La Montagne

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Fechados contra o Mundo e seu Rei, Espírito contra Matéria!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A REVELAÇÃO DAS QUINZE PÉROLAS DO CATARISMO [2/5]


A REVELAÇÃO DAS QUINZE PÉROLAS DO CATARISMO [2/5]
A Via Patibilis e a preparação para a Morte



As três Pérolas ou Mysteria superiores, que residem “no Pensamento imensurável e incompreensível que está no Silêncio imensurável”, somente são plenamente visíveis no puro Pleroma, longe do enevoamento tóxico que Jehova-Satanas preparou para a confusão espiritual de seus prisioneiros. No entanto começamos do mais elevado, para expor os Mysteria do ponto de vista do Alto, da Divindade que desce em nome da divina intercessão para a interdição do Demônio – tal é nossa consciência oculta, em rumo à qual nós caminhamos, sincrônica e simultaneamente, de baixo para cima, no Mistério do Kairos da divinização que o Catarismo almeja.

No limiar do abandono da Matéria e do retorno à pureza original de nossa fonte e origem, estão as Pérolas que representam a Via Patibilis, a Via do Sofrimento divinizador à qual Kristos Luz nos convida, para superar ambos sofrimento e morte – para que possamos, com a Mortificatio Anima, a mortificação da alma, vencer a Morte e Despertar ao Despertar.

As três primeiras Pérolas arrebatam o recém tornado Perfeito aos mais altos reinos do Pai – são guardadas pelos Luminares que arrebatam: Kamaliel, Anen, Samblo, e pela própria Minne.

As Pérolas seguintes são custodiadas de três em três pelos quatro Éons Primordiais, os imediatos de Kristos Luz e os Espíritos mais poderosos após Ele: os gnósticos coptas os chamaram Armozel, Uriel, Daveithai e Eleleth, cada um dos quais possui três Custodes ou guardas, que no trecho da Protennoia Trimorphica sobre a elevação de Kristos Luz após sua vitória sobre Morte, confiaram a Kristos os Mistérios sagrados que nós Cátaros buscamos:

[...] e dei a ele da Água da Vida, que o retira do caos que existe na treva mais profunda que existe no abismo inteiro, isto é, o pensamento do corpóreo e do psíquico. Todos estes eu pus. E eu arranquei dele a carne, e investi sobre ele uma Luz brilhante, isto é, o conhecimento do Pensamento do Pai.
E eu o entreguei aos que dão mantos – Yammon, Elasso, Amenai – e eles o cobriram com um manto dos mantos de Luz; e eu o entreguei aos batistas, e eles o batizaram – Micheus, Michar, Mnesinous – e eles o mergulharam na fonte da Água da Vida. E eu o entreguei aos que entronam – Bariel, Nouthan, Sabenai – e eles o entronaram no Trono da Glória. E o entreguei aos que glorificam – Ariom, Elien, Phariel – e eles o glorificaram com a Glória do Pai. E aqueles que arrebatam arrebataram – Kamaliel, Aanen, Samblo, e os servos dos grandes e santos luminares – e o levaram para a Luz – lugar de seu Pai. E ele recebeu os Cinco Selos da Luz de sua Mãe, Protennoia, e lhe foi concedido participar do Mistério do Conhecimento, e ele se tornou uma Luz na Luz.”
( II Protennoia Trimorphica)

A Via Patibilis e a preparação para a Morte
A compreensão destes Mistérios leva ao abandono da Matéria, quando os Custodes Ariom, Elien e Phariel glorificam o Eleito com a Glória do Pai Incognoscível. Estes guias estão com Armozel, o primeiro a surgir após a Protennoia, e um Siddha (guia) poderosíssimo que outros povos chamaram alternadamente de Kus ou Kiev, entre outros nomes.

Armozel antes de tudo ensina a libertação espiritual através da travessia pela Morte da psique e da alma mortais, livrando-se do transitório e encontrando a essência inefável e incorruptível que é o Espírito aiônico – nossa forma real, como fomos criados pelo Pai. Seus Custodes guardam, pois, o mistério do Cálice e da libertação espiritual pela mortificatio anima.

