La Montagne

La Montagne
Fechados contra o Mundo e seu Rei, Espírito contra Matéria!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Pré-História do Catarismo (parte 1)


PARTE 1 – DA CÍTIA ORIENTAL AOS BOGOMILOS

UM ESTRANGEIRO INTRIGANTE

O estrangeiro chamado Abaris, filho de Seuthes, causou grande sensação por onde quer que tenha passado na Grécia: em Esparta, segundo Pausânias, Abaris livrou a cidade de uma praga com a imposição de suas mãos sobre os doentes e erigiu um templo a Perséfone. Em Cnossos, também livrou a cidade de uma peste, e na Sicília debateu com Pitágoras e aconselhou o rei Phalaris contra o abuso de seu poder.

Filósofo, curandeiro e profeta, Abaris era reputado por ter sido treinado em Hyperborea, por isso o apodo Abaris Hyperboreus dado pelos helenos, que se impressionaram com os dons deste viajante que seguia, cidade após cidade, curando os doentes e pregando uma doutrina da imortalidade. Diz a lenda que ele ganhara de seu deus patrono Apollo, em Hyperborea, uma flecha dourada com a qual ele viajava pelo ar, e passava longos períodos sem comer.

Talvez apenas as habilidades místicas de Abaris não tivessem surtido tanto efeito, num mundo antigo apinhado de místicos, mas sua atitude - as roupas simples de um camponês da Cítia, a atitude franca e honesta, a simplicidade e o ascetismo atraíam as pessoas: como se ele tivesse, elas pensavam para si, algo de diferente, algo de fora deste mundo, uma pureza interior tão poderosa que matava, dentro dele, qualquer malícia e qualquer desejo mundano.

Para entender o contexto de surgimento de uma figura como Abaris, bem mais de um milênio antes do surgimento dos Perfeitos albigenses, numa Grécia antiga que reputava sua origem e ascendência a um povo obscuro e distante da costa norte do Mar Negro, precisamos entender a religião da Cítia, pátria do curandeiro.

OS CITAS: RESUMO HISTÓRICO E PENSAMENTO RELIGIOSO




Os citas eram um conjunto de povos, indo-iranianos, que habitavam desde a Trácia, atual Romênia, até a Ásia Central (Cazaquistão), passando pela Ucrânia, Ossétia, sul da Rússia, os montes Ural, o Cáucaso e o norte do Irã, indo parar quase no oeste chinês, onde seus primos de sangue Tokarianos já praticavam o Budismo antes de qualquer povo asiático.

Nimrod de Rosario conta como os Druidas, casta de sacerdotes levitas fugindo da palestina, dominaram os citas e os levaram a invadir a Europa ocidental no que ficou conhecida como a onda celta de La Tène, destruindo a cultura celta anterior, de Halstatt. Estes citas eram trácios e dácios, ocidentais, do extremo oeste ucraniano, indo até a Moldávia e Romênia antes de tal migração; seus primos orientais - ossetianos, báctrios, sakai, sogdianos, entre outras várias tribos, mantiveram na maioria seu conjunto de crenças original.
A religião Cita era peculiar, pois tinha influências da Índia dos Árias, da Pérsia de Zoroastro, e uma interpretação local única.

Eram sete Deuses, uma Héptade, como sete astros no céu, que Heródoto fez equivaler a sete deuses clássicos:

Tabiti - Hestia
Papaios - Zeus
Api - Gaia
Oitosyros - Apollo
Argimpasa - Aphrodite Urania
Thagimasidas - Poseidon

Como traços gerais, superficiais, de seus cultos: Davam grande importância para o xamanismo e divinação, utilizavam fumaça de canabis como alucinógeno para induzir o transe dos oráculos (historiadores modernos, maliciosos e com agenda definida, diziam que o uso da maconha, na forma de um incenso exalado por um turíbulo encontrado em várias tumbas da nobreza, era para “uso recreativo” – como se em algum povo objetos de lazer, e não objetos sagrados, compusessem os paramentos e as relíquias funerárias; o uso de diversos alucinógenos é quase universal entre os povos que praticam algum tipo de ofício em transe, uma reminescência do neolítico talvez); faziam sacrifícios principalmente de cavalos, como na Índia dos Árias (o festival central do ano hindu era o Ásvamedha; ver o livro 'Ka', de Roberto Calasso, a respeito deste assunto); e apesar de serem iconoclastas, em grande medida, as tumbas eram cheias de figuras de cervos, animal que consideravam um transporte para o outro mundo. Entretanto, nenhum ritual, nenhum símbolo e nenhuma divindade, nada era tão importante e central como a Deusa Tabiti.

