A escatologia gnóstica
“Em um mundo onde nascer é
morrer,
em um mundo onde nada nos pertence,
em um mundo onde tudo é sofrimento,
nós oramos, Pai, Criador de tudo o que é Senhor de Si Mesmo,
pela nossa salvação,
para tornarmo-nos dignos para aparecer diante de Ti
através da celebração do casamento com o nosso espírito.
Nós renegamos todo o trabalho deste mundo,
nós negamos toda a glória,
negamos a nós mesmos, juntamente com os nossos desejos,
porque quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la,
e aqueles que perdem, por sua Vontade serão salvos,
dá-nos a luz da Sabedoria,
fazendo-nos dignos de ser chamados seus filhos, nós também.
Atenta aos teus filhos que lutam contra a escuridão,
tem misericórdia de nossas fraquezas e perversões,
perdoa as nossas culpas, sendo nós mesmos vítimas da maldade,
não olheis os nossos desvios, mas nossa vontade vigilante,
não pedimos piedade para o corpo, mas a eternidade do Espírito,
prepara-nos um assento à Távola na ceia nupcial,
e continua perto de nós na hora da libertação final.
Amém.”
(“Oração pela Libertação” dos Cátaros
italianos)
O
Catarismo é essencialmente uma doutrina não dogmática. Recentemente encontrei
um artigo acadêmico falando sobre a problemática da escatologia no Catarismo,
ou seja, a dificuldade em encontrar, como nas religiões institucionalizadas,
uma teologia dogmática e material, ou seja, uma fonte “autorizada”, “oficial”,
de informações – a mentalidade da Academia moderna é impregnada de
materialismo, quase fazendo equivaler o existente ao materialmente
demonstrável.
Por
outro lado – parece-nos absurdo crer, por exemplo, na descontinuidade do
Catarismo como uma cosmovisão, apenas porque a cadeia de Iniciados que
ministrava o Consolamentum foi exterminada sem deixar resíduos materiais. Sob a
perspectiva da Eternidade, a mesma verdade daqueles Bons Homens oferecidos em
sacrifício para Jehova nas fogueiras católicas foi guardada nas mentes
amuralhadas de muitos homens tocados pelo Paráclito, em diferentes tempos, e
pela ação do Kairos muitos vieram a descobrir o Catarismo ou muitas de suas
verdades, sem ter contato com nenhum outro praticante... Enquanto os Éons
cantarem, para os ouvidos do Espírito, a Verdade sobre o aprisionamento
espiritual e a pátria original, e enquanto existirem homens com ouvidos para
tal canção, o Catarismo continuou e continuará a ser propagado, mesmo que sua
manifestação exterior como “Igreja” ou congregação tenha desaparecido. Por isso
é absurdo falar de “neo”-Catarismo (como algo que é perene pode ser novo?) ou
de reconstrucionismo (de algo que não foi destruído e não precisa de
reconstrução). À manifestação do Catarismo neste século XXI chamamos apenas de
Catarismo ou, quando necessário destacar algum contraste com a manifestação da
doutrina no século XII, dizemos simplesmente “Catarismo XXI”. É como a doutrina
se manifesta, hoje.
Kristos
nos urge a sermos buscadores da Morte, a encontrarmos na morte do terreno a
Vida espiritual perene, que nos permitirá vencer toda e qualquer morte,
despertando ao despertar. Então pode-se dizer, com segurança, que o Catarismo é
uma religião escatológica, que não apenas prevê, mas consiste na devida
preparação para trazer o mundo manifesto, o mundo material, ao seu fim
definitivo. Desejamos trazer a intervenção violenta do Paráclito e todos os
Éons que nos aguardam no Pleroma, interditando o mal e destruindo a criação
insana de Jehova. Nossa missão é despertar a Epinoia, a Sagrada Minne, dentro
de cada Espírito para que este, enojado da malícia e da malignidade inerentes à
Vida, clame com toda sua força pelo Paráclito e pela purificação final do
Espírito que, restaurado, marcha para fora desse universo insano.
E
o que é possível dizer sobre a Escatologia no Catarismo? Não existe uma fonte
autoritária, formal e dogmaticamente aceita, que todos compartilhem. Porque
este objetivo de libertação não é uma questão de fé, não se pode fiar o desejo
de libertação em meras palavras escritas, porque é uma pulsão viva e agônica do
Espírito a cada minuto que este passa, consciente, na Terra. Ademais – o Futuro
não existe, mas é construído com cada ato contíguo na grande cadeia de
fenômenos que constitui a “história”, fio de consciência do mundo.
Então
não existe um desenlace esperado em que o Cátaro acredita? Não. FORMALMENTE
não. Depositamos toda a nossa energia em clamar pelo Deus Incognoscível, em
pedir que interceda por nós. Cremos na primazia do Bem sobre o Mal, e sabemos
que o Demiurgo será derrotado, só não sabemos como isto virá a ocorrer. Nos
colocamos à disposição para travar a guerra espiritual em qualquer forma que se
apresente. E buscamos ESCREVER esse fim, impulsionados à guerra pela nostalgia
do lar perdido e pelo Amort. Ninguém sabe, ou pode saber, como será esta guerra
pela libertação do homem. Mas preparar-se para ajudar a desencadear o fim que
se espera – é um dever de Honra, e expressão da Bonomia como princípio
espiritual: restaurar o que é bom em si, o perene e o eterno, e destruir por
compaixão aquilo que pertence ao mal – a finitude, a transitoriedade, a dor e a
morte. Por isto vivemos, e a isso clamamos a todos os nossos irmãos vivos e
mortos que hoje travam a Guerra Espiritual ou a travaram no passado. Lutaremos
todos juntos quando soar a hora final do Universo.