Ao nos libertarmos, nos reunimos ao “Pleroma” – Plenitude: não como os espíritas ou budistas, que nos colocam como gotas de água que vão ser devolvidas a um grande todo oceânico, mas recuperando a plenitude eterna de cada um, como Espírito particular, na união eterna com sua Ennoia, sua parelha e contraparte espiritual. Este é o AMOR dos trovadores, símbolo da pureza de coração e de nobreza, como o oposto literal de ROMA, a malícia e materialismo da igreja de Roma. Tal amor místico foi chamado por alguns ocultistas sábios de Amort, A-mort, Amrita, a “morte não-morrida” ou não-morte, a plenitude sempiterna cuja fruição e exercício é um dever nosso recuperar, pois para tal fruição e exercício nos criou o Pai Incognoscível.

AS TRÊS PÉROLAS DE AMORT, E O MISTÉRIO DO CÁLICE

Teogamia, o Casamento pleromático com o Divino
O propósito da Meta Sacra (a guerra contra o príncipe deste mundo) é levantar o véu do feitiço de esquecimento que Yaldabaoth impôs sobre Adão, fazendo com que o Espírito dentro do homem se reencontre com Epinoia, a Minne que canta de dentro de si mesmo: neste momento, a consciência se casa com o Espírito, reafirmando seu próprio ser divino, puro, livre e sem máculas, como o Pai o criara, como o Pai quer que ele seja. E o fato da Meta Sacra ser um Desafio em vida provém do fato de que o Demônio operará com todas as suas forças para impedir o reencontro com a Amada, com a Dama Inacessível, a Epinoia enviada por Nossa Senhora Minne para a consumação da Sagrada Teogamia.

  - As três armadilhas de Yaldabaoth
É necessário, no caminho do Teogamita (o Cátaro que se dedica à libertação espiritual), superar as três armadilhas de Jehova-Satanas:
  1. Programas, algoritmos, a que somos sujeitos na encarnação física: luxúria, avareza, medos e outras quimeras terrenas; estes programas constituem a quase totalidade de nossos pensamentos e sentimentos, adquiridos pelos sentidos da carne e racionalizados pela psique mortal. Apenas a intuição de que não somos daqui, o nojo frente à impureza e a nostalgia de nossa Origem imortal nos isolam da sujeição à modelagem adaptativa que o Demiurgo operou em nós.
  2. A instituição da igreja, engendrada pelo Rex Mundi. Um homem quer tentar superar sua solidão, medo e desespero com a ajuda da igreja, mas acaba vítima de uma teia de dogmas e ritos que leva a uma decepção profunda. Qualquer religião autêntica, após um tempo, se degenera no institucional e se torna ela mesma a teia da aranha. Isto vale para a igreja ou para qualquer instituição ou agremiação humanas. O Teogamita deve saber ser solitário e fiar-se na sua intuição, trilhando valentemente seu caminho solitário rumo à Origem.
  3.  O abismo do pós-morte, ou o sofrimento incessante e recorrente das almas, o espalhamento da teia da igreja institucionalizada sobre o Tártaro astral (o sheol hebraico, o limbo católico ou o naraka budista). As almas são estranguladas nessa teia por mil anos, desta forma o Rei do Mundo consegue delas sua última gota de energia.

 - A perspectiva Cátara de divinização através da Esfera da Honra
Contra as três armadilhas de Satanás, o Catarismo abre a maravilhosa perspectiva da divinização através da Esfera da Honra, que é a vivência e práxis da Paratge. Tal praxis torna o sangue do homem luminoso e visível desde o pleroma, através das nuvens dos Céus Caóticos, servindo de farol para o reencontro com Epinoia. O Espírito Divino reconhece sua própria divindade de dentro do homem, apesar de tudo. E quanto maior for o Amor à Dama distante que motivar os passos na direção da Honra, passos trilhados com impassibilidade supraterrena, maior a quantidade de dor e sofrimento que o homem terá de superar, e superará.

A última gota de Sangue, que comporá a fonte do Cálice Sagrado, é produzida pela Vitória do homem pela Paratge, e seu subsequente martírio e superação da Morte com o auxílio da Amada reencontrada – Teogamia. Pois a Amada, nossa Epinoia particular, se perdeu de nós por causa do avanço furioso dos Arcontes, quando nos viram completos e envolvidos na Luz do Pai, mais sábios que eles mesmos, os pretensos criadores do universo material. Por três vezes, no Apócrifo de João, Yaldabaoth (Jehova) tentou atacar e estuprar Ennoia, enquanto enfeitiçou o homem e o lançou no abismo Terra, um dos cinco planos infernais de sua criação, por inveja de sua Sabedoria que provinha Dela.