A importância central dada a Tabiti fazia com que, vista de fora, a religião Cita parecesse quase monoteísta. Uma versão feminina de Agni (o fogo), Tabiti é a personificação tardia de Epinoia, venerada em um culto abstrato ao fogo, mas o fogo para os Citas tinha um conceito muito peculiar, ligado ao conceito zoroastrista "Atar".

ATAR, O SAGRADO FOGO FRIO

Diferente do fogo físico (ataksh), no Zoroastrismo Atar é o Fogo Sagrado, descrito nos textos sempre em termos misteriosos e abstratos como "o fogo que queima sem queimar", "o fogo visível e invisível", o fogo frio.

Atar não é algo físico, palpável, nem um sujeito, mas um meio, uma faculdade, através da qual o julgamento é passado: a Justiça eterna é administrada através de Atar (Yasna 31.3, 34.4, 36.2, 47.2), pelo calor de atar (43.4), através do metal derretido brilhante e fervente (ayangha Khshushta, 30.7, 32.7, 51.9). Um indivíduo que, como ouro no crisol, passou pelo teste incandescente de Atar, alcançou força espiritual e física, sabedoria, verdade e amor com serenidade (30.7). As referências a Atar como essa faculdade iniciática sempre são feitas junto a Ahura Mazda, o Princípio do Bem.

Além da propriedade iniciática de purificar e acrisolar o indivíduo, Atar também é a luz da revelação através da qual Zoroastro soube de sua missão, luz irradiada eternamente por Mazda, portando a convicção do "Bom Propósito" e iluminando o interior, o microcosmo dos seres.

Por isso a recomendação de Zoroastro de sempre orar e meditar na presença de Atar, na direção do Sol Interior, para melhor focar nas devoções por Asha, a Retidão, a virtude a ser alcançada.

Tal conceito de Atar estava, para os Citas, personificado na figura de Tabita, e como para os zoroastristas persas, o fogo era tão central quanto a água limpa, como agentes de purificação ritual, e a fogueira representava simbolicamente o acrisolamento da alma, um dos Trinta Testes Ígneos de purificação do ser.

Posteriormente, os templos com a fogueira como único objeto de contemplação passaram para Roma como o culto a Mitra. Mas voltemos aos Citas.

Nimrod de Rosario conta que os guias espirituais Hiperbóreos (como os mestres de Abaris), passando pela Europa ensinando aos povos a doutrina do Fogo Frio, começaram na península Ibérica e "sumiram" nas planícies russas, "erguendo bons e numerosos povos guerreiros na região". Na verdade, pouco antes de retornarem à sua pátria espiritual no deserto de Gobi, os Hiperbóreos passaram pela Cítia e, simbolicamente, deixaram com os descendentes do rei mítico Targitaus quatro artefatos mágicos.

OS QUATRO ARTEFATOS-SÍMBOLO DA MINNE

Estes artefatos se incineravam e queimavam também a pessoa que tocasse neles, exceto aqueles com Espírito puro, sem traços de malícia ou mentalidade suja - no caso desse mito, os três príncipes filhos de Targitaus. Remontando ao conceito de Atar, mostra a crença Cita numa pureza espiritual capaz de incinerar, queimar, acrisolar o impuro, o material.

Os artefatos em si são interessantes também: um arado, um jugo, um machado de duas lâminas e um cálice. Cada um representando um canto, uma entonação específica da Nossa Senhora Minne, a forma como ela cantou a nostalgia do Espírito a diferentes povos, e como estes responderam – em outros termos, os artefatos simbolizam quatro Hipóstases de Epinoia.

O Arado, símbolo da Agricultura, era o artefato espiritual da civilização espiritual de Tartessos, na Espanha, e seu conceito místico da tribo amuralhada e fechada num sistema de ocupação-e-cerco, como um modo de vida dualista onde o Espírito pudesse se isolar ao máximo da Matéria. Em Tartessos, a deusa Pyrena possuía uma similaridade marcante com Tabiti na Cítia oriental.

O Jugo, instrumento da Pecuária, foi o artefato espiritual da Roma Espiritual e seu conceito místico de pátria espiritual baseada em Sangue e Solo, como um centro carismático que irradia e inspira a Paratge.

