Buscai os lugares, tomai os espaços, aonde quer que a espada do herói seja clamada, aonde quer que a ação corajosa seja necessária. Sabei qual é vosso lugar. Quem hesita, tolera – e quem tolera, permite que prevaleçam as Forças do Inferno.
À época, o sul e o oeste da Alemanha sofreram uma influência considerável do movimento cátaro, que embora não tenha firmado raízes, tem boas chances de ter influenciado na mensagem que se produzirá a seguir. Para estes cavaleiros, por exemplo, o Gral é na realidade uma pedra, negra com brilho lilás, de onde brota a luz do Mundo Verdadeiro que inspira o retorno para a Origem. Por causa disto, chamavam a si mesmos "Herren von der Schwarzer Stein" ou HvdSS (Senhores da Pedra Negra).
Durante essas seções mediúnicas com "Isais", ela transmitia mensagens, algumas foram escritas a posteriori por membros do círculo de cavaleiros (cuja importância e desdobramentos são outro assunto, totalmente à parte). As anotações foram, então, traduzidas em 2005 por um grupo que se diz a continuidade do antigo círculo medieval (e que no entanto realiza muitas atividades confusas... mas este também é outro tema). A compilação de mensagens, e alguns outros textos mais modernos, se chama "Wissensbuch der ILU-Lehre" (o Livro da Sabedoria dos ensinamentos de ILU), e pode ser encontrado com alguma dificuldade na internet. A tradução ao português é da autoria do autor deste Blog, com ajuda de outros textos da época para embasar algumas traduções dúbias, ou obscuras.
A mensagem, em si, é e não é familiar ao pensamento que temos reproduzido nesta página: gnóstico em essência, possui uma visão dualista de raiz (o Bem e o Mal se originaram separadamente, e são absolutamente separados) como os gnósticos do Oriente Médio, e juntamente com as influências do cristianismo e do paganismo nórdico, encontramos nomes e histórias com raízes sumérias e babilônicas (o próprio nome Isais é aparentado com Ishtar, a manifestação mais antiga de Epinoia), o que é absolutamente incomum e peculiar para o lugar e a época.
Para o Catarismo, não existe uma pretensão de ser uma religião única, ou de ser "A verdadeira" - o que algumas religiões denominam deuses e demônios, outras chamam de anjos, guias... diferenças teológicas e mitopoiéticas também podem ser sublimadas como distorções culturais de uma verdade que brota do íntimo: a verdade de que somos estrangeiros, presos neste mundo contra nossa vontade, por um deus sanguinário ao qual declaramos guerra para conquistar o retorno ao lar. Qualquer doutrina que reconheça esta verdade, ou qualquer pessoa que o sinta, serão para nós irmãos e camaradas. Este texto prova isto: que a verdade do aprisionamento espiritual não é uma doutrina, uma idéia, mas um sentimento, uma GNOSIS no sentido mais puro de 'Nous', que tomou várias traduções culturais por quem a tentou expressar.
E é muito interessante ver uma manifestação da Gnosis fora da "rota" histórica, nascida espontaneamente no centro da Europa, reforçando de que realmente se trata de uma memória ancestral acessada por aqueles que não são deste mundo. Uma visão menos influenciada pelo cristianismo, e muito mais beligerante, provando que o Catarismo não é a religião de "tolerância" irrestrita como os reconstrucionistas modernos querem pintar.
O texto será dividido em três partes; a primeira relatando a criação e a hostilidade essencial entre espírito e matéria; a segunda tratará da Pedra do Gral; a terceira, da descida de Isais ao Inferno-prisão deste mundo para recuperar tal Pedra. Segue a primeira parte:
A REVELAÇÃO DE ISAIS
A verdade
eu vos falo - para que ouçam.
Imagens eu lhes mostro, para a sua visão; discorro sobre um conhecimento e uma
sabedoria que a tudo abarcam, desde o pré-início até o fim do fim,
2
E não falo em parábola ou em mistérios, minha
palavra não é confusa, mas falo claramente sobre o que foi, o que é e o que
pode vir a ser;
3
Seres humanos, aqui presos à Terra, que seguem a
Morte – e são, ainda assim, imortais; Filhos das Estrelas, vindos dos céus, mais
velhos do que este mundo;
4
Filhos das forças da Luz e Filhas do Brilho,
habitantes dos altos céus, perdidos nas Trevas; seres de Luz que caminham nas
Sombras; Eternos, mas não livres da Morte;
5
Andarilhos sobre os cumes dos mundos, recém-nascidos
deste lado – por mais tempo pertenceram eles ao outro lado. Filhos de Deuses,
mas sem a semelhança divina. E mais isto pode-se dizer sobre os homens: antiga
é vossa raça, jovem o vosso mundo.