Desde então, tem sido a busca de todos os trovadores o reencontro com nossa contraparte divina, a sagrada e amada Ennoia que, à semelhança de Ariadne, estende o fio para que possamos retornar do Labirinto, e nos resgata das loucuras a que estamos sujeitos por causa da nossa corrupção mortal.

Usando uma linguagem obscura (na falta da possibilidade de esclarecer em poucas palavras este Mistério), o Teogamita reunido com sua parelha é como a figura ao lado – os dois em sagrada fusão, um só ser perfeito e simétrico, sustentado pelos cabelos d’Ela, e com os respectivos Plexos Solares fundidos e transmutados no Terceiro Olho que é uma Pedra de Vênus – a consciência transubstanciada EHRE.



Consolamentum
Consolamentum no Catarismo é uma Iniciação, que pode ser entendida de duas formas:

A acumulação do Espírito Santo
1. O sacramento do recebimento da Parusia do Pai, o Espírito Santo. A Divindade revelada permanentemente no castelo interior. O renascimento contra o príncipe deste mundo. Interdição e abolição de todos os pactos com o Demônio. Reabilitação, restauração e retorno para a proximidade do Pai.

Abertura do caminho póstumo para o Pleroma
2. Após a morte, a ‘terceira armadilha’ do Rex Mundi faz a alma enxergar a Clara Luz Secundária, a atraindo para a reencarnação. Para aqueles que viram Minne no derramar de sua Última Gota, essa luz se torna abominável, e o Espírito foge para a escuridão, a Negrura Infinita de Si Mesmo, e ali um caminho é aberto para as esferas supracelestiais por Epinoia, que vem resgatar o Espírito debilitado, mas puro e honrado para consumar, na suprema escuridão da ausência do externo, a Suprema Teogamia, criando neste ato uma luz interior imaterial que nunca se extingue. Esta é a Clara Luz Primária, o túnel póstumo para o Pleroma.


O Santo Gral

 - O Mistério do Cálice
Verdadeiro Presente dos Céus, Parusia Atemporal do Kristos, o Santo Gral é imaterial, atemporal e eterno. Ele é manifestado no meio da comunidade dos Santos, e opera para a elevação simultânea de centenas, milhares, milhões de Espíritos de volta ao Pleroma. Ele foi associado ao signo do Cálice, e é representado ritual e simbolicamente por um Cálice.

Falarei brevemente do Cálice, pois a contemplação, e os desdobramentos, de sua simbologia e Mysterium ocupam grande parte do pensamento dos Cátaros, tamanha sua importância e complexidade.

O Cálice é inapreensível, ele flui constantemente e se projeta desde seu assento eterno fora do Tempo, podendo apenas estar assentado referencialmente sobre um ponto da Terra. O Cálice: ele contém, e ao mesmo tempo despeja e transborda de abundância. Dentro dele, a Última Gota da Parusia terrena de Kristos, enriquecida com a Última Gota dos mártires de todos os Gólgotas, da Atlântida até Solovki. O Cálice contém a Última Gota do suplício de Sophia e Epinoia. Mas ao invés de ser um cálice de dor e sofrimento e sacrifício, seu conteúdo foi transubstanciado pela Minne, que é a Parusia da Mãe Perfeita, a primeira e Última Gota que faz o Cálice transbordar em luz e alimento para o Espírito.  A esta transubstanciação da Última Gota do martírio em Luz Não Criada chamamos, propriamente, a Comunhão dos Santos.

 - A Última Gota é única
A Última Gota derramada no Cálice – é a plenitude do Ato Honorífico – Valor, Vontade, Vitória - e o extrato mais precioso da pessoa. Envenenado pela remodelagem adaptativa, num ato milagroso de pureza espiritual o homem exala sua última gota num tesouro do Gral, a ambrosia da composição divina. Esta Última Gota condensa em um ato de Honra e Valor a essência luminosa pura do Espírito Eterno, é o próprio Espírito reunido em si mesmo após um longo sono e uma dispersão agônica. A produção de tal milagre gera Luz Divina nas trevas do Abismo, e a condensação desta Luz é a Última Gota de cada um. A gota se eleva ao Pleroma e se soma ao Cálice como exemplo e inspiração luminosa aos que ainda lutam na Terra. Os efeitos disto se reverberam em todo o Universo material na forma de um grito de horror do Rex Mundi.