O Machado de duas lâminas foi o artefato espiritual das tribos hiperbóreas Germânicas orientadas à Extersteine, relacionado a Freya e o Mistério iniciático das Runas, as Hipóstases Indizíveis do Theoantropos restaurado à Divindade plena.

Até aqui, nenhuma novidade aos conhecedores da história ocidental. O propósito desta pesquisa é apontar a origem oriental do pensamento Cátaro, como produto tardio, migrado, de uma longa história espiritual que se estendeu de Tuva, na Sibéria, até a Bósnia medieval: Aos Citas, Sármatas e as tribos hiperbóreas indo-iranianas e eslavas em geral, sobrou o Cálice como artefato espiritual sagrado. Logo revelaremos a importância e forma de manifestação do Cálice.

UM POVO DISPERSO E MULTÍPLICE


Até aqui fomos formando traços gerais do pensamento religioso Cita, que terá um impacto profundo na forma como estes povos entenderão o Cristianismo pregado pelo discípulo André, séculos depois: a dicotomia entre o material, que seria o ordinário, o inferior, o maligno, e o "abstrato", intocável, como expressão do Sagrado, do Eterno. Daí surgiu o axioma central do Maniqueísmo e dos cultos dualistas posteriores, que é a dualidade Espírito/Matéria que tudo pervade. Sob esta ótica, um culto a um princípio feminino de fogo purificador, por parte de um povo de natureza bélica, significa que a violência, a conquista se interiorizam, e o novo heroísmo é a purificação suprema, o acrisolamento da Alma.

A tal grau que, embora o imaginário medieval ponha os Citas como cruéis e sanguinolentos (em 1917, os revolucionários bolcheviques foram chamados pelos populares de "os novos citas"), Heródoto escreve sobre sua extrema honestidade em todos os assuntos da vida, e que não existe povo com maior "frugalidade, independência em relação aos outros e senso de justiça sobre este mundo".

Vários povos receberam a missão histórica de combater o Rex Mundi, de abandonar a Terra rumo aos Céus erradicando a malignidade que exala da matéria, espiritualizando o Reino e cada um de seus súditos. Roma por exemplo tinha como elemento purificador a guerra imperial, o suscitar de todos os sentimentos nobres e abnegados em Batalha, criando uma civilização baseada nos princípios da Honra desde o fundamento. Tartessos e Extersteine foram estratégias do mesmo gênero. Mas os Citas, ou pelo menos alguns deles, influenciaram com sua cultura de fundo hiperbóreo uma série de povos ao seu entorno, e de uma maneira tão silenciosa quanto grandiosa. Vamos fazer  uma breve incursão aos Citas do Sul, antes de retornarmos aos do Norte, e a questão do Cálice Sagrado, e sua influência nas religiões dualistas orientais.

Um povo numeroso e diverso por si só, ou melhor, um aglomerado de povos, se dispersaram em todas as direções e sua ascendência é clamada desde a Ásia central, Rússia, Índia e mesmo a casa israelita de Gomer (que gerou os Askhenazi) foi ligada a posteriori com os Gimirrai, ou Cimérios, discutivelmente um dos muitos ramos dos Citas mais primitivos. Tal confusão se deve ao fato de que os babilônios e persas chamavam a todos os povos caucasianos do norte de "Sakai", Cita, mesmo os que não pertenciam a esta cultura. B. N. Mukherjee nota que ficou claro para os historiadores romanos, que "todos os Sakai eram Citas, mas nem todos os Citas eram Sakai". Mas de todas as formas, houve a confusão de vários pequenos povos com os Citas, que posteriormente foram absorvidos na era do império persa.

Por essa confusão é fácil esperar que não houvesse uma unidade de culto nem de mentalidade, e quando falamos da difusão, a partir da Cítia, dos princípios do culto à Deusa do Fogo Frio, não podemos afirmar que em TODA a Cítia e Pártia havia tal culto, mas que seus adeptos influenciaram estrategicamente os pensamentos religiosos oriental e ocidental, de forma sutil e oculta, da forma como estamos expondo.

Embora Alexandre Magno tenha encontrado tribos Citas no seu caminho para as Índias, e reconhecidamente estes povos influenciaram o extremo noroeste do mundo Hindu, existe uma teoria ousada a respeito da origem Cita, Sakai, da casa de Kshatriyas (nobres guerreiros) hindus sediada em Kapilavastu, e conhecida como Śākya.