Este
é o “esqueleto”, a estrutura geral do que o Catarismo entende por escatologia.
À parte disso, existem muitas visões, tantas quantas existem Cátaros. Questão
de opinião e gosto? Não é tão simples.
Para
um Iniciado, a afirmação de uma visão escatológica é a imposição da sua
vontade, da sua Verdade espiritual, sobre a própria realidade fenomênica deste
mundo ilusório. Ao afirmar com toda a
força volitiva sua palavra, seu desejo de intervenção e banimento do Mal, os
Perfecti como que profetizam – marcam com ferro e brasa sua Vontade mais
profunda de como esta existência miserável acabará. Tais profecias ou visões
possuem um alto valor em si, não apenas como fonte de inspiração, mas de
sincronização das vontades individuais no grande plano de Kristos Luz para a
batalha que decidirá a libertação de todos os Espíritos aprisionados.
Alguns
textos gnósticos, como o Evangelho do “Pseudo”-João, possuem escatologias
gnósticas valiosíssimas. Porém, a visão mais poderosa já registrada em palavras
pertence a Nimrod de Rosario, e a transmitiremos na íntegra.
Não
apenas Nimrod expressou nesta visão sua própria visão dos eventos que se
sucederão, mas também inspira em outros irmãos no Espírito a energia e a força
necessárias para resistir como as “Pedras do Deserto” e permanecermos
interiormente purificados, intocados pelo horror e pela imundície que imperam
no mundo. Suas visões dão alento, dão esperança e renovam o desejo de luta pela
libertação, o desejo de resistir e clamar aos Éons nossa herança divina, que
não são esperanças ou expectativas passivas, mas algo que se deve criar “alquimicamente”,
transmutando a realidade interior através da Catharsis, com todo o fogo Vril
que temos em cada um de nós.
A causa foram as scintilla
luminis,
ou raios de lua, que começaram a brotar deles. Milhares de raios que saltavam
em todas as direções, ora girando em círculos, ora em espiral, ou traçando
curvas brilhantes de caprichosa forma, impediam-me de distinguir o fundo do chapéu,
ou ainda o próprio chapéu. Fascinado pelo espetáculo, encantado, talvez
hipnotizado, recordei sem querer a definição do alquimista Khunrath; que disse:
“Scintillae Animae Mundi igneae, Luminis
nimirum Naturae”,
ou seja, são raios ígneos da Alma do mundo, que
se evidenciam na Natureza. Tais
scintillae acompanham sempre as fases da Alquimia; e nesse
momento estavam presentes todos os elementos do opus: no Gabinete da Natureza,
achava-se a matéria-prima dos corações; a aqua permanens do Sulphur Philosophorum; e encontrava-se presente Mercúrio, grande Artifex
transmutador,
por dizer, tio Kurt Shivatulku, representante de Wothan, que e Hermes, e que é Mercúrio.
Girando
em um turbilhão hipnótico, as scintilla luminis foram cobrindo meu campo de visão. Raios
dourados brotavam agora de todas as partes e percorriam o espaço ate apagar-se,
em espaço estranhamente carente de vento e de sons, como se a Natureza inteira
estivesse entretida em manifestar sua lumen naturae. Tirei a vista do chapéu cogumelo e da garrafa
de acido, invisíveis sob a vertente luminosa e, semianestesiado, passei a vista
ao redor: do mundo inteiro pareciam surgir scintillae. Da casa, do chão, das arvores que antes não vi,
mas que se erguiam a dez passos, de todas as coisas emergia uma aura dourada e
cintilante, composta por miríades de scintilla luminis. O que aquela visão significava a súbita atividade
de um sentido novo, que tornava possível perceber o Anima Mundi, uma Luminositas
sensus naturae? Mas
uma luminosidade maior atraiu minha atenção. Sobre os cadáveres dos assassinos
orientais, em efeito, começavam a elevarem-se duas nuvens de vapor ectoplasma
tico, também cintilantes, devido à emissão e absorção de milhões de scintillae; a um metro de altura, aquelas nuvens se
mantinham girando em espiral, e nutrindo-se constantemente do vapor leitoso que
emanava das poças de sangue. Como em um quadro da Escola Impressionista, como
em uma obra de Enrique Matisse, Eu via a realidade decomposta em milhões de
pontos de cores, raios de luz que giravam com forma de elementum
primordiale e
da massa confusa, do chaos naturale. Com a visão saturada pela multidão de scintillae, senti que interiormente e irracionalmente uma voz
me falava, dizia: “Yod, Yod, cada scintillae é Yod, um
olho de Avalokiteshvara”; “e
entre todas as scintillae, ha duas que são O Uno, são as scintillae unas, as mônadas
de Bera e Birsa que não podem morrer”.
