguém com quem trocar uma palavra, mas parecia-me que a felicidade era deixar de lado a necessidade da decisão e seguir alguém poderoso, bom e formidável...Então eu entendi que isso era impossível. Por que eu haveria de me esconder atrás de outro – de Deus e de mim mesmo? Eu teria de escolher aquele a quem eu me subordinaria. E a decisão de seguir um comando seria minha própria decisão, e cada ordem seguida eu a seguiria livremente. E se mais tarde algum desastre ou culpa sobreviessem, então eu veria com horror que eu causei o desastre, que a culpa era minha, a vergonha e a falha, minhas: pois nem a força, nem a liberdade, nem a sabedoria me teriam abandonado.Eu entendi então que não é dado aos homens ocultar-se atrás de outro, de sua decisão e responsabilidade. Ele precisa se erguer, lançar fora a mortalha da fraqueza e se apresentar...“Ensina-me a servir a tua causa!...”Mas [...] agindo de acordo com estes mandamentos, eu não cumprirei Sua vontade? Aqui está, Senhor, o mandamento dado por ti, que eu cumpri com todas as minhas forças... só é preciso avaliar a expressão exata do mandamento e cumpri-lo com todas as forças, sem pensar nas consequências... O maior mandamento é o Amor, mas que amor? Amor ativo ou resignado? Amor por temor ou por emoção, sacrificial ou indulgente?
Subitamente eu compreendi que eu não ousaria me esconder atrás da palavra escrita da lei para jogar a responsabilidade nas costas de Deus. Pois os mandamentos não são dados a escravos que tremem diante de uma carta, mas para os livres que apreendem Espírito e significado. Os Livres são chamados para ver os eventos e discerni-los independentemente; escolher, e agir atribuindo a si mesmo a responsabilidade. Sim, o Amor é o mais alto mandamento. Mas é possível, por amor, entregar o fraco ao malfeitor para ser lacerado, e que por amor ao sedutor, entreguemos os mais inocentes à tentação? [...]  Assim eu estaria sutilmente atribuindo à palavra um valor depravado, e dizer, “Não foi isto o que o senhor mandou?”, numa tentativa de me livrar da responsabilidade e jogá-la nas mãos de Deus...Da fraqueza vem a hipocrisia, e da hipocrisia, as mentiras. E tudo isto para que possamos renunciar à liberdade espiritual!“Ensina-me a liberdade espiritual! Remove de meu peito a covardia e a fraqueza de coração! Ajuda-me a achar meu caminho – o que não leva para longe de tua Face. [...] Dai-me a força do amor que é capaz de derrubar tudo, a força de confessar minha fé na hora derradeira!  [...]
Devo apenas tirar minha vida? Não, não apenas a minha vida, mas a vida que há na minha vida – ternura de coração, a pureza infantil do riso... conseguirei restaurá-los? Como eu os recuperarei?
“Envia-me a força da oração silente mas incessante! Envia-me a visão inefável de Teu Espírito! Envia-me a dádiva das lágrimas purificadoras!”Eu já tomei minha decisão. Estou pronto..

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A Escatologia Gnóstica



A escatologia gnóstica



“Em um mundo onde nascer é morrer, 
em um mundo onde nada nos pertence, 
em um mundo onde tudo é sofrimento, 
nós oramos, Pai, Criador de tudo o que é Senhor de Si Mesmo, 
pela nossa salvação, 
para tornarmo-nos dignos para aparecer diante de Ti 
através da celebração do casamento com o nosso espírito. 
 
Nós renegamos todo o trabalho deste mundo, 
nós negamos toda a glória, 
negamos a nós mesmos, juntamente com os nossos desejos, 
porque quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, 
e aqueles que perdem, por sua Vontade serão salvos, 
dá-nos a luz da Sabedoria, 
fazendo-nos dignos de ser chamados seus filhos, nós também. 
 
Atenta aos teus filhos que lutam contra a escuridão, 
tem misericórdia de nossas fraquezas e perversões, 
perdoa as nossas culpas, sendo nós mesmos vítimas da maldade, 
não olheis os nossos desvios, mas nossa vontade vigilante, 
não pedimos piedade para o corpo, mas a eternidade do Espírito, 
prepara-nos um assento à Távola na ceia nupcial, 
e continua perto de nós na hora da libertação final. 
Amém.”
(“Oração pela Libertação” dos Cátaros italianos)

                O Catarismo é essencialmente uma doutrina não dogmática. Recentemente encontrei um artigo acadêmico falando sobre a problemática da escatologia no Catarismo, ou seja, a dificuldade em encontrar, como nas religiões institucionalizadas, uma teologia dogmática e material, ou seja, uma fonte “autorizada”, “oficial”, de informações – a mentalidade da Academia moderna é impregnada de materialismo, quase fazendo equivaler o existente ao materialmente demonstrável.

                Por outro lado – parece-nos absurdo crer, por exemplo, na descontinuidade do Catarismo como uma cosmovisão, apenas porque a cadeia de Iniciados que ministrava o Consolamentum foi exterminada sem deixar resíduos materiais. Sob a perspectiva da Eternidade, a mesma verdade daqueles Bons Homens oferecidos em sacrifício para Jehova nas fogueiras católicas foi guardada nas mentes amuralhadas de muitos homens tocados pelo Paráclito, em diferentes tempos, e pela ação do Kairos muitos vieram a descobrir o Catarismo ou muitas de suas verdades, sem ter contato com nenhum outro praticante... Enquanto os Éons cantarem, para os ouvidos do Espírito, a Verdade sobre o aprisionamento espiritual e a pátria original, e enquanto existirem homens com ouvidos para tal canção, o Catarismo continuou e continuará a ser propagado, mesmo que sua manifestação exterior como “Igreja” ou congregação tenha desaparecido. Por isso é absurdo falar de “neo”-Catarismo (como algo que é perene pode ser novo?) ou de reconstrucionismo (de algo que não foi destruído e não precisa de reconstrução). À manifestação do Catarismo neste século XXI chamamos apenas de Catarismo ou, quando necessário destacar algum contraste com a manifestação da doutrina no século XII, dizemos simplesmente “Catarismo XXI”. É como a doutrina se manifesta, hoje.