O SÁBIO DA CASA DOS ŚAKYAS

Ikshvaku foi um rei muito antigo na Índia, "glorioso e justo", que deixou uma dinastia, da qual Shakya foi rei, e derivou sua própria dinastia. Os Śākyas são mencionados nos textos budistas por um grande mérito, e além deste mérito são reconhecidos por serem, junto com outras pequenas tribos do norte indiano - Malla, Vrij, Licchavi, etc - uma raça de Adichchabandhus, "parentes do Sol", ou Ādichchas, "a Raça Solar". O mesmo atributo que a casa de Skjold recebeu nas Américas.

Da descendência Śākya era conhecido sobretudo um homem alto, de cabelos negros e olhos azuis, conhecido como Siddhartha Gautama - O próprio Buddha Śākyamuni.

Daí a tese, que se verdadeira ou não "factualmente" contém em si inúmeras verdades, de que o Budismo e o proto-Catarismo tiveram uma origem comum no antiquíssimo culto solar feminino de Tabiti, na mentalidade Cita dualista, anti-matéria e obcecada pela purificação (pelo fogo frio solar da Justiça, Atar), pela gradual interiorização da violência ária e da hostilidade ao material.

Quando o jovem Siddhartha partiu para o eremitério começar sua jornada, movido por um vazio interior de sua vida principesca artificial, e quando ele derrotou as ilusões do demônio Mara, ficando plácido frente a tudo o que tenta um ser humano pelo prazer e pelo medo, possivelmente ele possuía dentro de si, como memória de sangue ancestral, a hostilidade ao material e a mesma essência ígnea, Atar, que Zoroastro tinha quando separou os Dois Princípios - o Mal/Matéria versus o Bem/Espírito.

Com a aura flamejante com o Fogo Frio dos altos céus, Siddharta estabeleceu um passo importante além de Zoroastro, que foi o Nirvana - Nir-vana, Extinção, foi o aprimoramento máximo do poder de neutralizar símbolos e argumentos psicológicos, a arma hiperbórea que permite à psique cessar qualquer argumento, qualquer pensamento.

No entanto, apesar destes dois frutos maravilhosos, somente vários séculos depois foi possível compreender o que foi e é o Cálice na história humana... Atar é o meio de manifestação do Cálice, e o Nirvana é o sustentáculo que nos permite segurá-lo... falta o conteúdo do Cálice, que é o A-mort contido no Sangue puro de Autogenes, de Kristos Luz.

A EXPANSÃO TURCA E OS DUALISMOS ORIENTAIS


Quando André o Apóstolo pregou na terra dos Citas, chegando até a região da futura Kiev e profetizando ali uma grande civilização cristã, o impacto de sua pregação não reverberou imediatamente. Porém, em silêncio, pouco a pouco, novas movimentações foram se formando nas vastidões da Europa Oriental e da Ásia Central. Como o bater de asas de uma borboleta, alguns tornados foram produzidos a partir destas vibrações.

Nos primeiros séculos da era cristã, até o fim do primeiro milênio, os Citas como uma certa unidade geopolítica chegaram ao fim. A movimentação massiva de povos turcos pôs um "fim" à cultura cita oriental, e os ocidentais foram sendo absorvidos pelo império bizantino e pelos Sármatas russos. Esses povos turcos estabeleceram os Canatos na região, que se tornaram um misto de religiões - certos canatos absorveram o islamismo, outros mantiveram a crença autóctone turca, o Tengerismo, e havia minorias cristãs e outras minorias.

O Tengerismo: uma religião xamânica, dualista, abstrata ao extremo, animista e abrangente: em princípio monoteísta, pois o único princípio venerado é Tengri, "o Céu", entendido de forma abstrata como Princípio ou Origem da força vital; apesar disso, admite a existência de Espíritos em tudo o que vive, que interferem no curso das coisas. O xamã não escolhe o sacerdócio, mas este é determinado pela linhagem de Sangue, pois o culto e a memória ancestrais são importantíssimos para o Tengerismo.

Por ser um culto abstrato, e por justamente prezar por isso, o Tengerismo se foca muito na essência dos cultos, e despreza sua forma; despreza como superficiais também as diferenças religiosas, como não-importantes, e por isso estes povos tinham desprezo e desrespeito por fanáticos ou supremacistas religiosos, com sua necessidade de converter ou destruir. Isso ficou claro na carta de 1290 escrita por Argun Khan para o papa Nicolau IV, onde ele despreza a noção de batismo ou mesmo de conversão a um culto, pois só o que torna um homem puro são suas orações e sua intenção, independentemente de sua confissão formal, de acordo com a Lei do Céu.