Já escaldado pelo acontecido em Santa Maria, foi
só escutar essas vozes procedentes da Alma, da minha própria Alma influenciada
pela Grande Mãe, e remeti-me à Virgem de Agartha. Sim, fechei como pude meus
ouvidos, já que não podia prescindir a grandiosa luminositas, e entreguei-me ao rapto da Virgem do Menino de
Pedra, cujo auxilio espiritual me permitiu manter-me naquele terrível momento.
De acordo com o que ocorreu na sequencia, teria sem duvidas perdido a razão se
Ela não apoiasse meu Espírito desde a Origem. Porque neste momento, quando a
quantidade e multiplicidade das scintilla haviam alcançado sua máxima exaltação, todas
se abriram em uníssono e mostraram um olho inexpressivo, um olho que era o
mesmo olho repetido dementemente em todos os pontos do espaço. Toda a Natureza, todas as coisas
diferenciadas, tudo o que alcançava ver e perceber fervia agora de olhos inexpressivos,
de olhos semelhantes que indubitavelmente nos olhavam; e
aqueles milhões de olhos de peixes, de oculi piscium, eram os Olhos de Misericórdia
que se abriam para contemplar as Almas de seus filhos amados, as Almas de Bera
e Birsa que estavam desencarnando em meio a um grande terror.
Analisando a cena: a forma geral dos entes em
nada havia mudado, todos são distinguíveis e reconhecíveis, todos são nomeáveis
como sempre; a arvore, o piso, a casa, o céu, a nuvem, os corpos, todos os
objetos seguem sendo os mesmos; mas agora apresentam uma vida cheia de
olhos divinos, de olhos que miram com Amor Natural. Pensar na arvore, toda composta de olhos, e na
casa, no céu, também compostos de olhos, e pensar que os
milhões de olhares da arvore para a casa, da casa para a arvore, e as de ambas
ao céu, são os laços que ligam e religam aos entes, e constituem a
superestrutura da realidade: uma
estrutura de objetos ligados entre si pela Vontade do Criador e pelo Amor
natural da Grande Mãe.
Se já o havia imaginado, ha de pensar que agora
eu me encontrava nessa cena, espantado pelos onipresentes olhos de
Avalokiteshrava, “que a tudo vê”, e estremecido ate a raiz de meus sentimentos,
agitado em minha natureza emocional pelo intenso Amor da Grande Mãe, por sua
Piedade ilimitada. Assim foi, pois, primeiro, a fascinação pelas scintillae,
e logo o
espanto pela ebulição pan-óptica; e o espanto maior foi comprovar que meu próprio
corpo estava constituído por milhões de olhos compassivos. E este fenômeno terrível,
demente, explica porque minhas mãos se detiveram antes de tomar os corações do chapéu
cogumelo.
- Neffe! Arturo! - a voz de tio Kurt se fez
ouvir de vários metros de distancia - Sabia que isto ocorreria e sei o que esta
vendo: não tema que é tudo ilusão. Ainda podemos cumprir nosso objetivo. Pode
ouvir-me? - Sim tio Kurt! - respondi atordoado - Te escuto como se sua voz
procedesse de longa distancia, e me encontro muito sugestionado por essa profusão
de olhos que se manifesta na Natureza, por esse monstro em que se converteu o
Mundo. - Escuta-me bem, Arturo! Fará exatamente o que eu te pedir e respondera
as minhas perguntas. Irá me comunicar tudo o que verá. Pois
aqui não ha mais olhos que os seus; todos os olhos de Avalokiteshvara são ilusórios,
são projeções de sua própria debilidade emocional. Fiz um esforço e voltei-me para a direção da
qual vinha sua voz. Vi milhões de olhos brilhantes, vi que toda a realidade
continuava integrada por olhos de peixe, mas onde estava tio Kurt, mas onde
deviam estar seus olhos, só vi dois espaços vazios, duas crateras de negrura impenetrável,
duas janelas abertas a Outro Mundo; soltei um grito de horror e retornei o
olhar ate adiante.
- Esta comigo, Arturo? - perguntou insolitamente
tio Kurt.
- Sim, tio Kurt! - respondi uma vez mais.
- Você realizará a obra. Eu só colocarei, no
Principio, o Signo de Origem sobre a Pedra de Fogo!
Recordei as palavras de Birsa na Carta de
Belicena Villca: “os homens mortais, homens de barro, que evoluíram a partir do
barro, desde a Pedra de Fogo do Principio que refletia uma mônada semelhante ao
Uno, chegariam ao final como indivíduos idênticos à Pedra de Fogo, como
Metatron, o Homem Celeste, o arquétipo realizado, o Cordeiro Filho de Binah;
seriam assim quando o tempo estivesse cumprido, e cada um ocupasse seu lugar na
construção, de acordo com o símbolo do Messiah; seriam assim no dia em que o
Reino de YHVH se concretizasse na Terra, e reinasse o Rei Messiah; e
a Shekhinah se manifestasse”...
Tantos olhos! Sim, aquela manifestação de Avalokiteshrava, da Grande Mãe Binah,
era também a Shekhinah, como a qualificaria Zacarias: “essas
raízes óticas da arvore de YHVH representam a Israel Shekhinah”! No principio do tempo, o homem criado era como
estrutura de barro; ao final seria como Pedra de Fogo. As tais Pedras, as plasmou
irreversivelmente o
Signo da Origem, transformando-as em Pedras Frias, em Pedras Não Criadas,
segundo se escandalizavam os Demônios, marcando-as com o abominável sinal: “Eles
gravaram o Sinal Abominável na Pedra de Fogo, na qual cada Alma dos homens
de barro se assentava. E o Signo Abominável esfriou a Pedra de Fogo, Aben
Esch, e a
tirou do final. Entao, Cohens, a Pedra que deve ser lavada com lixívia
no Final, e a Pedra Fria que não tinha que estar onde esta, porque não foi
posta no Principio pelo Uno, pelo Criador”.