                Kristos nos urge a sermos buscadores da Morte, a encontrarmos na morte do terreno a Vida espiritual perene, que nos permitirá vencer toda e qualquer morte, despertando ao despertar. Então pode-se dizer, com segurança, que o Catarismo é uma religião escatológica, que não apenas prevê, mas consiste na devida preparação para trazer o mundo manifesto, o mundo material, ao seu fim definitivo. Desejamos trazer a intervenção violenta do Paráclito e todos os Éons que nos aguardam no Pleroma, interditando o mal e destruindo a criação insana de Jehova. Nossa missão é despertar a Epinoia, a Sagrada Minne, dentro de cada Espírito para que este, enojado da malícia e da malignidade inerentes à Vida, clame com toda sua força pelo Paráclito e pela purificação final do Espírito que, restaurado, marcha para fora desse universo insano.

                E o que é possível dizer sobre a Escatologia no Catarismo? Não existe uma fonte autoritária, formal e dogmaticamente aceita, que todos compartilhem. Porque este objetivo de libertação não é uma questão de fé, não se pode fiar o desejo de libertação em meras palavras escritas, porque é uma pulsão viva e agônica do Espírito a cada minuto que este passa, consciente, na Terra. Ademais – o Futuro não existe, mas é construído com cada ato contíguo na grande cadeia de fenômenos que constitui a “história”, fio de consciência do mundo.

                Então não existe um desenlace esperado em que o Cátaro acredita? Não. FORMALMENTE não. Depositamos toda a nossa energia em clamar pelo Deus Incognoscível, em pedir que interceda por nós. Cremos na primazia do Bem sobre o Mal, e sabemos que o Demiurgo será derrotado, só não sabemos como isto virá a ocorrer. Nos colocamos à disposição para travar a guerra espiritual em qualquer forma que se apresente. E buscamos ESCREVER esse fim, impulsionados à guerra pela nostalgia do lar perdido e pelo Amort. Ninguém sabe, ou pode saber, como será esta guerra pela libertação do homem. Mas preparar-se para ajudar a desencadear o fim que se espera – é um dever de Honra, e expressão da Bonomia como princípio espiritual: restaurar o que é bom em si, o perene e o eterno, e destruir por compaixão aquilo que pertence ao mal – a finitude, a transitoriedade, a dor e a morte. Por isto vivemos, e a isso clamamos a todos os nossos irmãos vivos e mortos que hoje travam a Guerra Espiritual ou a travaram no passado. Lutaremos todos juntos quando soar a hora final do Universo.

                Este é o “esqueleto”, a estrutura geral do que o Catarismo entende por escatologia. À parte disso, existem muitas visões, tantas quantas existem Cátaros. Questão de opinião e gosto? Não é tão simples.

                Para um Iniciado, a afirmação de uma visão escatológica é a imposição da sua vontade, da sua Verdade espiritual, sobre a própria realidade fenomênica deste mundo ilusório.  Ao afirmar com toda a força volitiva sua palavra, seu desejo de intervenção e banimento do Mal, os Perfecti como que profetizam – marcam com ferro e brasa sua Vontade mais profunda de como esta existência miserável acabará. Tais profecias ou visões possuem um alto valor em si, não apenas como fonte de inspiração, mas de sincronização das vontades individuais no grande plano de Kristos Luz para a batalha que decidirá a libertação de todos os Espíritos aprisionados.

          Alguns textos gnósticos, como o Evangelho do “Pseudo”-João, possuem escatologias gnósticas valiosíssimas. Porém, a visão mais poderosa já registrada em palavras pertence a Nimrod de Rosario, e a transmitiremos na íntegra.

                Não apenas Nimrod expressou nesta visão sua própria visão dos eventos que se sucederão, mas também inspira em outros irmãos no Espírito a energia e a força necessárias para resistir como as “Pedras do Deserto” e permanecermos interiormente purificados, intocados pelo horror e pela imundície que imperam no mundo. Suas visões dão alento, dão esperança e renovam o desejo de luta pela libertação, o desejo de resistir e clamar aos Éons nossa herança divina, que não são esperanças ou expectativas passivas, mas algo que se deve criar “alquimicamente”, transmutando a realidade interior através da Catharsis, com todo o fogo Vril que temos em cada um de nós.