O Tengerismo surgiu para os turcos assim como o culto a Tabiti para os Citas, pois a Deusa do Fogo Sagrado, Atar, e o Tengri-yin-Kuchin, o Poder do Céu, são um e o mesmo princípio hiperbóreo do Fogo Frio, do princípio energético ígneo que se assenta além do princípio, no mais transcendente de todos os planos transcendentes: aquilo que os germanos chamaram Vril. Por isto, Kublai Khan compreendeu as intenções de Felipe o Belo, e se aliou a ele contra os muçulmanos e contra a Igreja de Roma, as duas instituições responsáveis pela miséria, derramamento de sangue e opressão no mundo ocidental, os braços armados do Rex Mundi. Embora a aliança tenha falhado, os povos turcos avançaram muito na Ásia Central e no sul da Europa oriental, estabelecendo diversos canatos, cada qual depois tomou seu rumo, política e culturalmente falando.

Os Uyghur, por exemplo, um grande reino que se estendeu até a China, Mongólia e a Sibéria, converteu-se ao Maniqueísmo com o Khan Tengri Bögü. Com isso, uma elite intelectual Cita, sogdiana, mudou-se para a corte de Tengri Bögü e a doutrina da extrema dualidade Espírito/Matéria, como a descrevemos até aqui, foi ensinada e praticada do Cazaquistão até a Mongólia e a Sibéria, nas terras que posteriormente conheceriam Genghis Khan e seus descendentes, cuja fúria inspirada pelo Céu caíra sobre os impérios corrompidos do mundo. Mais tarde, as igrejas cristãs Nestorianas continuariam a tradição Maniqueísta.

O POVO ELEITO DE JEHOVA-SATANAS GANHA UM TRONO NO CENTRO DO MUNDO



No século X, chegou a existir um Canato de Khazar na região do Cáucaso, cuja elite e realeza se converteram ao Judaísmo, tornando um dos canatos mais poderosos um estado Judeu por alguns poucos séculos. Localizado estrategicamente no “centro do mundo” e através de todas as rotas de comércio entre ocidente e oriente, os khazares enriqueceram rapidamente, apoiados pela comunidade judaica da costa do Mar Negro, que conseguiu converter a elite deste Canato turco, multiétnico, à sua religião abraâmica. Dentre várias escolhas, do cristianismo ortodoxo grego ao islamismo, os khazares optaram pelo Judaísmo, uma religião estranha a eles próprios. As razões disso são a infiltração dos próprios comerciantes judeus na realeza, e uma tentativa política de ganhar ascendência sobre cristãos e muçulmanos do reino, adotando a religião "mãe" de ambos. Isto revoltou a população, e alguns clãs citas, turcos e urálicos criaram revoltas internas, sem sucesso, visando extirpar uma elite política não representativa para eles, que se virara para o culto aberto a Yaldabaoth, ao Rex Mundi.

Afinal, embora em sua maioria convertidos para as religiões "modernas", o culto ao Demiurgo era ainda alienígena para estes povos, cuja memória de sangue ainda citava como uma verdade psicológica remota o dualismo matéria/espírito e o rechaço às potências da matéria; depois de o canato sufocar várias coligações internas e várias alianças externas, pois os khazares enriqueceram rápido e construíram uma potência militar invejável, em 960-969 os Rus de Kiev destruíram o reino Khazar e extirparam sua elite e realeza, na segunda grande campanha liderada por Sviatoslav I, que passara sua idade adulta combatendo o Sinédrio de Khazar, e que vingava seu pai, Oleg, que fora derrotado na mesma tentativa; isto após 9 anos de guerra, na qual Sviatoslav contou com a ajuda dos Varangianos (guerreiros nórdicos de origem sueca, uma guarda de elite corrente em Bizâncio e Kiev). Um visitante muçulmano na capital Atil escreveu em 969, no nono e último ano de guerra, "Os Rus atacaram, e nenhuma uva verde ou uva passa, nenhuma folha no galho permaneceu". Este foi o grande império de Kristos Luz que o discípulo André previra oito séculos antes, depois de séculos de maturação. Mas esta é apenas uma das manifestações do império atemporal do Cálice de Kristos.

