La Montagne

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Fechados contra o Mundo e seu Rei, Espírito contra Matéria!

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A Escatologia Gnóstica



A escatologia gnóstica



“Em um mundo onde nascer é morrer, 
em um mundo onde nada nos pertence, 
em um mundo onde tudo é sofrimento, 
nós oramos, Pai, Criador de tudo o que é Senhor de Si Mesmo, 
pela nossa salvação, 
para tornarmo-nos dignos para aparecer diante de Ti 
através da celebração do casamento com o nosso espírito. 
 
Nós renegamos todo o trabalho deste mundo, 
nós negamos toda a glória, 
negamos a nós mesmos, juntamente com os nossos desejos, 
porque quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, 
e aqueles que perdem, por sua Vontade serão salvos, 
dá-nos a luz da Sabedoria, 
fazendo-nos dignos de ser chamados seus filhos, nós também. 
 
Atenta aos teus filhos que lutam contra a escuridão, 
tem misericórdia de nossas fraquezas e perversões, 
perdoa as nossas culpas, sendo nós mesmos vítimas da maldade, 
não olheis os nossos desvios, mas nossa vontade vigilante, 
não pedimos piedade para o corpo, mas a eternidade do Espírito, 
prepara-nos um assento à Távola na ceia nupcial, 
e continua perto de nós na hora da libertação final. 
Amém.”
(“Oração pela Libertação” dos Cátaros italianos)

                O Catarismo é essencialmente uma doutrina não dogmática. Recentemente encontrei um artigo acadêmico falando sobre a problemática da escatologia no Catarismo, ou seja, a dificuldade em encontrar, como nas religiões institucionalizadas, uma teologia dogmática e material, ou seja, uma fonte “autorizada”, “oficial”, de informações – a mentalidade da Academia moderna é impregnada de materialismo, quase fazendo equivaler o existente ao materialmente demonstrável.

                Por outro lado – parece-nos absurdo crer, por exemplo, na descontinuidade do Catarismo como uma cosmovisão, apenas porque a cadeia de Iniciados que ministrava o Consolamentum foi exterminada sem deixar resíduos materiais. Sob a perspectiva da Eternidade, a mesma verdade daqueles Bons Homens oferecidos em sacrifício para Jehova nas fogueiras católicas foi guardada nas mentes amuralhadas de muitos homens tocados pelo Paráclito, em diferentes tempos, e pela ação do Kairos muitos vieram a descobrir o Catarismo ou muitas de suas verdades, sem ter contato com nenhum outro praticante... Enquanto os Éons cantarem, para os ouvidos do Espírito, a Verdade sobre o aprisionamento espiritual e a pátria original, e enquanto existirem homens com ouvidos para tal canção, o Catarismo continuou e continuará a ser propagado, mesmo que sua manifestação exterior como “Igreja” ou congregação tenha desaparecido. Por isso é absurdo falar de “neo”-Catarismo (como algo que é perene pode ser novo?) ou de reconstrucionismo (de algo que não foi destruído e não precisa de reconstrução). À manifestação do Catarismo neste século XXI chamamos apenas de Catarismo ou, quando necessário destacar algum contraste com a manifestação da doutrina no século XII, dizemos simplesmente “Catarismo XXI”. É como a doutrina se manifesta, hoje.

                Kristos nos urge a sermos buscadores da Morte, a encontrarmos na morte do terreno a Vida espiritual perene, que nos permitirá vencer toda e qualquer morte, despertando ao despertar. Então pode-se dizer, com segurança, que o Catarismo é uma religião escatológica, que não apenas prevê, mas consiste na devida preparação para trazer o mundo manifesto, o mundo material, ao seu fim definitivo. Desejamos trazer a intervenção violenta do Paráclito e todos os Éons que nos aguardam no Pleroma, interditando o mal e destruindo a criação insana de Jehova. Nossa missão é despertar a Epinoia, a Sagrada Minne, dentro de cada Espírito para que este, enojado da malícia e da malignidade inerentes à Vida, clame com toda sua força pelo Paráclito e pela purificação final do Espírito que, restaurado, marcha para fora desse universo insano.

                E o que é possível dizer sobre a Escatologia no Catarismo? Não existe uma fonte autoritária, formal e dogmaticamente aceita, que todos compartilhem. Porque este objetivo de libertação não é uma questão de fé, não se pode fiar o desejo de libertação em meras palavras escritas, porque é uma pulsão viva e agônica do Espírito a cada minuto que este passa, consciente, na Terra. Ademais – o Futuro não existe, mas é construído com cada ato contíguo na grande cadeia de fenômenos que constitui a “história”, fio de consciência do mundo.