                A causa foram as scintilla luminis, ou raios de lua, que começaram a brotar deles. Milhares de raios que saltavam em todas as direções, ora girando em círculos, ora em espiral, ou traçando curvas brilhantes de caprichosa forma, impediam-me de distinguir o fundo do chapéu, ou ainda o próprio chapéu. Fascinado pelo espetáculo, encantado, talvez hipnotizado, recordei sem querer a definição do alquimista Khunrath; que disse: “Scintillae Animae Mundi igneae, Luminis nimirum Naturae”, ou seja, são raios ígneos da Alma do mundo, que se evidenciam na Natureza. Tais scintillae acompanham sempre as fases da Alquimia; e nesse momento estavam presentes todos os elementos do opus: no Gabinete da Natureza, achava-se a matéria-prima dos corações; a aqua permanens do Sulphur Philosophorum; e encontrava-se presente Mercúrio, grande Artifex transmutador, por dizer, tio Kurt Shivatulku, representante de Wothan, que e Hermes, e que é Mercúrio.
                Girando em um turbilhão hipnótico, as scintilla luminis foram cobrindo meu campo de visão. Raios dourados brotavam agora de todas as partes e percorriam o espaço ate apagar-se, em espaço estranhamente carente de vento e de sons, como se a Natureza inteira estivesse entretida em manifestar sua lumen naturae. Tirei a vista do chapéu cogumelo e da garrafa de acido, invisíveis sob a vertente luminosa e, semianestesiado, passei a vista ao redor: do mundo inteiro pareciam surgir scintillae. Da casa, do chão, das arvores que antes não vi, mas que se erguiam a dez passos, de todas as coisas emergia uma aura dourada e cintilante, composta por miríades de scintilla luminis. O que aquela visão significava a súbita atividade de um sentido novo, que tornava possível perceber o Anima Mundi, uma Luminositas sensus naturae? Mas uma luminosidade maior atraiu minha atenção. Sobre os cadáveres dos assassinos orientais, em efeito, começavam a elevarem-se duas nuvens de vapor ectoplasma tico, também cintilantes, devido à emissão e absorção de milhões de scintillae; a um metro de altura, aquelas nuvens se mantinham girando em espiral, e nutrindo-se constantemente do vapor leitoso que emanava das poças de sangue. Como em um quadro da Escola Impressionista, como em uma obra de Enrique Matisse, Eu via a realidade decomposta em milhões de pontos de cores, raios de luz que giravam com forma de elementum primordiale e da massa confusa, do chaos naturale. Com a visão saturada pela multidão de scintillae, senti que interiormente e irracionalmente uma voz me falava, dizia: “Yod, Yod, cada scintillae é Yod, um olho de Avalokiteshvara”; “e entre todas as scintillae, ha duas que são O Uno, são as scintillae unas, as mônadas de Bera e Birsa que não podem morrer”.

Já escaldado pelo acontecido em Santa Maria, foi só escutar essas vozes procedentes da Alma, da minha própria Alma influenciada pela Grande Mãe, e remeti-me à Virgem de Agartha. Sim, fechei como pude meus ouvidos, já que não podia prescindir a grandiosa luminositas, e entreguei-me ao rapto da Virgem do Menino de Pedra, cujo auxilio espiritual me permitiu manter-me naquele terrível momento. De acordo com o que ocorreu na sequencia, teria sem duvidas perdido a razão se Ela não apoiasse meu Espírito desde a Origem. Porque neste momento, quando a quantidade e multiplicidade das scintilla haviam alcançado sua máxima exaltação, todas se abriram em uníssono e mostraram um olho inexpressivo, um olho que era o mesmo olho repetido dementemente em todos os pontos do espaço. Toda a Natureza, todas as coisas diferenciadas, tudo o que alcançava ver e perceber fervia agora de olhos inexpressivos, de olhos semelhantes que indubitavelmente nos olhavam; e aqueles milhões de olhos de peixes, de oculi piscium, eram os Olhos de Misericórdia que se abriam para contemplar as Almas de seus filhos amados, as Almas de Bera e Birsa que estavam desencarnando em meio a um grande terror.

Analisando a cena: a forma geral dos entes em nada havia mudado, todos são distinguíveis e reconhecíveis, todos são nomeáveis como sempre; a arvore, o piso, a casa, o céu, a nuvem, os corpos, todos os objetos seguem sendo os mesmos; mas agora apresentam uma vida cheia de olhos divinos, de olhos que miram com Amor Natural. Pensar na arvore, toda composta de olhos, e na casa, no céu, também compostos de olhos, e pensar que os milhões de olhares da arvore para a casa, da casa para a arvore, e as de ambas ao céu, são os laços que ligam e religam aos entes, e constituem a superestrutura da realidade: uma estrutura de objetos ligados entre si pela Vontade do Criador e pelo Amor natural da Grande Mãe.

Se já o havia imaginado, ha de pensar que agora eu me encontrava nessa cena, espantado pelos onipresentes olhos de Avalokiteshrava, “que a tudo vê”, e estremecido ate a raiz de meus sentimentos, agitado em minha natureza emocional pelo intenso Amor da Grande Mãe, por sua Piedade ilimitada. Assim foi, pois, primeiro, a fascinação pelas scintillae, e logo o espanto pela ebulição pan-óptica; e o espanto maior foi comprovar que meu próprio corpo estava constituído por milhões de olhos compassivos. E este fenômeno terrível, demente, explica porque minhas mãos se detiveram antes de tomar os corações do chapéu cogumelo.

- Neffe! Arturo! - a voz de tio Kurt se fez ouvir de vários metros de distancia - Sabia que isto ocorreria e sei o que esta vendo: não tema que é tudo ilusão. Ainda podemos cumprir nosso objetivo. Pode ouvir-me? - Sim tio Kurt! - respondi atordoado - Te escuto como se sua voz procedesse de longa distancia, e me encontro muito sugestionado por essa profusão de olhos que se manifesta na Natureza, por esse monstro em que se converteu o Mundo. - Escuta-me bem, Arturo! Fará exatamente o que eu te pedir e respondera as minhas perguntas. Irá me comunicar tudo o que verá. Pois aqui não ha mais olhos que os seus; todos os olhos de Avalokiteshvara são ilusórios, são projeções de sua própria debilidade emocional. Fiz um esforço e voltei-me para a direção da qual vinha sua voz. Vi milhões de olhos brilhantes, vi que toda a realidade continuava integrada por olhos de peixe, mas onde estava tio Kurt, mas onde deviam estar seus olhos, só vi dois espaços vazios, duas crateras de negrura impenetrável, duas janelas abertas a Outro Mundo; soltei um grito de horror e retornei o olhar ate adiante.