Esta guerra aconteceu porque apesar da tolerância de culto existente entre esses povos, da internalização da guerra e de toda a práxis de purificação, a guerra ainda existe, contra o Rei do Mundo, os agentes da decadência e da degradação, os senhores da Matéria: seja pegando em armas, seja meditando frente à fogueira, de alguma forma se contra-atacam os excessos e perversidades de Yaldabaoth, chamado também por outros povos de Mara, de Ahriman, de Satã, o Demiurgo, Rex Mundi, criador da Matéria e aprisionador dos Espíritos. Existe sim uma hostilidade aberta contra todos os que, dentro da própria religião ou confessando um culto alheio, defendam abertamente o Deus da Matéria. Foi este o sentimento de todos os que lutaram contra a elite e a realeza de Khazar.

UM PESCADOR PEGA PEIXES PARA SI, MAS NÃO OS QUE ELE ESPERAVA

Antes da Rus de Kiev, antes dos príncipes russos se converterem ao cristianismo em meados dos séculos IX e X, o próprio cristianismo se fragmentara de acordo com a forma com que cada povo ouvinte acolhia aquela mensagem do retorno de Kristos Luz.

Na Europa, a Igreja se institucionalizou, e como quem reina sobre a Matéria - os templos físicos, as instituições, a política - é o Rei do Mundo, rapidamente o Cristianismo se tornou o principal braço armado do Demônio, que impôs uma interpretação central, dogmática, forçada, a todos os povos que dominava através de exércitos e príncipes. Já mostraremos, aliás demonstraremos muitas vezes nesta página, a essência demoníaca do "cristianismo" como conhecemos - quão alienado ele foi, pelos séculos, do verdadeiro Kristos!

O importante no momento é ressaltar que, do Egito à Bulgária, da Germânia até os confins siberianos do reino Uyghur, várias "heresias" (não-conformidades com a centralidade dogmática da igreja politizada de Jehova-Satanás) surgiram aqui e ali, interpretando as palavras dos apóstolos conforme sua própria inspiração e memória do Kristos Eterno, em suas manifestações anteriores que deixaram marcas tênues, mas indeléveis, na psique dos povos.

A maioria dessas heresias, especialmente os maniqueus, bogomilos e nestorianos, pregava a separação das pessoas do Cristo: havia o Jesus terreno, que não era a mesma pessoa que o Kristos celestial (Autogenes), pois o Espírito puro não pode se manifestar numa pessoa de carne; que estes dois seres sejam ou não unidos e inseparáveis, mas não são em hipótese alguma um só.

Desde a Atlântida, de onde veio a migração dos Hiperbóreos que legaram os Quatro Artefatos aos filhos de Targitaus, haviam manifestações do Kristos Eterno, e a doutrina do Cálice, da suprema Pureza que permite ao Espírito, que dorme no coração do homem de carne, elevar-se da prisão de barro de Jehova-Satanas e retornar ao Pai Eterno. Ao longo de séculos sem fim, essa memória foi sendo parcialmente esquecida e diluída nos distintos cultos que floresciam aqui e ali.

E nesse contexto, os relatos a respeito de Jesus de Nazaré foram um estouro. A memória do Kristos Luz Eterno voltou à mente de muitos como se fosse o despertar de um transe, e os Espíritos novamente "choraram ao constatar que vestiam um corpo de carne", novamente se lembraram da Pátria Celestial junto ao Pai Eterno, junto ao Deus das Hipóstases Inimagináveis, que um grupo de pregadores galileus agora queria igualar ao Criador do Mundo, Jehova, o deus hebraico que na era pré-abraâmica era um ídolo ao qual se consagravam incêndios e sacrifícios de sangue. Que no Tibet também conheciam como Rigden Jyepo, o Rei do Mundo, criador da prisão material.

Essa memória interna, e esse choque com a interpretação ortodoxa, fez com que muitos dos convertidos escrevessem suas próprias versões dos fatos da vida de Jesus, constituindo os Evangelhos Apócrifos, do qual talvez o mais grandioso e sublime seja o códice de Nag Hammadi, que precedeu em quase oito séculos, desde o Egito, o que seria o Catarismo albigense em sua essência espiritual. Enquanto a maioria aceitava Jesus de Nazaré como manifestação do Kristos, algumas correntes até isso negaram - estas foram perseguidas e apagadas dos anais da História.

