A REVELAÇÃO DAS QUINZE PÉROLAS DO
CATARISMO [2/5]
A Via Patibilis e a preparação
para a Morte
As três Pérolas ou Mysteria superiores, que residem “no Pensamento imensurável e incompreensível
que está no Silêncio imensurável”, somente são plenamente visíveis no puro
Pleroma, longe do enevoamento tóxico que Jehova-Satanas preparou para a
confusão espiritual de seus prisioneiros. No entanto começamos do mais elevado,
para expor os Mysteria do ponto de
vista do Alto, da Divindade que desce em nome da divina intercessão para a
interdição do Demônio – tal é nossa consciência oculta, em rumo à qual nós
caminhamos, sincrônica e simultaneamente, de baixo para cima, no Mistério do
Kairos da divinização que o Catarismo almeja.
No limiar do abandono da Matéria
e do retorno à pureza original de nossa fonte e origem, estão as Pérolas que
representam a Via Patibilis, a Via do
Sofrimento divinizador à qual Kristos Luz nos convida, para superar ambos
sofrimento e morte – para que possamos, com a Mortificatio Anima, a mortificação da alma, vencer a Morte e
Despertar ao Despertar.
As três primeiras Pérolas
arrebatam o recém tornado Perfeito aos mais altos reinos do Pai – são guardadas
pelos Luminares que arrebatam: Kamaliel, Anen, Samblo, e pela própria Minne.
As Pérolas seguintes são
custodiadas de três em três pelos quatro Éons Primordiais, os imediatos de
Kristos Luz e os Espíritos mais poderosos após Ele: os gnósticos coptas os
chamaram Armozel, Uriel, Daveithai e Eleleth, cada um dos quais possui três
Custodes ou guardas, que no trecho da Protennoia Trimorphica sobre a elevação
de Kristos Luz após sua vitória sobre Morte, confiaram a Kristos os Mistérios
sagrados que nós Cátaros buscamos:
[...] e dei a ele da Água da Vida, que o retira do caos que existe na
treva mais profunda que existe no abismo inteiro, isto é, o pensamento do
corpóreo e do psíquico. Todos estes eu pus. E eu arranquei dele a carne, e
investi sobre ele uma Luz brilhante, isto é, o conhecimento do Pensamento do
Pai.
E eu o entreguei aos que dão mantos – Yammon, Elasso, Amenai – e eles o
cobriram com um manto dos mantos de Luz; e eu o entreguei aos batistas, e eles
o batizaram – Micheus, Michar, Mnesinous – e eles o mergulharam na fonte da
Água da Vida. E eu o entreguei aos que entronam – Bariel, Nouthan, Sabenai – e
eles o entronaram no Trono da Glória. E o entreguei aos que glorificam – Ariom,
Elien, Phariel – e eles o glorificaram com a Glória do Pai. E aqueles que
arrebatam arrebataram – Kamaliel, Aanen, Samblo, e os servos dos grandes e
santos luminares – e o levaram para a Luz – lugar de seu Pai. E ele recebeu os
Cinco Selos da Luz de sua Mãe, Protennoia, e lhe foi concedido participar do
Mistério do Conhecimento, e ele se tornou uma Luz na Luz.”
( II Protennoia Trimorphica)
A Via Patibilis e a
preparação para a Morte
A compreensão destes Mistérios
leva ao abandono da Matéria, quando os Custodes Ariom, Elien e Phariel
glorificam o Eleito com a Glória do Pai Incognoscível. Estes guias estão com Armozel,
o primeiro a surgir após a Protennoia, e um Siddha (guia) poderosíssimo que
outros povos chamaram alternadamente de Kus ou Kiev, entre outros nomes.
Armozel antes de tudo ensina a
libertação espiritual através da travessia pela Morte da psique e da alma
mortais, livrando-se do transitório e encontrando a essência inefável e
incorruptível que é o Espírito aiônico – nossa forma real, como fomos criados
pelo Pai. Seus Custodes guardam, pois, o mistério do Cálice e da libertação
espiritual pela mortificatio anima.
Ao nos libertarmos, nos reunimos
ao “Pleroma” – Plenitude: não como os espíritas ou budistas, que nos colocam
como gotas de água que vão ser devolvidas a um grande todo oceânico, mas
recuperando a plenitude eterna de cada um, como Espírito particular, na união
eterna com sua Ennoia, sua parelha e contraparte espiritual. Este é o AMOR dos
trovadores, símbolo da pureza de coração e de nobreza, como o oposto literal de
ROMA, a malícia e materialismo da igreja de Roma. Tal amor místico foi chamado
por alguns ocultistas sábios de Amort, A-mort, Amrita, a “morte não-morrida” ou
não-morte, a plenitude sempiterna cuja fruição e exercício é um dever nosso
recuperar, pois para tal fruição e exercício nos criou o Pai Incognoscível.