“Pedra maldita, Pedra de escândalo, Semente de Pedra. Eles a plantaram depois
do Principio na Alma do homem de barro e agora se acha no Principio”.
- Transmutemini de lapidibus in vivos
lapides philosophicos![1]
- escutei tio Kurt repetir as palavras do Magister Dorn - Olha na Matrix!
- Vejo uma água
dourada, uma aqua aurens,
agitada por incontáveis raios de luz: e o anima panoptes! - Ponha os corações na Matrix! Sem pensar,
busquei pelo tato o chapéu, extrai os órgãos viscosos, e os introduzi pela boca
da garrafa. Nem bem se misturaram ao acido sulfúrico, uma emanação de vapor
toxico me obrigou a retirar a cabeça: pela abertura do uterus
philosophorum, surgiu
durante um momento um vapor rubro,
dando a impressão que o liquido havia entrado em combustão; porem, logo se
acalmou, e um novo resplendor começou a brilhar do interior da garrafa, desta
vez, negro. Nesse momento apenas pude adverti-lo porque tio Kurt queria que eu não
tirasse os olhos do acido e seu macabro conteúdo, mas foi evidente que diminuiu
substancialmente a manifestação morfo-otica geral. - O que vê agora? - perguntou de seu
posto.
- O firmamento estrelado!
Em efeito, o acido havia mudado de cor e agora a
garrafa continha um liquido negro, nigredo, que apresentava uma superfície brilhante e
iluminada por uma infinidade de scintillae fixas, raios de luz que eram as estrelas de um
particular microcosmos.
- O que vê agora? - repetiu.
- O Zodíaco. Centenas, milhares de constelações,
todos os Arquétipos do Universo estão neste céu.
- O que vê agora? - insistiu.
- Duas estrelas que se destacam. Duas estrelas
mais brilhantes que todas as outras, avançam e se situam no lugar central,
abaixo do Pé da Virgem da Espiga, perto do Corvo.
- O que vê agora? - inquiriu.
- As constelações parecem mais vivas do que
nunca, os Arquétipos vibram no Céu, animais de todas as classes se preparam
para descer. Vejo-os e escuto seus sons. Em verdade os sons dos animais
celestes haviam se tornado tão reais, que só ao deixar por um instante a vista
da matéria, compreendi que certamente, alguns deles estavam presente ao meu
redor: distingui com sobressalto três rugidos, e por isso dirigi essa fugaz mirada
ao redor; eram o grunhido do porco, o latido do
cachorro e o rugido do urso.
Com crescente espanto, comprovei então que as nuvens ectoplasma ticas que flutuavam
sobre os cadáveres de Bera e Birsa, haviam adquirido a inconfundível forma de javali: sobre os cadáveres dos assassinos orientais,
materializavam-se enormes javalis brancos, que grunhiam ameacadoramente e
mostravam em seus corpos os mil olhos de Avalokiteshrava, os mil olhos do Anima
Mundi, os mil olhos do Uno, os mil olhos de Purusa. Os cães daivas haviam se
aproximado, sem duvida chamados por tio Kurt, e pareciam vê-los sem problemas,
porque latiam com ímpeto incontrolável. Mas a maior impressão, tive ao observar
tio Kurt. Como explicar o que vi? Só talvez dizendo que
sua forma mudava; que
por momentos era tio Kurt e por momentos um enorme urso irado, um
ursus terrificus.
Mas tal explicação não seria de todo correta porque, certamente, tio Kurt havia
se convertido em um Homem-Urso: era a fúria de tio Kurt, a Fúria
do Guerreiro Urso, o
berserkr gangr, a forca que o transformava. Busquei a tio Kurt com os olhos e descobri um Berserkr,
a um Guerreiro da
Ordem Einherjar de Wothan, a um Iniciado Hiperbóreo nas Vrunas de Navutan. E a visão
regressou espantada aos olhos, acompanhada por um violentíssimo rugido e o movimento
compassado, quase Ritual, de suas garras poderosas. Mas quando falou, era novamente
tio Kurt.
- O que vê agora? - exigiu.
- As duas estrelas mais brilhantes se transformaram
em dois javalis gêmeos!
- O que vê agora?
- Os javalis fogem apavorados e buscam a proteção
de sua Mãe, o Dragão do Universo!
- O que vê agora?
- Vejo os javalis abrigarem-se no regaço do Dragão!
E vejo o Dragão: tem mil cabeças e mil olhos; e em cada cabeça uma estrela de
Davi; e em cada cabeça aparece o rosto de Binah; e suas mil bocas cantam a Canção
do Cordeiro. O Dragão acolhe em seus braços o Cordeiro e os Javalis, a destra e
sinistra, grunhem sem cessar. E fazendo coro ao Dragão e aos Javalis, três terços
das estrelas do Céu cantam assim:
Avalokiteshrava!
Grande Mãe Binah!