O Sangue transubstanciado em Pão Suprasubstancial
Na “Igreja do Cálice”, a comunidade cátara, não há ritual nem liturgia, mas uma ceia mística na Távola Redonda. Neste Círculo se torna aparente o sangue transubstanciado em Luz Imaterial, que é o próprio Pão Suprasubstancial que alimenta o Espírito e que pedimos ao rezar o Pater, antes das refeições.
Com efeito, nós recuperamos da mão dos católicos romanos o Pater, a oração ensinada por Kristos e distorcida pelos adoradores do Rex Mundi. Em Mateus 6:9-13, lê-se:

PATER NOSTER qui es in caelis,  [Pai nosso que estais nos céus]
Sanctificetur nomen tuum [Santificado seja o vosso nome]
Adveniat regnum tuum.  [Venha a nós o vosso reino]
Fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra. [Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu]
Panem nostrum quotidianum da nobis hodie, [O pão nosso de cada dia nos dai hoje]
Et dimitte nobis debita nostra  [E perdoai as nossas ofensas]
Sicut et nos dimittimus debitoribus nostris. [Assim como perdoamos os nossos ofensores]
Et ne nos inducas in tentationem, [E não nos deixeis cair em tentação]
Sed libera nos a malo. [Mas livrai-nos do Mal]
Amen. [Amen (“que assim seja”)]

Que mal haveria, que distorção existe na oração santa que é ensinada a crianças de berço há milênios?

Para quem pensa como um Cátaro, é bastante óbvio. Nenhum Cátaro pedirá ao Pai pelo “pão nosso de cada dia”, o alimento do corpo, a saciedade da carne. A buscamos, conforme necessário, e batalhamos por essa saciedade minimamente suficiente porque nada que existe no mundo da matéria nos pertence, mas tomamos do inimigo em um ato estratégico.

O Cátaro olha com nojo, supremo nojo e desgosto, toda essa onda de pessoas “religiosas” que lotam os templos para pedir ao Rex Mundi seus favores materiais: dinheiro, empregos, cura para doenças...

Quanto a nós, só pedimos um alimento: o do Espírito, o qual o Pai tem em abundância e distribui livremente a quem o pede com um coração puro e sincero. Não faria sentido pedirmos o que pertence ao mundo, pois o mundo pertence ao Inimigo e não o queremos. Não que todo Cátaro seja um asceta, mas possui a consciência, o tempo todo, de que o que quer que tenhamos ou façamos aqui, não tem importância e não pode ser considerado posse nossa – senão algo tomado à força e ocupado estrategicamente... o verdadeiro e último dono de tudo o que é material é o Rei do Mundo: e ele não compartilha sequer um grão sem o sacrifício, a auto-humilhação e a idolatria que ele cobra de seus súditos.

Sendo assim, oramos da seguinte forma, não ao Arconte Jehova, mas ao Deus Incognoscível que nos rege e agracia do alto do Pleroma:

PATER NOSTER qui es in caelis,  [Pai nosso que estais nos céus]
Sanctificetur nomen tuum [Santificado seja o vosso nome]
Adveniat regnum tuum.  [Venha a nós o vosso reino]
Fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra. [Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu]
Panem nostrum SUPERSUBSTANTIALIS da nobis hodie, [O pão nosso suprasubstancial nos dai hoje]
Et dimitte nobis debita nostra  [E perdoai as nossas ofensas]
Sicut et nos dimittimus debitoribus nostris. [Assim como perdoamos os nossos ofensores]
Et ne nos inducas in tentationem, [E não nos deixeis cair em tentação]
Sed libera nos a malo. [Mas livrai-nos do Mal]
Amen. [Amen (“que assim seja”)]

Quando oramos assim, invocamos o Paráclito de Deus, o Espírito Santo Divinizador, para que derrame sobre nós o Alimento do Espírito que é participar de Seu Pensamento e nos aproximamos gradualmente do despertar do pesadelo da prisão material.

Agora deve ficar claro, dentro do mito dos quatro artefatos mágicos dos príncipes citas, que assim como os demais artefatos, o Cálice representa simbolicamente uma via de iniciação e libertação espiritual. De fato, o Catarismo não é uma religião de congregações passivas, de currais de ovelhas, mas de buscadores ativos e corajosos, cuja nostalgia e gosto pelo Puro e pelo Sagrado, cuja intolerância com a corrupção e com a degradação, o fazem preferir enfrentar “Deus” e a própria Morte para recuperar a Verdade olvidada. Honrar o Cálice de Kristos Luz é seguir essa via, é imitar o exemplo do Salvador e, nas Suas palavras, não “poupar a carne, vós para quem o Espírito é uma Muralha”.