AS TRÊS PÉROLAS DE
AMORT, E O MISTÉRIO DO CÁLICE
Teogamia, o Casamento
pleromático com o Divino
O propósito da Meta Sacra (a
guerra contra o príncipe deste mundo) é levantar o véu do feitiço de
esquecimento que Yaldabaoth impôs sobre Adão, fazendo com que o Espírito dentro
do homem se reencontre com Epinoia, a Minne que canta de dentro de si mesmo:
neste momento, a consciência se casa com o Espírito, reafirmando seu próprio
ser divino, puro, livre e sem máculas, como o Pai o criara, como o Pai quer que
ele seja. E o fato da Meta Sacra ser um Desafio em vida provém do fato de que o
Demônio operará com todas as suas forças para impedir o reencontro com a Amada,
com a Dama Inacessível, a Epinoia enviada por Nossa Senhora Minne para a
consumação da Sagrada Teogamia.
- As três armadilhas de Yaldabaoth
- As três armadilhas de Yaldabaoth
É necessário, no caminho do
Teogamita (o Cátaro que se dedica à libertação espiritual), superar as três
armadilhas de Jehova-Satanas:
- Programas, algoritmos, a que somos sujeitos na encarnação física: luxúria, avareza, medos e outras quimeras terrenas; estes programas constituem a quase totalidade de nossos pensamentos e sentimentos, adquiridos pelos sentidos da carne e racionalizados pela psique mortal. Apenas a intuição de que não somos daqui, o nojo frente à impureza e a nostalgia de nossa Origem imortal nos isolam da sujeição à modelagem adaptativa que o Demiurgo operou em nós.
- A instituição da igreja, engendrada pelo Rex Mundi. Um homem quer tentar superar sua solidão, medo e desespero com a ajuda da igreja, mas acaba vítima de uma teia de dogmas e ritos que leva a uma decepção profunda. Qualquer religião autêntica, após um tempo, se degenera no institucional e se torna ela mesma a teia da aranha. Isto vale para a igreja ou para qualquer instituição ou agremiação humanas. O Teogamita deve saber ser solitário e fiar-se na sua intuição, trilhando valentemente seu caminho solitário rumo à Origem.
- O abismo do pós-morte, ou o sofrimento incessante e recorrente das almas, o espalhamento da teia da igreja institucionalizada sobre o Tártaro astral (o sheol hebraico, o limbo católico ou o naraka budista). As almas são estranguladas nessa teia por mil anos, desta forma o Rei do Mundo consegue delas sua última gota de energia.
- A perspectiva Cátara de divinização através
da Esfera da Honra
Contra as três armadilhas de
Satanás, o Catarismo abre a maravilhosa perspectiva da divinização através da
Esfera da Honra, que é a vivência e práxis da Paratge. Tal praxis torna o
sangue do homem luminoso e visível desde o pleroma, através das nuvens dos Céus
Caóticos, servindo de farol para o reencontro com Epinoia. O Espírito Divino
reconhece sua própria divindade de dentro do homem, apesar de tudo. E quanto
maior for o Amor à Dama distante que motivar os passos na direção da Honra,
passos trilhados com impassibilidade supraterrena, maior a quantidade de dor e
sofrimento que o homem terá de superar, e superará.
A última gota de Sangue, que
comporá a fonte do Cálice Sagrado, é produzida pela Vitória do homem pela
Paratge, e seu subsequente martírio e superação da Morte com o auxílio da Amada
reencontrada – Teogamia. Pois a Amada, nossa Epinoia particular, se perdeu de
nós por causa do avanço furioso dos Arcontes, quando nos viram completos e
envolvidos na Luz do Pai, mais sábios que eles mesmos, os pretensos criadores
do universo material. Por três vezes, no Apócrifo de João, Yaldabaoth (Jehova)
tentou atacar e estuprar Ennoia, enquanto enfeitiçou o homem e o lançou no
abismo Terra, um dos cinco planos infernais de sua criação, por inveja de sua
Sabedoria que provinha Dela.
Desde então, tem sido a busca de
todos os trovadores o reencontro com nossa contraparte divina, a sagrada e
amada Ennoia que, à semelhança de Ariadne, estende o fio para que possamos
retornar do Labirinto, e nos resgata das loucuras a que estamos sujeitos por
causa da nossa corrupção mortal.