Já chega, já chega
O Holocausto Final!
- O que vê agora?
- O Dragão Binah sustenta com sua Mão direita o
Cordeiro, enquanto que com a
esquerda toma uma taça transbordante de lixívia
humana. Agora derrama o conteúdo da
taça sobre a Terra.
- O que vê agora?
- As mesmas estrelas cantam:
Avalokiteshrava!
Grande Mãe Binah!
Sua Piedade, sua Piedade,
Lava a Terra com a lixívia de Jehova
- O que vê agora?
- A lixívia cai sobre a Terra. Dois javalis
brancos correm no céu de leste a oeste anunciando a viva voz: “A
peste, a peste!” Tudo
o que a lixívia toca perece. A Terra se converte em um deserto de
Pedras! Só
sobrevivem cento e quarenta e quatro mil que pertencem a casa de Israel: mas
estes fogem do deserto e se refugiam em um vale, que logo será inundado pela lixívia.
O Dragão e os Javalis se enfurecem porque ainda sobram as Pedras do Deserto,
porque a lixívia não as calcinou e dissolveu como o resto dos seres viventes!
- O que vê agora?
- O Dragão envia então ao Cordeiro, custodiado
por seus irmãos, os Javalis brancos a pastar na Terra. Mas a Terra esta estéril
e o Cordeiro desfalece entre as Pedras sem
poder alimentar-se.
- O que vê agora?
- O Dragão, dono de uma terrível ira, amaldiçoa
as Pedras e ao Deserto de Pedras. E grita que buscará ao Cordeiro antes que o
deserto cause sua morte!
- O que vê agora?
- A imunda lixívia caída do Céu, e a sujeira que
conseguiu arrancar da Terra, escorreram ate um vale, a Leste do Deserto de
Pedras, e formaram um grande mar! Éden e Paraíso, são os nomes desse mar. E Tártaro
e Tharsis, são os nomes do Deserto de Pedras.
- O que vê agora?
- O Deserto empurrou o cordeiro ate sua borda,
que e assim mesmo a borda do mar de lixívia! O Dragão, no Céu, voltou a gritar
que auxiliara seu filho, que se acha entre o Éden e o Tártaro.
- O que vê agora?
- Os mil olhos do Dragão, brilhantes como Sois,
se concentram sobre o Deserto das Pedras e as Pedras padecem de mortal sufocação.
A maioria das Pedras se abranda e derrete, e o Deserto se torna um enorme lago
de lava fervente: só as Pedras mais duras permanecem em seu lugar, mantendo com
tenacidade sua forma separada!
- O que vê agora?
- Um terrível clamor se eleva do Deserto e sobre
alem do Dragão: as Pedras reclamam ao Incognoscível ajuda contra o Cordeiro e
contra a Mãe do Cordeiro, o Dragão Binah, que lhes jogou a lixívia de Jehova e
os separou da Terra, e pretende calcina-los no Deserto por
não servirem de alimento para o Cordeiro.
- O que vê agora?
- Apareceu um sinal no Céu: uma
Virgem, mais Negra que a Noite,
com a Lua debaixo de seus pés, e usando uma Coroa com Trezes Estrelas Não
Criadas! E a Virgem de Agartha que veio socorrer as Pedras em Nome do Incognoscível.
- O que vê agora?
- A descida da Virgem produz como um manto de
negrura refrescante sobre o Deserto, que havia se transformado em lago de lava
ardente, e traz imediato alivio as Pedras. A presença da Virgem refresca e
endurece novamente as Pedras, porque se interpõe com sua obscuridade ante os
mil olhos cadentes do Dragão! E a Virgem porta uma espiga na Mao; e vai
deixando cair os grãos sobre o Deserto de Pedras; e as Pedras que recebem os grãos
se tornam imunes ao Fogo do Céu, já não podem ser amolecidas, e ficam
assinaladas com uma Marca, um Signo único que significa o Negro, o Duro e o Frio.
E a Marca da Virgem se chama “Signo de Vril”.
- O que vê agora?
- Agora o Cordeiro esta perdido entre as Trevas,
a Dureza e a Frieza das Pedras. E chama com desespero sua Mãe, o Dragão Binah,
porque as Pedras ameaçam estrangular sua garganta ou submergi-lo
no mar de lixívia.
- O que vê agora?
- A Virgem esta grávida, e grita pelas dores e
angustias do parto. E apareceu outro Sinal no Céu: um Dragão de um vermelho
aceso, que tem mil cabeças e mil olhos e mil estrelas de Davi em suas cabeças;
sua cauda varre a terça parte das Estrelas do Céu e as joga na Terra; e descem
sobre o mar de lixívia, comandadas pela e estrela Thuban. E o Dragão também
desce para cuidar do Cordeiro e atacar a Virgem.
- O que vê agora?
- O Dragão se deteve frente a Virgem que estava
a ponto de parir, para devorar seu filho quando for dar a luz. E
Ela da a luz a um Menino de Pedra, que há de reger todas as Nações com um
Tridente de Vajra. Führer é o nome do Menino de Pedra. Mas seu filho foi protegido do Dragão ao ser
confundido com as Pedras do Deserto, e a Virgem se refugiou no Deserto, onde
tem um lugar disposto pelo Incognoscível para residir durante dois mil, cento e
oitenta e oito dias.
- O que vê agora?