- Esta comigo, Arturo? - perguntou insolitamente tio Kurt.

- Sim, tio Kurt! - respondi uma vez mais.

- Você realizará a obra. Eu só colocarei, no Principio, o Signo de Origem sobre a Pedra de Fogo!
Recordei as palavras de Birsa na Carta de Belicena Villca: “os homens mortais, homens de barro, que evoluíram a partir do barro, desde a Pedra de Fogo do Principio que refletia uma mônada semelhante ao Uno, chegariam ao final como indivíduos idênticos à Pedra de Fogo, como Metatron, o Homem Celeste, o arquétipo realizado, o Cordeiro Filho de Binah; seriam assim quando o tempo estivesse cumprido, e cada um ocupasse seu lugar na construção, de acordo com o símbolo do Messiah; seriam assim no dia em que o Reino de YHVH se concretizasse na Terra, e reinasse o Rei Messiah; e a Shekhinah se manifestasse”... Tantos olhos! Sim, aquela manifestação de Avalokiteshrava, da Grande Mãe Binah, era também a Shekhinah, como a qualificaria Zacarias: “essas raízes óticas da arvore de YHVH representam a Israel Shekhinah”! No principio do tempo, o homem criado era como estrutura de barro; ao final seria como Pedra de Fogo. As tais Pedras, as plasmou irreversivelmente o Signo da Origem, transformando-as em Pedras Frias, em Pedras Não Criadas, segundo se escandalizavam os Demônios, marcando-as com o abominável sinal: “Eles gravaram o Sinal Abominável na Pedra de Fogo, na qual cada Alma dos homens de barro se assentava. E o Signo Abominável esfriou a Pedra de Fogo, Aben Esch, e a tirou do final. Entao, Cohens, a Pedra que deve ser lavada com lixívia no Final, e a Pedra Fria que não tinha que estar onde esta, porque não foi posta no Principio pelo Uno, pelo Criador”. “Pedra maldita, Pedra de escândalo, Semente de Pedra. Eles a plantaram depois do Principio na Alma do homem de barro e agora se acha no Principio”.

- Transmutemini de lapidibus in vivos lapides philosophicos![1] - escutei tio Kurt repetir as palavras do Magister Dorn - Olha na Matrix! - Vejo uma água dourada, uma aqua aurens, agitada por incontáveis raios de luz: e o anima panoptes! - Ponha os corações na Matrix! Sem pensar, busquei pelo tato o chapéu, extrai os órgãos viscosos, e os introduzi pela boca da garrafa. Nem bem se misturaram ao acido sulfúrico, uma emanação de vapor toxico me obrigou a retirar a cabeça: pela abertura do uterus philosophorum, surgiu durante um momento um vapor rubro, dando a impressão que o liquido havia entrado em combustão; porem, logo se acalmou, e um novo resplendor começou a brilhar do interior da garrafa, desta vez, negro. Nesse momento apenas pude adverti-lo porque tio Kurt queria que eu não tirasse os olhos do acido e seu macabro conteúdo, mas foi evidente que diminuiu substancialmente a manifestação morfo-otica geral. - O que vê agora? - perguntou de seu posto.

- O firmamento estrelado!

Em efeito, o acido havia mudado de cor e agora a garrafa continha um liquido negro, nigredo, que apresentava uma superfície brilhante e iluminada por uma infinidade de scintillae fixas, raios de luz que eram as estrelas de um particular microcosmos.

- O que vê agora? - repetiu.

- O Zodíaco. Centenas, milhares de constelações, todos os Arquétipos do Universo estão neste céu.


- O que vê agora? - insistiu.

- Duas estrelas que se destacam. Duas estrelas mais brilhantes que todas as outras, avançam e se situam no lugar central, abaixo do Pé da Virgem da Espiga, perto do Corvo.

- O que vê agora? - inquiriu.

- As constelações parecem mais vivas do que nunca, os Arquétipos vibram no Céu, animais de todas as classes se preparam para descer. Vejo-os e escuto seus sons. Em verdade os sons dos animais celestes haviam se tornado tão reais, que só ao deixar por um instante a vista da matéria, compreendi que certamente, alguns deles estavam presente ao meu redor: distingui com sobressalto três rugidos, e por isso dirigi essa fugaz mirada ao redor; eram o grunhido do porco, o latido do cachorro e o rugido do urso. Com crescente espanto, comprovei então que as nuvens ectoplasma ticas que flutuavam sobre os cadáveres de Bera e Birsa, haviam adquirido a inconfundível forma de javali: sobre os cadáveres dos assassinos orientais, materializavam-se enormes javalis brancos, que grunhiam ameacadoramente e mostravam em seus corpos os mil olhos de Avalokiteshrava, os mil olhos do Anima Mundi, os mil olhos do Uno, os mil olhos de Purusa. Os cães daivas haviam se aproximado, sem duvida chamados por tio Kurt, e pareciam vê-los sem problemas, porque latiam com ímpeto incontrolável. Mas a maior impressão, tive ao observar tio Kurt. Como explicar o que vi? Só talvez dizendo que sua forma mudava; que por momentos era tio Kurt e por momentos um enorme urso irado, um ursus terrificus. Mas tal explicação não seria de todo correta porque, certamente, tio Kurt havia se convertido em um Homem-Urso: era a fúria de tio Kurt, a Fúria do Guerreiro Urso, o berserkr gangr, a forca que o transformava.  Busquei a tio Kurt com os olhos e descobri um Berserkr, a um Guerreiro da Ordem Einherjar de Wothan, a um Iniciado Hiperbóreo nas Vrunas de Navutan. E a visão regressou espantada aos olhos, acompanhada por um violentíssimo rugido e o movimento compassado, quase Ritual, de suas garras poderosas. Mas quando falou, era novamente tio Kurt.