Usando uma linguagem obscura (na
falta da possibilidade de esclarecer em poucas palavras este Mistério), o
Teogamita reunido com sua parelha é como a figura ao lado – os dois em sagrada
fusão, um só ser perfeito e simétrico, sustentado pelos cabelos d’Ela, e com os
respectivos Plexos Solares fundidos e transmutados no Terceiro Olho que é uma
Pedra de Vênus – a consciência transubstanciada EHRE.
Consolamentum
Consolamentum no Catarismo é uma
Iniciação, que pode ser entendida de duas formas:
A acumulação do Espírito Santo
1. O sacramento do recebimento da
Parusia do Pai, o Espírito Santo. A Divindade revelada permanentemente no
castelo interior. O renascimento contra o príncipe deste mundo. Interdição e
abolição de todos os pactos com o Demônio. Reabilitação, restauração e retorno
para a proximidade do Pai.
Abertura do caminho póstumo para
o Pleroma
2. Após a morte, a ‘terceira
armadilha’ do Rex Mundi faz a alma enxergar a Clara Luz Secundária, a atraindo
para a reencarnação. Para aqueles que viram Minne no derramar de sua Última
Gota, essa luz se torna abominável, e o Espírito foge para a escuridão, a
Negrura Infinita de Si Mesmo, e ali um caminho é aberto para as esferas
supracelestiais por Epinoia, que vem resgatar o Espírito debilitado, mas puro e
honrado para consumar, na suprema escuridão da ausência do externo, a Suprema
Teogamia, criando neste ato uma luz interior imaterial que nunca se extingue.
Esta é a Clara Luz Primária, o túnel póstumo para o Pleroma.
O Santo Gral
- O Mistério do Cálice
Verdadeiro Presente dos Céus,
Parusia Atemporal do Kristos, o Santo Gral é imaterial, atemporal e eterno. Ele
é manifestado no meio da comunidade dos Santos, e opera para a elevação
simultânea de centenas, milhares, milhões de Espíritos de volta ao Pleroma. Ele
foi associado ao signo do Cálice, e é representado ritual e simbolicamente por
um Cálice.
Falarei brevemente do Cálice,
pois a contemplação, e os desdobramentos, de sua simbologia e Mysterium ocupam
grande parte do pensamento dos Cátaros, tamanha sua importância e complexidade.
O Cálice é inapreensível, ele
flui constantemente e se projeta desde seu assento eterno fora do Tempo,
podendo apenas estar assentado referencialmente sobre um ponto da Terra. O
Cálice: ele contém, e ao mesmo tempo despeja e transborda de abundância. Dentro
dele, a Última Gota da Parusia terrena de Kristos, enriquecida com a Última
Gota dos mártires de todos os Gólgotas, da Atlântida até Solovki. O Cálice
contém a Última Gota do suplício de Sophia e Epinoia. Mas ao invés de ser um
cálice de dor e sofrimento e sacrifício, seu conteúdo foi transubstanciado pela
Minne, que é a Parusia da Mãe Perfeita, a primeira e Última Gota que faz o
Cálice transbordar em luz e alimento para o Espírito. A esta transubstanciação da Última Gota do
martírio em Luz Não Criada chamamos, propriamente, a Comunhão dos Santos.
- A Última Gota é única
A Última Gota derramada no Cálice
– é a plenitude do Ato Honorífico – Valor, Vontade, Vitória - e o extrato mais
precioso da pessoa. Envenenado pela remodelagem adaptativa, num ato milagroso
de pureza espiritual o homem exala sua última gota num tesouro do Gral, a
ambrosia da composição divina. Esta Última Gota condensa em um ato de Honra e
Valor a essência luminosa pura do Espírito Eterno, é o próprio Espírito reunido
em si mesmo após um longo sono e uma dispersão agônica. A produção de tal
milagre gera Luz Divina nas trevas do Abismo, e a condensação desta Luz é a
Última Gota de cada um. A gota se eleva ao Pleroma e se soma ao Cálice como exemplo
e inspiração luminosa aos que ainda lutam na Terra. Os efeitos disto se
reverberam em todo o Universo material na forma de um grito de horror do Rex
Mundi.
O Sangue transubstanciado em Pão
Suprasubstancial
Na “Igreja do Cálice”, a
comunidade cátara, não há ritual nem liturgia, mas uma ceia mística na Távola
Redonda. Neste Círculo se torna aparente o sangue transubstanciado em Luz
Imaterial, que é o próprio Pão Suprasubstancial que alimenta o Espírito e que
pedimos ao rezar o Pater, antes das refeições.