6
O Espírito do homem não é nascido, mas está lá
desde antes do Princípio – e ali estará até depois do Fim.
7
Antes do princípio, existia tudo aquilo que
pertence à Eternidade perene; não havia espaço, ou tempo. Sem consciência nem
vida, as essências ali permaneciam, até que o Pai de Todos criou, para elas,
tempo mensurável e espaço transitável: os mundos eternos celestiais.
8
Ali se projetaram as sementes de todos os seres;
a Eternidade assim foi criada a partir da pré-eternidade, e o Princípio se fez.
9
Ali se projetou o Pai para cuidar de seus seres,
lhes preencher com vitalidade, insufla-los com força, inspirar-lhes o Espírito.
Os mundos celestiais então despertaram em vida e atividade. Os seres
reconheceram uns aos outros de acordo com seu tipo:
10
Haviam aqueles, que mais tarde se tornariam
homens; haviam outros, que se tornariam depois como animais; haviam alguns como
as plantas que crescem do solo; e haviam espíritos demoníacos.
11
E nada era como hoje se conhece na terra, lá nos
mundos celestiais que ainda não haviam sido corrompidos: tudo era similar e
não-similar ao mesmo tempo.
12
Verdadeiramente nasceu nos Céus, tudo aquilo que
hoje se arrasta na terra, e esteve uma vez sob a Luz do Pai, aquilo que hoje
vaga em uma busca incessante na escuridão, doente e sem destino.
13
Então um senhor das sombras se apossou dos
mundos celestiais, para desafiar o Pai Celeste. Um Reino das Sombras criou este
Senhor sombrio, longe do Céu, nas profundezas obscuras do Inferno.
14
Um vazio infinito se estende no meio – ninguém
poderia se situar ali.
15
No meio deste vazio, entre as Trevas e a Luz,
Espíritos poderosos construíram o Valhalla. Ali vivem os melhores filhos do
Pai, Deusas gentis e corajosos Deuses.
16
Desde então, existe Guerra incessante entre
Valhalla e o Inferno.
17
Mas inúmeros seres caíram dos Céus. Sem saber o
que faziam, queriam espiar a fronteira do Inferno. Mais tarde, desses seres foi
moldado o Homem.
18
Todos os que caíram se tornaram inconscientes,
esqueceram seus nomes, esqueceram tudo o que aconteceu.
19
Para estes caídos, o Pai de Todos criou um novo
plano: reinados neste mundo, sob o firmamento das Estrelas; com isto se tornou
possível um segundo nascimento das multidões perdidas, e lhes foi oferecida uma
Via até a morte terrena, e a partir dali um portal para retornar ao Lar.
20
Longas pontes para os outros mundos estendeu o
Pai, para uso de toda a humanidade caída; pontes para um retorno feliz para
casa.
21
Eu lhes darei a conhecer estes mundos, plenos,
criados pelo Pai: acima de todos, o Reino dos Céus e sua Luz eterna, o lar
original de todos os seres.
22
Os grandes campos que a tudo englobam eu nomeio
a seguir – nenhum plano existe, fora destes campos, deste ou daquele lado do
Grande Espelho, que é o nome da fronteira entre este e aquele lado. O Inferno
está ali, o obscuro e terrível: sangue fervente, repulsa e tormento infindáveis.
Em meio aos campos infindáveis, se situa o Valhalla; fortes muralhas, e um
imponente castelo.
23
Também o mundo de cá se situa nestes campos, com
a Terra e seu firmamento estrelado.
24
Igualmente se estendem pelos vários mundos arcos
de muitas cores, desde os Céus até as proximidades do Inferno. Numerosos são os
mundos ali, para as pessoas vagarem depois da morte terrena.
25
Nos confins dos campos, a uma distância
inenarrável, um Reino não familiar: o portal cinzento dos demônios; um local
aterrorizante, mas completamente silencioso.
26
Existem nos campos muitos mundos do sono –
27
E também o silente vale dos afogados. Os habitantes
da Terra vêm dali, para vagar o mundo até conseguir sua libertação e o retorno
para casa.