- O que vê agora? - exigiu.
- As duas estrelas mais brilhantes se transformaram em dois javalis gêmeos!
- O que vê agora?
- Os javalis fogem apavorados e buscam a proteção de sua Mãe, o Dragão do Universo!
- O que vê agora?

- Vejo os javalis abrigarem-se no regaço do Dragão! E vejo o Dragão: tem mil cabeças e mil olhos; e em cada cabeça uma estrela de Davi; e em cada cabeça aparece o rosto de Binah; e suas mil bocas cantam a Canção do Cordeiro. O Dragão acolhe em seus braços o Cordeiro e os Javalis, a destra e sinistra, grunhem sem cessar. E fazendo coro ao Dragão e aos Javalis, três terços das estrelas do Céu cantam assim:

Avalokiteshrava!
Grande Mãe Binah!
Já chega, já chega
O Holocausto Final!

- O que vê agora?

- O Dragão Binah sustenta com sua Mão direita o Cordeiro, enquanto que com a
esquerda toma uma taça transbordante de lixívia humana. Agora derrama o conteúdo da
taça sobre a Terra.

- O que vê agora?

- As mesmas estrelas cantam:

Avalokiteshrava!
Grande Mãe Binah!
Sua Piedade, sua Piedade,
Lava a Terra com a lixívia de Jehova

- O que vê agora?

- A lixívia cai sobre a Terra. Dois javalis brancos correm no céu de leste a oeste anunciando a viva voz: “A peste, a peste!” Tudo o que a lixívia toca perece. A Terra se converte em um deserto de Pedras! Só sobrevivem cento e quarenta e quatro mil que pertencem a casa de Israel: mas estes fogem do deserto e se refugiam em um vale, que logo será inundado pela lixívia. O Dragão e os Javalis se enfurecem porque ainda sobram as Pedras do Deserto, porque a lixívia não as calcinou e dissolveu como o resto dos seres viventes!

- O que vê agora?

- O Dragão envia então ao Cordeiro, custodiado por seus irmãos, os Javalis brancos a pastar na Terra. Mas a Terra esta estéril e o Cordeiro desfalece entre as Pedras  sem poder alimentar-se.

- O que vê agora?

- O Dragão, dono de uma terrível ira, amaldiçoa as Pedras e ao Deserto de Pedras. E grita que buscará ao Cordeiro antes que o deserto cause sua morte!

- O que vê agora?

- A imunda lixívia caída do Céu, e a sujeira que conseguiu arrancar da Terra, escorreram ate um vale, a Leste do Deserto de Pedras, e formaram um grande mar! Éden e Paraíso, são os nomes desse mar. E Tártaro e Tharsis, são os nomes do Deserto de Pedras.

- O que vê agora?

- O Deserto empurrou o cordeiro ate sua borda, que e assim mesmo a borda do mar de lixívia! O Dragão, no Céu, voltou a gritar que auxiliara seu filho, que se acha entre o Éden e o Tártaro.

- O que vê agora?

- Os mil olhos do Dragão, brilhantes como Sois, se concentram sobre o Deserto das Pedras e as Pedras padecem de mortal sufocação. A maioria das Pedras se abranda e derrete, e o Deserto se torna um enorme lago de lava fervente: só as Pedras mais duras permanecem em seu lugar, mantendo com tenacidade sua forma separada!

- O que vê agora?

- Um terrível clamor se eleva do Deserto e sobre alem do Dragão: as Pedras reclamam ao Incognoscível ajuda contra o Cordeiro e contra a Mãe do Cordeiro, o Dragão Binah, que lhes jogou a lixívia de Jehova e os separou da Terra, e pretende calcina-los no Deserto por não servirem de alimento para o Cordeiro.

- O que vê agora?

- Apareceu um sinal no Céu: uma Virgem, mais Negra que a Noite, com a Lua debaixo de seus pés, e usando uma Coroa com Trezes Estrelas Não Criadas! E a Virgem de Agartha que veio socorrer as Pedras em Nome do Incognoscível.

- O que vê agora?

- A descida da Virgem produz como um manto de negrura refrescante sobre o Deserto, que havia se transformado em lago de lava ardente, e traz imediato alivio as Pedras. A presença da Virgem refresca e endurece novamente as Pedras, porque se interpõe com sua obscuridade ante os mil olhos cadentes do Dragão! E a Virgem porta uma espiga na Mao; e vai deixando cair os grãos sobre o Deserto de Pedras; e as Pedras que recebem os grãos se tornam imunes ao Fogo do Céu, já não podem ser amolecidas, e ficam assinaladas com uma Marca, um Signo único que significa o Negro, o Duro e o Frio. E a Marca da Virgem se chama “Signo de Vril”.

- O que vê agora?