Com efeito, nós recuperamos da
mão dos católicos romanos o Pater, a oração ensinada por Kristos e distorcida
pelos adoradores do Rex Mundi. Em Mateus 6:9-13, lê-se:
PATER NOSTER qui es in caelis,
[Pai nosso que estais nos céus]
Sanctificetur nomen tuum [Santificado
seja o vosso nome]
Adveniat regnum tuum.
[Venha a nós o vosso reino]
Fiat voluntas tua,
sicut in caelo et in terra. [Seja feita a tua vontade
assim na terra como no céu]
Panem nostrum quotidianum da nobis hodie, [O pão nosso de cada
dia nos dai hoje]
Et dimitte nobis debita nostra [E
perdoai as nossas ofensas]
Sicut et nos dimittimus debitoribus nostris. [Assim como perdoamos os nossos ofensores]
Et ne nos inducas in tentationem, [E não nos deixeis cair em tentação]
Sed libera nos a malo. [Mas
livrai-nos do Mal]
Amen. [Amen (“que assim
seja”)]
Que mal haveria, que distorção
existe na oração santa que é ensinada a crianças de berço há milênios?
Para quem pensa como um Cátaro, é
bastante óbvio. Nenhum Cátaro pedirá ao Pai pelo “pão nosso de cada dia”, o
alimento do corpo, a saciedade da carne. A buscamos, conforme necessário, e
batalhamos por essa saciedade minimamente suficiente porque nada que existe no
mundo da matéria nos pertence, mas tomamos do inimigo em um ato estratégico.
O Cátaro olha com nojo, supremo
nojo e desgosto, toda essa onda de pessoas “religiosas” que lotam os templos
para pedir ao Rex Mundi seus favores materiais: dinheiro, empregos, cura para
doenças...
Quanto a nós, só pedimos um
alimento: o do Espírito, o qual o Pai tem em abundância e distribui livremente
a quem o pede com um coração puro e sincero. Não faria sentido pedirmos o que
pertence ao mundo, pois o mundo pertence ao Inimigo e não o queremos. Não que
todo Cátaro seja um asceta, mas possui a consciência, o tempo todo, de que o
que quer que tenhamos ou façamos aqui, não tem importância e não pode ser
considerado posse nossa – senão algo tomado à força e ocupado
estrategicamente... o verdadeiro e último dono de tudo o que é material é o Rei
do Mundo: e ele não compartilha sequer um grão sem o sacrifício, a
auto-humilhação e a idolatria que ele cobra de seus súditos.
Sendo assim, oramos da seguinte
forma, não ao Arconte Jehova, mas ao Deus Incognoscível que nos rege e agracia
do alto do Pleroma:
PATER NOSTER qui es in caelis,
[Pai nosso que estais nos céus]
Sanctificetur nomen tuum [Santificado
seja o vosso nome]
Adveniat regnum tuum.
[Venha a nós o vosso reino]
Fiat voluntas tua,
sicut in caelo et in terra. [Seja feita a tua vontade
assim na terra como no céu]
Panem nostrum SUPERSUBSTANTIALIS da nobis hodie,
[O pão nosso suprasubstancial nos dai hoje]
Et dimitte nobis debita nostra [E
perdoai as nossas ofensas]
Sicut et nos dimittimus debitoribus nostris. [Assim como perdoamos os nossos ofensores]
Et ne nos inducas in tentationem, [E não nos deixeis cair em tentação]
Sed libera nos a malo. [Mas
livrai-nos do Mal]
Amen. [Amen (“que assim
seja”)]
Quando oramos assim, invocamos o
Paráclito de Deus, o Espírito Santo Divinizador, para que derrame sobre nós o
Alimento do Espírito que é participar de Seu Pensamento e nos aproximamos
gradualmente do despertar do pesadelo da prisão material.
Agora deve ficar claro, dentro do
mito dos quatro artefatos mágicos dos príncipes citas, que assim como os demais
artefatos, o Cálice representa simbolicamente uma via de iniciação e libertação
espiritual. De fato, o Catarismo não é uma religião de congregações passivas,
de currais de ovelhas, mas de buscadores ativos e corajosos, cuja nostalgia e
gosto pelo Puro e pelo Sagrado, cuja intolerância com a corrupção e com a
degradação, o fazem preferir enfrentar “Deus” e a própria Morte para recuperar
a Verdade olvidada. Honrar o Cálice de Kristos Luz é seguir essa via, é imitar
o exemplo do Salvador e, nas Suas palavras, não “poupar a carne, vós para quem
o Espírito é uma Muralha”.