- Ha uma batalha no Céu! Kristos-Lucifer, o Capitão
Kiev e os Siddhas Leais, se levantaram a lutar contra o Dragão. O Dragão
apresentou batalha, e também seus Anjos Imortais, seus Javalis e estrelas. Mas não
prevaleceu nem houve lugar para eles no Céu. Foi precipitado
o Grande Dragão,
que se chama Jehova-Satanas, o que organiza o Universo inteiro; foi precipitado
na Terra, e
seus Anjos foram precipitados com Ele.
- O que vê agora?
- Ouço uma grande voz no Céu que diz:
Agora chegou a Libertação
E o Poder e o Reino do Incognoscível
E o Império de seu Kristos
Porque foi precipitado o aprisionador
De nossos Camaradas
O que dia e noite os marcava ante a
Vista do Incognoscível
Mas os Siddhas Leais o venceram.
Pelo Sangue Puro
E pelo testemunho de Valor que deram
Pois não amaram a Vida Quente
Tanto que retiraram a Morte
Por isso temei, Céus,
E os que moram neles
Ai da Terra e do Mar!
Porque baixou entre vós o Diabo,
Possuído de grande ira
Sabendo que lhe resta pouco tempo.
- O que vê agora?
- Quando o Dragão se viu precipitado
na Terra,
perseguiu a Virgem que havia dado a luz o Menino de Pedra. Mas a Virgem
dispunha de duas asas do Grande Condor e podia voar ao Deserto, ao se lar, onde
resistiria por um tempo, e por dois tempos, e metade de
um tempo,
longe da presença do Dragão. O Dragão vomitou por suas bocas, atrás da Virgem, lixívia
como um Rio, para fazer com que o Rio a arrastasse. Mas o Deserto ajudou a
Virgem. E o Deserto abriu sua boca e tragou o novo Rio de Lixívia que o Dragão
havia vomitado; e ele escorreu ate o mar de lixívia, onde estavam o Cordeiro e
os cento e quarenta e quatro mil. E o Dragão se enfureceu contra a Virgem e foi
fazer guerra contra os demais descendentes dela, os que exibem Sua Marca e tem
o Testemunho de Kristos Lúcifer. E se situou na margem do mar de lixívia.
- O que vê agora?
- Vejo subir do Deserto um homem com o Poder de
uma Besta. E um ser metade homem, metade urso; ou metade homem, metade lobo;
por momentos e como urso e por momentos e como lobo; quando deve enfrentar as
Abelhas de Israel e como Urso; e quando ha de lutar contra o Cordeiro e
semelhante ao Lobo. E o Filho da Virgem de Agartha que cresceu como Pedra no
Deserto; e o Führer que regressou para combater a guerra contra o Cordeiro e os
cento e quarenta e quatro mil! Seu rugido estremece a Terra, e a seu passo se
levantam as Pedras do Deserto, as que levam o Signo do Vril! E as Pedras
Geladas pela Virgem de Agartha são também homens-lobo que uivam com fúria que não
pode ser contida!
Não exagero em nada se asseguro que o rugido que
surgiu neste momento do lugar onde estava tio Kurt perguntando monotonamente
“que vê agora?” fez tremer a terra. Eu descobri quando vi sobre a superfície do aqua
vitae da
garrafa, mas minhas palavras haviam adquirido uma formalidade profética que se
conformava diretamente no inconsciente. Fazia tempo que eu não pensava no que
dizia: simplesmente expressava o que chegava a minha mente, que a essa altura não
podia explicar se realmente o via ou o imaginava. O que, claro esta, não era
produto da minha imaginação, era a transmutação de tio Kurt e seus bestiais
rugidos e uivos; nem os javalis ectoplasma ticos que, cada vez mais nítidos e
patentes, se materializavam sobre os cadáveres dos assassinos orientais.
Aos rugidos do homem-urso, os Javalis respondiam
com o maldito zumbido apícola que também conhecia agora; mas quando o
homem-lobo uivava, os Javalis se jogavam a tremer, vitimas do pânico, em pelo ouriçado
de terror e grunhindo em desespero. E eu, ao perceber o que ocorria ao meu
redor, tratava de manter a vista hipnoticamente fixa na matriz com o acido e os
corações, contemplando umas visões que, por mais fantásticas que pudessem ser,
eram menos terríveis que a Realidade da Chácara de Belicena Villca.
- O que vê agora? - perguntou claramente a voz
de tio Kurt.
- Vi avançar um Exercito enorme formado pelos
que levam a Marca da Virgem e são como a Besta, os inimigos do Cordeiro. E vejo
que vão conduzidos pelo Führer, que e como um lobo furioso, e acompanhados pela
Virgem, que voa sobre eles levando o estandarte do Signo do Vril e da Espiga. E
o Exercito de lobos se aproxima do mar de lixívia. E o Cordeiro e os cento e
quarenta e quatro mil membros do Povo Eleito, se estabelecem em uma Ilha Branca
situada no meio do mar de lixívia, que havia se formado com o cume do Monte Sião.
Jerusalém Celeste e Chang Shambala são os
nomes dessa Ilha.
- O que vê agora?