- Agora o Cordeiro esta perdido entre as Trevas, a Dureza e a Frieza das Pedras. E chama com desespero sua Mãe, o Dragão Binah, porque as Pedras ameaçam estrangular sua garganta ou submergi-lo no mar de lixívia.

- O que vê agora?

- A Virgem esta grávida, e grita pelas dores e angustias do parto. E apareceu outro Sinal no Céu: um Dragão de um vermelho aceso, que tem mil cabeças e mil olhos e mil estrelas de Davi em suas cabeças; sua cauda varre a terça parte das Estrelas do Céu e as joga na Terra; e descem sobre o mar de lixívia, comandadas pela e estrela Thuban. E o Dragão também desce para cuidar do Cordeiro e atacar a Virgem.

- O que vê agora?

- O Dragão se deteve frente a Virgem que estava a ponto de parir, para devorar seu filho quando for dar a luz. E Ela da a luz a um Menino de Pedra, que há de reger todas as Nações com um Tridente de Vajra. Führer é o nome do Menino de Pedra. Mas seu filho foi protegido do Dragão ao ser confundido com as Pedras do Deserto, e a Virgem se refugiou no Deserto, onde tem um lugar disposto pelo Incognoscível para residir durante dois mil, cento e oitenta e oito dias.

- O que vê agora?

- Ha uma batalha no Céu! Kristos-Lucifer, o Capitão Kiev e os Siddhas Leais, se levantaram a lutar contra o Dragão. O Dragão apresentou batalha, e também seus Anjos Imortais, seus Javalis e estrelas. Mas não prevaleceu nem houve lugar para eles no Céu. Foi precipitado o Grande Dragão, que se chama Jehova-Satanas, o que organiza o Universo inteiro; foi precipitado na Terra, e seus Anjos foram precipitados com Ele.

- O que vê agora?

- Ouço uma grande voz no Céu que diz:

Agora chegou a Libertação
E o Poder e o Reino do Incognoscível
E o Império de seu Kristos
Porque foi precipitado o aprisionador
De nossos Camaradas
O que dia e noite os marcava ante a
Vista do Incognoscível
Mas os Siddhas Leais o venceram.
Pelo Sangue Puro
E pelo testemunho de Valor que deram
Pois não amaram a Vida Quente
Tanto que retiraram a Morte
Por isso temei, Céus,
E os que moram neles
Ai da Terra e do Mar!
Porque baixou entre vós o Diabo,
Possuído de grande ira
Sabendo que lhe resta pouco tempo.

- O que vê agora?

- Quando o Dragão se viu precipitado na Terra, perseguiu a Virgem que havia dado a luz o Menino de Pedra. Mas a Virgem dispunha de duas asas do Grande Condor e podia voar ao Deserto, ao se lar, onde resistiria por um tempo, e por dois tempos, e metade de um tempo, longe da presença do Dragão. O Dragão vomitou por suas bocas, atrás da Virgem, lixívia como um Rio, para fazer com que o Rio a arrastasse. Mas o Deserto ajudou a Virgem. E o Deserto abriu sua boca e tragou o novo Rio de Lixívia que o Dragão havia vomitado; e ele escorreu ate o mar de lixívia, onde estavam o Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil. E o Dragão se enfureceu contra a Virgem e foi fazer guerra contra os demais descendentes dela, os que exibem Sua Marca e tem o Testemunho de Kristos Lúcifer. E se situou na margem do mar de lixívia.

- O que vê agora?

- Vejo subir do Deserto um homem com o Poder de uma Besta. E um ser metade homem, metade urso; ou metade homem, metade lobo; por momentos e como urso e por momentos e como lobo; quando deve enfrentar as Abelhas de Israel e como Urso; e quando ha de lutar contra o Cordeiro e semelhante ao Lobo. E o Filho da Virgem de Agartha que cresceu como Pedra no Deserto; e o Führer que regressou para combater a guerra contra o Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil! Seu rugido estremece a Terra, e a seu passo se levantam as Pedras do Deserto, as que levam o Signo do Vril! E as Pedras Geladas pela Virgem de Agartha são também homens-lobo que uivam com fúria que não pode ser contida!

Não exagero em nada se asseguro que o rugido que surgiu neste momento do lugar onde estava tio Kurt perguntando monotonamente “que vê agora?” fez tremer a terra. Eu descobri quando vi sobre a superfície do aqua vitae da garrafa, mas minhas palavras haviam adquirido uma formalidade profética que se conformava diretamente no inconsciente. Fazia tempo que eu não pensava no que dizia: simplesmente expressava o que chegava a minha mente, que a essa altura não podia explicar se realmente o via ou o imaginava. O que, claro esta, não era produto da minha imaginação, era a transmutação de tio Kurt e seus bestiais rugidos e uivos; nem os javalis ectoplasma ticos que, cada vez mais nítidos e patentes, se materializavam sobre os cadáveres dos assassinos orientais.

Aos rugidos do homem-urso, os Javalis respondiam com o maldito zumbido apícola que também conhecia agora; mas quando o homem-lobo uivava, os Javalis se jogavam a tremer, vitimas do pânico, em pelo ouriçado de terror e grunhindo em desespero. E eu, ao perceber o que ocorria ao meu redor, tratava de manter a vista hipnoticamente fixa na matriz com o acido e os corações, contemplando umas visões que, por mais fantásticas que pudessem ser, eram menos terríveis que a Realidade da Chácara de Belicena Villca.

- O que vê agora? - perguntou claramente a voz de tio Kurt.