A igreja de Nestor, que pregava a separação das pessoas de Cristo, floresceu entre os Maniqueístas da Pérsia, e dos citas sogdianos do norte persa tal igreja passou para o império Uyghur, e daí para a China e os confins mais remotos da ásia, quase chegando às terras esquimós. Como herdou a abstração e a completa não-politização do Tengerismo e do próprio Cristianismo Maniqueu, a igreja de Nestor se difundiu em silêncio, discretamente, por todo o continente asiático, assim como tal cristianismo se difundira em silêncio e pacificamente na Cítia e na Pérsia.


Até aqui, descrevemos o alcance, NO ORIENTE, do que se tornou a doutrina do Cálice - a palavra de Kristos Luz reverberada no coração dos antigos veneradores de Tabiti, a Deusa do Fogo Frio, que séculos antes já se difundiram em silêncio e ergueram correntes espirituais grandiosas como o Zoroastrismo e o Budismo. O discípulo André fora pescar na Bactriana, no litoral do Mar Negro e em Kiev - mas os peixes que ele fisgara ali foram diferentes: silenciosos e discretos como o próprio André, que só faz três aparições na Bíblia, a mentalidade Cita que transformou um culto material ao fogo em um culto ao fogo imaterial, e que transmutou o Hinduísmo no Budismo radicalmente anti-matéria, acolheu as palavras do discípulo de Jesus em silêncio... e com séculos de maturação, surgiu ali a semente do Catarismo, na figura dos Maniqueus, dos Nestorianos, e principalmente, dos Bogomilos eslavos, os avôs da doutrina Cátara.

PRÓXIMO ARTIGO: PRÉ-HISTÓRIA DO CATARISMO PARTE 2: DOS BOGOMILOS DE PLOVDIV AOS PRIMEIROS ALBIGENSES

sábado, 22 de dezembro de 2012

Introdução


                  
O Cálice Retornou! Os Cátaros retornaram!


                  No ano 79 da era atual, Vespasiano, imperador de Roma, adoeceu e morreu de causas naturais. No seu leito de morte, delirante de febre, teve um curto sono do qual acordou assustado, relatando um sonho profético:

                A Águia de Roma abandonava o ocidente na hora de seu maior desespero, e sumia atrás de montanhas longínquas no Oriente, buscando o Sol que desaparecera, deixando o mundo na escuridão, e a humanidade afogada em trevas. Vespasiano soube, e profetizou, que a Águia retornaria, com o Sol em suas garras, dentro de dois milênios. Logo após esta profecia, caiu exausto, e faleceu.

                A Águia retornou mais de uma vez, durante este tempo, com o signo solar sob suas garras, mas o homem, acostumado às trevas, tremeu de horror ante a vista da Luz, e rechaçou para longe a Águia, repetidas vezes. Havia se acostumado com a submissão às potências da matéria, e cada vez mais se afastavam mais do Verdadeiro Deus, cuja Luz bondosa permaneceria apenas como uma memória vaga e difusa. Como resultado, as Trevas nunca abandonarão o olho do homem.

                No entanto, no final do final, quando não parece possível que a humanidade seja ainda mais degradada e pervertida, uma nova profecia se ergue: a Águia de Vespasiano retornará uma última vez, trazendo desta vez o Cálice, que reúne o Sangue e o Espírito de Kristos Luz, e de todos os mártires que morreram em Seu nome.

                Este retorno se dará quando um grande número de homens gritar de horror ao perceber a obra terrível que o Demônio realizou entre os homens, auxiliado pela cobertura da escuridão, e clamar a ajuda do Pai Celestial, o Deus Verdadeiro que nos criou na mais absoluta perfeição. Deste clamor, deste Grito Espiritual en masse, virá o retorno do Cálice.

                Esta página é dedicada ao estudo e prática do Catarismo, a Doutrina do Grito: do grito de horror perante o terror, de estupefação perante a perversidade, de rechaço à impureza, de hostilidade ao corrupto; grito hostil, resoluto e forte contra a malícia e o mal, grito de agonia nostálgica, de desejo de abandono do mundo corrompido e retorno à Morada do Pai Celestial.

                A doutrina Cátara, ao mesmo tempo radicalmente parecida e radicalmente diferente do cristianismo “tradicional”, foi duramente perseguida, assim como todas as doutrinas que se lhe assemelhavam, repetindo o mito platônico da caverna, no qual os pregadores da luz além da caverna eram apedrejados pelos que se acostumaram com o escuro.