- Ao Cordeiro, de PE sobre o Monte Sião, e os
cento e quarenta e quatro mil que tem seu nome e o nome de seu pai escrito na
fronte. E ouço vozes do Céu que sonham com a harmonia da Natureza múltipla. E
cantam uma canção nova frente
ao Trono de Jehova, frente aos dez Sephiroth, ante aos Anciãos de Israel e ante
a Shekhinah. Ninguém pode aprender o Cântico da Criação, senão aqueles cento e
quarenta e quatro mil que foram resgatados da Terra. Estes são os que não
conhecem o amor da mulher porque são Sacerdotes sodomitas. Estes são os que
seguem o Cordeiro onde quer que este vá. Estes são os que constituem a
hierarquia das Almas, que vai desde o homem, ate Jehova e o Cordeiro. Não
conhecem a Verdade da Criação. São animais-homens perfeitos.
- O que vê agora?
- Observo agora uma Época anterior a queda do Dragão:
se veem sobre a Terra aos homens que já tinham o Sinal do Vril
e a uns Anjos
do Dragão que os ameaçavam desde o Céu. Um deles, o que voa mais alto no Céu,
leva o Evangelho do Cordeiro e anuncia o Holocausto de Fogo aos moradores da
Terra, a toda Nação e Tribo, a toda língua e Povo, e diz com grande voz:
“Temei a Jehova e dai-lhe gloria
Porque chegou a hora de seu juízo
Adora a quem criou o Céu, a Terra
E
o Mar e
os mananciais de água!”
E outro anjo, o segundo, o seguiu dizendo:
“Caiu,
caiu, Babilônia a Grande
A
que deu de beber do vinho do
Império
Universal a todas as Nações”
E outro Anjo, o terceiro, o seguiu dizendo com
forte voz:
“Se alguém adora a Besta e sua Imagem
E recebe sua Marca na fronte ou na Mao
Beberá
ele também do
Vinho
da fúria de Jehova
Vinho
puro, concentrado, lixívia humana
Da
taça de sua ira.
E será atormentado com
Fogo e Enxofre
Na presença dos Anjos Santos
E na presença do Cordeiro.
A
fumaça de seu tormento sobe
Pelos
séculos dos séculos
E não tem repouso nem
de dia nem de noite
Os que adoram a Besta e sua imagem
Os que recebem a Marca de seu nome”
“Aqui esta a Constancia do Povo Eleito, os que
guardam os mandamentos de Jehova e a fé no Messias!”
- O que vê agora?
- Outro Anjo Imortal. Aponta para a Cidade que
esta no Monte Sião, no meio do mar de lixívia, e diz: “eis ali a desposada, a
esposa do Cordeiro”! Este Anjo fala para os que adoram ao Cordeiro, e lhes
promete a salvação dos homens-lobo escondendo-se na cidade de Jehova. Assim
lhes fala:
“Baixara uma cidade do Céu
Sobre o Monte Sião
Da parte de Jehova
Seu resplendor será semelhante a uma Pedra
preciosissima
Que emite beleza cristalina
Terá uma muralha grande e elevada
Na que haverá doze portas
E sobre as portas, doze Anjos
E os nomes escritos em cima que são
Os
das doze tribos dos Filhos de Israel
Ao
Oriente, três portas; ao Sul, três portas;
E
ao Oriente, três portas.
A muralha da cidade terá doze bases
E sobre elas doze nomes,
Dos doze apóstolos do Cordeiro.”
E o Anjo utiliza um bastão de ouro para medir a
cidade, suas portas e sua
muralha.
“A cidade estará assentada em forma
quadrangular, e seu comprimento será igual a sua largura.” E mede a cidade com
o bastão e tem doze mil estádios. Seu comprimento, largura e altura são iguais.
E mede a muralha e tem cento e quarenta e quatro côvados, segundo a medida
humana, que e a do Anjo. E o Anjo disse:
“O material da muralha será jaspe e a cidade de
ouro puro semelhante ao cristal puro. As bases das muralhas da cidade estarão
adornadas com toda a classe de pedras preciosas. A primeira base será jaspe; a
segunda, safira; a terceira, calcedônia; a quarta, esmeralda; a quinta, calcedônia;
a sexta, coralina; a sétima, crisolito; a oitava, berilo; a nona, topázio; a décima,
ágata; a décima primeira, jacinto; e a décima segunda, ametista. As doze portas
serão doze perolas; cada uma das portas será uma só perola, como cristal brilhante.
Não haverá santuário nela, porque seu santuário será Elohim, Jehova Sebaoth, e
o Cordeiro. E a cidade não necessitara de sol nem de lua para que a iluminem;
porque a Gloria Sephiroth de Jehova a iluminara
e sua lâmpada será
o Cordeiro. E caminharão as Nações a sua luz, e os
Reis da Terra levarão a ela sua Gloria. Suas portas jamais se fecharão de dia e ali nunca haverá noite. E levarão a ela a
Gloria e a honra das Nações. Não entrara nela coisa impura, não
consagrada pelos sacerdotes de Israel, nem
os que levam o Sinal Abominável, senão os inscritos no livro da vida do Cordeiro.”
- O que vê agora?