- Vi avançar um Exercito enorme formado pelos que levam a Marca da Virgem e são como a Besta, os inimigos do Cordeiro. E vejo que vão conduzidos pelo Führer, que e como um lobo furioso, e acompanhados pela Virgem, que voa sobre eles levando o estandarte do Signo do Vril e da Espiga. E o Exercito de lobos se aproxima do mar de lixívia. E o Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil membros do Povo Eleito, se estabelecem em uma Ilha Branca situada no meio do mar de lixívia, que havia se formado com o cume do Monte Sião. Jerusalém Celeste e Chang Shambala são os
nomes dessa Ilha.

- O que vê agora?

- Ao Cordeiro, de PE sobre o Monte Sião, e os cento e quarenta e quatro mil que tem seu nome e o nome de seu pai escrito na fronte. E ouço vozes do Céu que sonham com a harmonia da Natureza múltipla. E cantam uma canção nova frente ao Trono de Jehova, frente aos dez Sephiroth, ante aos Anciãos de Israel e ante a Shekhinah. Ninguém pode aprender o Cântico da Criação, senão aqueles cento e quarenta e quatro mil que foram resgatados da Terra. Estes são os que não conhecem o amor da mulher porque são Sacerdotes sodomitas. Estes são os que seguem o Cordeiro onde quer que este vá. Estes são os que constituem a hierarquia das Almas, que vai desde o homem, ate Jehova e o Cordeiro. Não conhecem a Verdade da Criação. São animais-homens perfeitos.

- O que vê agora?

- Observo agora uma Época anterior a queda do Dragão: se veem sobre a Terra aos homens que já tinham o Sinal do Vril e a uns Anjos do Dragão que os ameaçavam desde o Céu. Um deles, o que voa mais alto no Céu, leva o Evangelho do Cordeiro e anuncia o Holocausto de Fogo aos moradores da Terra, a toda Nação e Tribo, a toda língua e Povo, e diz com grande voz:

“Temei a Jehova e dai-lhe gloria
Porque chegou a hora de seu juízo
Adora a quem criou o Céu, a Terra
E o Mar e os mananciais de água!”
E outro anjo, o segundo, o seguiu dizendo:
“Caiu, caiu, Babilônia a Grande
A que deu de beber do vinho do
Império Universal a todas as Nações”
E outro Anjo, o terceiro, o seguiu dizendo com forte voz:
“Se alguém adora a Besta e sua Imagem
E recebe sua Marca na fronte ou na Mao
Beberá ele também do
Vinho da fúria de Jehova
Vinho puro, concentrado, lixívia humana
Da taça de sua ira.
E será atormentado com Fogo e Enxofre
Na presença dos Anjos Santos
E na presença do Cordeiro.
A fumaça de seu tormento sobe
Pelos séculos dos séculos
E não tem repouso nem de dia nem de noite
Os que adoram a Besta e sua imagem
Os que recebem a Marca de seu nome”
“Aqui esta a Constancia do Povo Eleito, os que guardam os mandamentos de Jehova e a fé no Messias!”

- O que vê agora?

- Outro Anjo Imortal. Aponta para a Cidade que esta no Monte Sião, no meio do mar de lixívia, e diz: “eis ali a desposada, a esposa do Cordeiro”! Este Anjo fala para os que adoram ao Cordeiro, e lhes promete a salvação dos homens-lobo escondendo-se na cidade de Jehova. Assim lhes fala:

“Baixara uma cidade do Céu
Sobre o Monte Sião
Da parte de Jehova
Seu resplendor será semelhante a uma Pedra preciosissima
Que emite beleza cristalina
Terá uma muralha grande e elevada
Na que haverá doze portas
E sobre as portas, doze Anjos
E os nomes escritos em cima que são
Os das doze tribos dos Filhos de Israel
Ao Oriente, três portas; ao Sul, três portas;
E ao Oriente, três portas.
A muralha da cidade terá doze bases
E sobre elas doze nomes,
Dos doze apóstolos do Cordeiro.”

E o Anjo utiliza um bastão de ouro para medir a cidade, suas portas e sua
muralha.

“A cidade estará assentada em forma quadrangular, e seu comprimento será igual a sua largura.” E mede a cidade com o bastão e tem doze mil estádios. Seu comprimento, largura e altura são iguais. E mede a muralha e tem cento e quarenta e quatro côvados, segundo a medida humana, que e a do Anjo. E o Anjo disse:

“O material da muralha será jaspe e a cidade de ouro puro semelhante ao cristal puro. As bases das muralhas da cidade estarão adornadas com toda a classe de pedras preciosas. A primeira base será jaspe; a segunda, safira; a terceira, calcedônia; a quarta, esmeralda; a quinta, calcedônia; a sexta, coralina; a sétima, crisolito; a oitava, berilo; a nona, topázio; a décima, ágata; a décima primeira, jacinto; e a décima segunda, ametista. As doze portas serão doze perolas; cada uma das portas será uma só perola, como cristal brilhante. Não haverá santuário nela, porque seu santuário será Elohim, Jehova Sebaoth, e o Cordeiro. E a cidade não necessitara de sol nem de lua para que a iluminem;
porque a Gloria Sephiroth de Jehova a iluminara e sua lâmpada será o Cordeiro. E caminharão as Nações a sua luz, e os Reis da Terra levarão a ela sua Gloria. Suas portas jamais se fecharão de dia e ali nunca haverá noite. E levarão a ela a Gloria e a honra das Nações. Não entrara nela coisa impura, não consagrada pelos sacerdotes de Israel, nem os que levam o Sinal Abominável, senão os inscritos no livro da vida do Cordeiro.”