         Uma religião dualista, pregava a extrema separação entre Matéria e Espírito: Deus é o criador de tudo, mas por seu caráter benigno, a criação de Deus era pura, eterna, e imorredoura. O Demônio tomou conta de parte da criação, e a perverteu ao seu modo, aprisionando em seu reino os Anjos de Deus que passaram a ser sujeitos à transitoriedade e à Morte – estes somos nós. O Demônio é o criador DESTE mundo terreno e da humanidade mortal. Estamos aqui aprisionados - sem mácula nem culpa, apenas vítimas do engano satânico de Jehova-Satanás, que pecou contra o Pai, o Deus Verdadeiro ao escravizar suas criaturas no sofrimento e na morte. 

       As várias e gritantes diferenças com o cristianismo ortodoxo, e o apoio geral da população aos pregadores Cátaros, cuja bondade e humildade contrastava com o ouro e arrogância da igreja romana, gerou uma perseguição política e militar que terminou com uma cruzada, onde os Cátaros foram passados ao fio da espada ou mortos em fogueiras, aos milhares. Da longa perseguição e chacina, chegou a nós a canção de Joana [a igreja Cátara], que viemos cantando há setecentos anos:

Quando o pastor retornou de seu dia trabalhado
Encontrou sua esposa à lareira, em terrível estado
"Se estás doente, me diga, farei o seu jantar...
Uma sopa de repolhos, e legumes, e o que eu encontrar!"
"Quando eu morrer, esposo, enterra-me  no celeiro.
Meus pés contra o muro, sob as torneiras o meu cabelo.
E os peregrinos tomarão em suas mãos a água santa,
Perguntando, 'quem morreu aqui?' ‘Foi a pobre Joana
Que subiu aos céus, está no Paraíso com suas cabras!’"

                Diversos peregrinos, buscadores do Espírito, buscaram beber de tal água santa, e retirar inspiração do que foi o Catarismo provençal, e sua mensagem espiritual. Hoje, ele retorna, com uma mensagem consonante aos nossos tempos.

                Guillaume de Bélibaste, profeta cátaro, previu que o Catarismo retornaria após 700 anos; e hoje, assim como na época em que se desenvolveu, há grande malícia e maldade no mundo, um mundo no qual as pessoas não aguentam mais viver. O materialismo, a malícia, o tirar vantagem em tudo, a nulidade e a perversidade que permeiam todas as relações humanas, o apodrecer de tudo o que é puro e belo – enquanto isto tudo assegura o domínio do Demônio sobre povos e almas, gera também uma reação adversa, nos que ainda têm o Espírito forte o suficiente para enxergar, no escuro, sua obra horrenda. Desta reação nasceu o Catarismo na Europa medieval, desta reação surgiu o Catarismo sob outros nomes em outros lugares, e desta reação ele há de renascer no século XXI. Breve a canção de lamento de Joana será cantada apenas em memória do passado, e novos cantos de uma nova pureza se erguerão de muitas gargantas, alçando voo rumo aos céus além dos céus! Breve as pessoas tornarão a subir as montanhas sagradas, a banhar-se no oceano em praias intocadas, em cantos à sagrada Pyrena, a Nossa Senhora Minne.

                Esta página tenciona ser o princípio deste renascimento. Seu nome, Katharisterion, em grego clássico significa Espaço de Purificação, o solo ritual onde o mundano e o transitório são abandonados por aqueles que rumam para o Sagrado, para o Céu além de todos os Céus.

                A idéia inicial é criar um post por semana, mas dependendo da disponibilidade, o tempo pode ser maior ou menor. Colaborações e sugestões são extremamente bem-vindas, basta me contatar!

                Entre esta semana e a próxima, começaremos com a pré-história do Catarismo, da Cítia Oriental aos Bogomilos, dividida em duas partes. A todos os interessados, buscadores do Espírito ou andarilhos errantes, sejam todos bem-vindos, e que a Luz de Kristos ilumine seus passos!


“Os Cátaros são um Amor demente, uma grandiosa revelação do derramamento do amor, uma nova visão do homem: limpo e purificado, assim como se manifesta nos modelos mais perfeitos ante o olhar perfeito das forças celestiais.
                De fato, hoje em dia não sobrou nada dos Cátaros... parece que tampouco sobrou algum cátaro. Mas eu diria assim: não sobrou nada deste mundo, à parte do Catarismo...” (Yohann Bereslavsky)