- Um rio de água vivente, do que saem todas as
coisas criadas, que surge do Tronco Kether de Jehova e do Cordeiro. O Anjo pronuncia as
ultimas palavras:
“No
meio da praça, e de um lado e de outro deste Rio, haverá uma arvore da Vida que
dará doces frutos, um a cada mês. E as folhas da Arvore servirão para curar as Nações
dos pecados contra Jehova. E não haverá condenação para ninguém, e estará nela o Trono de Jehova e do Cordeiro,
e seus servos lhe prestarão culto. Verão o Seu rosto, e levarão o nome dele na
fronte. E não haverá noite, e nem negrura infinita, mas não necessitarão de lâmpada nem luz do
Sol, porque Jehova Elohim os iluminara, e reinarão pelos séculos dos séculos.”
- O que vê agora?
- Vejo a Batalha Final. Vejo o Führer e seu
Exercito de Homens-Lobo tomar por assalto a Ilha de Sião, e surpreender a Jerusalém
Celeste, que é Chang Shambala, e causar grande mortalidade entre seus
moradores. Nem Thuban e a terça parte do Céu, postos de guarnição, conseguem
deter a manada furiosa! O Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil
sacerdotes se encontram encurralados na Cidade Maldita, construída
com o corpo do Dragão. E
morrem aos milhares. Preferem morrer que ver o sinal do Vril dos Homens-Lobo. E
a Cidade-Dragao palpita e se contorce, sem conseguir tirar de cima os Homens-Lobo.
E os imortais olhos do Dragão derramam inúmeras lagrimas; lagrimas que escorrem
ate o quádruplo Muro das Lamentações; lagrimas de piedade pelos Filhos de Israel,
no Cordeiro e no Dragão; e a Virgem de Agartha crava seu estandarte no Muro das
Lamentações, o qual é como o Coração de Binah, a dona de todos os corações;
sim, no coração de Avalokiteshvara foi plantado o Signo do Vril, a Marca que
causa o Negro, o Duro e o Frio das Pedras, e pelo Muro das Lamentações correm
suas lagrimas como surgidas de uma cascata milagrosa. E trevas duras e geladas
se abatem sobre Sião: e a Morte Fria da Virgem; a Morte que arrebata o calor
dos corações do Cordeiro e dos cento e quarenta e quatro mil Santos de Israel;
a Morte que desata que vem nas Trevas, os Homens-Lobo de Pedra do Exercito do Führer.
- O que vê agora?
- A Batalha Final continua na Terra, mas já não
posso ver o que ali ocorre, pois vejo os javalis brancos que fogem
vitimas do pânico a esconder-se no Céu; vão perseguidos por parte do
Exercito-manada de Homens Lobo de Pedra! Mas no Céu só restam a quarta parte
das Estrelas!
- Chegou o momento! O Final é igual ao
Principio! –
exclamou surpreendentemente tio Kurt.
Fui surpreendido por aquelas inesperadas
palavras de tio Kurt. Contudo, perguntou na sequencia:
- O que vê agora?
- Os Javalis gêmeos subiram ao céu estrelado
buscando o Dragão. Mas o Dragão não esta no Céu e sim na Batalha Final. E os
Javalis se converteram novamente em estrelas, e se situaram abaixo dos pés da
Virgem, perto do corvo. E no céu faltam muitas constelações, como um livro de
imagens do qual arrancaram muitas paginas.
- O que vê agora?
- As estrelas do Céu, todas
as que sobraram,
abandonam seus postos e giram em torno das estrelas-Javalis. É o chaos
primordialis, a
massa confusa.
- Projetarei o Signo de Origem sobre a
massa confusa! -
gritou tio Kurt. Ao que parece colocou-se muito próximo de mim, as minhas
costas. Imaginava suas orbitas vazias e negras, profundas e infinitas,
somando-se ao recipiente alquimista, cuja superfície brilhante alojaria sem remédio
o que ele era: o Signo da Origem, o
Signo do Vril, a Marca da Virgem, o Signo de Lúcifer, o Signo de Shiva. O imaginava, pois não desejava olhar e ver,
como antes, a Morte Fria, ao Homem-Urso e ao Homem- Lobo.
Na matéria, a superfície Sulphur
Philosophorum mostrava
a imagem de um rodamoinho de lumen naturae que giravam ao redor das estrelas gêmeas, as mônadas
de Bera e Birsa.
Quando a primeira Runa se refletiu sobre elas, perderam grande parte de seu
brilho e começaram a solidificar-se. E assim continuaram tornando-se opacos e solidificando-se
a medida que se sucediam as seguintes Runas. E quando, ao fim, se plasmaram as
Treze Runas, as duas estrelas experimentaram uma metamorfose e se transformaram
em flores de Pedra. Entao, como se tio Kurt me houvesse feito a pergunta,
descrevi em voz alta o que via:
- As estrelas são agora duas flores de Pedra. São
dois padmas ou lótus: Esther é o nome dessas Pedras. E as
Treze Runas se movem e se associam entre si de incompreensível maneira. E as
Treze Runas formam um Signo que desintegra o redemoinho, ao chaos
confusum, e
o posiciona pelas trevas mais impenetráveis; só as flores de Pedra caíram no Sulphur
Philosophorum: e
agora se precipitam ao fundo da matéria. Opus consumatum est!
- Possui agora dois lapis
philosophorum! -
disse tio Kurt - Você completou a Obra por intermédio da Virgem, porque
você viu a Obra! E
você recebeu o descensus spiritus sancti creator! Você e igual a Mim, e Eu sou igual a você! Naturalissimum
et perfectissimum opus est generare tale quale ipsum est!”