- O que vê agora?

- Um rio de água vivente, do que saem todas as coisas criadas, que surge do Tronco Kether de Jehova e do Cordeiro. O Anjo pronuncia as ultimas palavras:

“No meio da praça, e de um lado e de outro deste Rio, haverá uma arvore da Vida que dará doces frutos, um a cada mês. E as folhas da Arvore servirão para curar as Nações dos pecados contra Jehova. E não haverá condenação para ninguém, e estará nela o Trono de Jehova e do Cordeiro, e seus servos lhe prestarão culto. Verão o Seu rosto, e levarão o nome dele na fronte. E não haverá noite, e nem negrura infinita, mas não necessitarão de lâmpada nem luz do Sol, porque Jehova Elohim os iluminara, e reinarão pelos séculos dos séculos.”

- O que vê agora?

- Vejo a Batalha Final. Vejo o Führer e seu Exercito de Homens-Lobo tomar por assalto a Ilha de Sião, e surpreender a Jerusalém Celeste, que é Chang Shambala, e causar grande mortalidade entre seus moradores. Nem Thuban e a terça parte do Céu, postos de guarnição, conseguem deter a manada furiosa! O Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil sacerdotes se encontram encurralados na Cidade Maldita, construída com o corpo do Dragão. E morrem aos milhares. Preferem morrer que ver o sinal do Vril dos Homens-Lobo. E a Cidade-Dragao palpita e se contorce, sem conseguir tirar de cima os Homens-Lobo. E os imortais olhos do Dragão derramam inúmeras lagrimas; lagrimas que escorrem ate o quádruplo Muro das Lamentações; lagrimas de piedade pelos Filhos de Israel, no Cordeiro e no Dragão; e a Virgem de Agartha crava seu estandarte no Muro das Lamentações, o qual é como o Coração de Binah, a dona de todos os corações; sim, no coração de Avalokiteshvara foi plantado o Signo do Vril, a Marca que causa o Negro, o Duro e o Frio das Pedras, e pelo Muro das Lamentações correm suas lagrimas como surgidas de uma cascata milagrosa. E trevas duras e geladas se abatem sobre Sião: e a Morte Fria da Virgem; a Morte que arrebata o calor dos corações do Cordeiro e dos cento e quarenta e quatro mil Santos de Israel; a Morte que desata que vem nas Trevas, os Homens-Lobo de Pedra do Exercito do Führer.

- O que vê agora?

- A Batalha Final continua na Terra, mas já não posso ver o que ali ocorre, pois vejo os javalis brancos que fogem vitimas do pânico a esconder-se no Céu; vão perseguidos por parte do Exercito-manada de Homens Lobo de Pedra! Mas no Céu só restam a quarta parte das Estrelas!
- Chegou o momento! O Final é igual ao Principio! – exclamou surpreendentemente tio Kurt.

Fui surpreendido por aquelas inesperadas palavras de tio Kurt. Contudo, perguntou na sequencia:

- O que vê agora?

- Os Javalis gêmeos subiram ao céu estrelado buscando o Dragão. Mas o Dragão não esta no Céu e sim na Batalha Final. E os Javalis se converteram novamente em estrelas, e se situaram abaixo dos pés da Virgem, perto do corvo. E no céu faltam muitas constelações, como um livro de imagens do qual arrancaram muitas paginas.
 
- O que vê agora?

- As estrelas do Céu, todas as que sobraram, abandonam seus postos e giram em torno das estrelas-Javalis. É o chaos primordialis, a massa confusa.

- Projetarei o Signo de Origem sobre a massa confusa! - gritou tio Kurt. Ao que parece colocou-se muito próximo de mim, as minhas costas. Imaginava suas orbitas vazias e negras, profundas e infinitas, somando-se ao recipiente alquimista, cuja superfície brilhante alojaria sem remédio o que ele era: o Signo da Origem, o Signo do Vril, a Marca da Virgem, o Signo de Lúcifer, o Signo de Shiva. O imaginava, pois não desejava olhar e ver, como antes, a Morte Fria, ao Homem-Urso e ao Homem- Lobo.

Na matéria, a superfície Sulphur Philosophorum mostrava a imagem de um rodamoinho de lumen naturae que giravam ao redor das estrelas gêmeas, as mônadas de Bera e Birsa. Quando a primeira Runa se refletiu sobre elas, perderam grande parte de seu brilho e começaram a solidificar-se. E assim continuaram tornando-se opacos e solidificando-se a medida que se sucediam as seguintes Runas. E quando, ao fim, se plasmaram as Treze Runas, as duas estrelas experimentaram uma metamorfose e se transformaram em flores de Pedra. Entao, como se tio Kurt me houvesse feito a pergunta, descrevi em voz alta o que via:

- As estrelas são agora duas flores de Pedra. São dois padmas ou lótus: Esther é o nome dessas Pedras. E as Treze Runas se movem e se associam entre si de incompreensível maneira. E as Treze Runas formam um Signo que desintegra o redemoinho, ao chaos confusum, e o posiciona pelas trevas mais impenetráveis; só as flores de Pedra caíram no Sulphur Philosophorum: e agora se precipitam ao fundo da matéria. Opus consumatum est!


- Possui agora dois lapis philosophorum! - disse tio Kurt - Você completou a Obra por intermédio da Virgem, porque você viu a Obra! E você recebeu o descensus spiritus sancti creator! Você e igual a Mim, e Eu sou igual a você! Naturalissimum et perfectissimum opus est generare tale quale ipsum est!”