28
A verdade, eu digo, conhecimento e Sabedoria,
queiram aprender a Via que lhes ensino com claras palavras: no Reino dos Céus
vive o Pai de Todos, com aqueles que lhe são leais. No Inferno, entretanto,
mora o sinistro Príncipe das Sombras, o rejeitado, o desolador: Shaddai é o seu
nome. No Valhalla, os heróis serenos governam, os Deuses com suas Esposas.
29
Estes receberam com hospitalidade Istara,
Mensageira do Pai Eterno. Das portas do Valhalla entram e saem a todo momento
os Einherjar, os duplamente imortais. Muitos destes eu tenho por irmãos e
irmãs.
30
Neste mundo permanecem todos os homens, com os
animais e plantas, para vagar sobre a terra. O Outro Mundo se abre e estende,
após a morte terrena, um caminho para o retorno ao Reino Celeste; ali, todos
escolhem seu caminho.
31
Nos Campos Exteriores todas as essências se
encontram: boas e más, de todos os tipos. Isais, quem vos ensina, opera desde
ali.
32
À noite, durante o sono, seus Espíritos
frequentemente deixam o corpo, para vagar pelos mundos do sono. Muitos
encontros acontecem ali, fora do Tempo.
33
Também
à luz do dia o Espírito, por vezes, busca alçar às alturas. Vibrações do
além gostam de se comunicar com ele, para dar mensagens e conselhos. Eu os advirto,
no entanto: com frequência, os conselhos são falsos.
34
Atentai-vos, ó homens, ó nascidos da Terra! E
vede: não é aqui, a vossa origem. Escutai! A verdade eu vos digo, e ofereço
conselho em clara voz.
35
A dança das guerras segue incessante ao longo
das eras, desde que Schaddai declarou Guerra ao verdadeiro Deus. Buscai os
lugares, tomai os espaços, aonde quer que a espada do herói seja clamada, aonde
quer que a ação corajosa seja necessária.
36
Sabei qual é vosso lugar. Quem hesita, tolera –
e quem tolera, permite que prevaleçam as Forças do Inferno.
37
Sede gentis e delicados com os de natureza
gentil e delicada, mas lancem gritos de batalha contra os maus. Conheçam a hora
certa para o amor, assim como para a hora das lanças.
38
Tende compaixão com os que agem acossados pelo
desespero – mas guardem um olhar duro e hostil contra os que exploram o
sofrimento daqueles.
39
Avançai para a luta sem demora, aonde quer que
as nuvens sombrias se estendam. Sede guerreiros aonde o clamor da guerra
prevaleça, guardem vossa amabilidade para o reduto do lar.
40
Dividido em dois é todo aquele que vaga pela
terra, como claro é o dia e escura é a noite, e não lhe é possível assumir
apenas uma das duas naturezas.
41
A verdade vos digo, e conselho vos ofereço;
mostro-lhes como a realidade é: Schaddai ronda pelos países e terras do mundo,
pelos mares e cavernas, desertos e florestas, colinas e montanhas. Ele traz
consigo as fontes do tormento, e traga o sangue que escorre da história das nações,
consagrando a si mesmo, com isto, “Deus”.
42
Com muitas faces sorri o Maligno de todos os
cantos da terra simultaneamente, multíplices são suas mandíbulas que tudo devoram:
nenhum golpe de espada, por si, basta para degolar todas as faces.
43
Mares de chamas se abaterão sobre todas as
terras durante um tempo, até que o Verminoso passe. A malícia alimenta o estômago
desta monstruosidade, torna poderoso o lançador das Sombras.
44
E quem poderá fazer cessar este terror, enquanto
não se derrame o vaso de águas claras [N.T. o tempo]? Suportai o quanto for necessário!
Estejais prontos a todo momento, até que se cumpra a hora da espada vitoriosa! Somente
então os estandartes voarão no vento da tempestade da vitória final, quando a água
que flui do vaso inundar o mundo material.
45
Longe está o dia final, longe está a hora da vitória.
Nuvens enérgicas fluem de lá, para cuspir seus relâmpagos.
46
Ó Reino da Luz! O navio está se quebrando,
apenas destroços chegam à praia do perigo. Recolhidas foram as peças, e
guardadas para uma nova obra: o navio da vitória então será. Quando um vento
inexplicável soprar as velas – invisível ele virá, através do Sol invisível de
Ilu – então será a hora.