                Então não existe um desenlace esperado em que o Cátaro acredita? Não. FORMALMENTE não. Depositamos toda a nossa energia em clamar pelo Deus Incognoscível, em pedir que interceda por nós. Cremos na primazia do Bem sobre o Mal, e sabemos que o Demiurgo será derrotado, só não sabemos como isto virá a ocorrer. Nos colocamos à disposição para travar a guerra espiritual em qualquer forma que se apresente. E buscamos ESCREVER esse fim, impulsionados à guerra pela nostalgia do lar perdido e pelo Amort. Ninguém sabe, ou pode saber, como será esta guerra pela libertação do homem. Mas preparar-se para ajudar a desencadear o fim que se espera – é um dever de Honra, e expressão da Bonomia como princípio espiritual: restaurar o que é bom em si, o perene e o eterno, e destruir por compaixão aquilo que pertence ao mal – a finitude, a transitoriedade, a dor e a morte. Por isto vivemos, e a isso clamamos a todos os nossos irmãos vivos e mortos que hoje travam a Guerra Espiritual ou a travaram no passado. Lutaremos todos juntos quando soar a hora final do Universo.

                Este é o “esqueleto”, a estrutura geral do que o Catarismo entende por escatologia. À parte disso, existem muitas visões, tantas quantas existem Cátaros. Questão de opinião e gosto? Não é tão simples.

                Para um Iniciado, a afirmação de uma visão escatológica é a imposição da sua vontade, da sua Verdade espiritual, sobre a própria realidade fenomênica deste mundo ilusório.  Ao afirmar com toda a força volitiva sua palavra, seu desejo de intervenção e banimento do Mal, os Perfecti como que profetizam – marcam com ferro e brasa sua Vontade mais profunda de como esta existência miserável acabará. Tais profecias ou visões possuem um alto valor em si, não apenas como fonte de inspiração, mas de sincronização das vontades individuais no grande plano de Kristos Luz para a batalha que decidirá a libertação de todos os Espíritos aprisionados.

          Alguns textos gnósticos, como o Evangelho do “Pseudo”-João, possuem escatologias gnósticas valiosíssimas. Porém, a visão mais poderosa já registrada em palavras pertence a Nimrod de Rosario, e a transmitiremos na íntegra.

                Não apenas Nimrod expressou nesta visão sua própria visão dos eventos que se sucederão, mas também inspira em outros irmãos no Espírito a energia e a força necessárias para resistir como as “Pedras do Deserto” e permanecermos interiormente purificados, intocados pelo horror e pela imundície que imperam no mundo. Suas visões dão alento, dão esperança e renovam o desejo de luta pela libertação, o desejo de resistir e clamar aos Éons nossa herança divina, que não são esperanças ou expectativas passivas, mas algo que se deve criar “alquimicamente”, transmutando a realidade interior através da Catharsis, com todo o fogo Vril que temos em cada um de nós.


                A causa foram as scintilla luminis, ou raios de lua, que começaram a brotar deles. Milhares de raios que saltavam em todas as direções, ora girando em círculos, ora em espiral, ou traçando curvas brilhantes de caprichosa forma, impediam-me de distinguir o fundo do chapéu, ou ainda o próprio chapéu. Fascinado pelo espetáculo, encantado, talvez hipnotizado, recordei sem querer a definição do alquimista Khunrath; que disse: “Scintillae Animae Mundi igneae, Luminis nimirum Naturae”, ou seja, são raios ígneos da Alma do mundo, que se evidenciam na Natureza. Tais scintillae acompanham sempre as fases da Alquimia; e nesse momento estavam presentes todos os elementos do opus: no Gabinete da Natureza, achava-se a matéria-prima dos corações; a aqua permanens do Sulphur Philosophorum; e encontrava-se presente Mercúrio, grande Artifex transmutador, por dizer, tio Kurt Shivatulku, representante de Wothan, que e Hermes, e que é Mercúrio.
                Girando em um turbilhão hipnótico, as scintilla luminis foram cobrindo meu campo de visão. Raios dourados brotavam agora de todas as partes e percorriam o espaço ate apagar-se, em espaço estranhamente carente de vento e de sons, como se a Natureza inteira estivesse entretida em manifestar sua lumen naturae. Tirei a vista do chapéu cogumelo e da garrafa de acido, invisíveis sob a vertente luminosa e, semianestesiado, passei a vista ao redor: do mundo inteiro pareciam surgir scintillae. Da casa, do chão, das arvores que antes não vi, mas que se erguiam a dez passos, de todas as coisas emergia uma aura dourada e cintilante, composta por miríades de scintilla luminis. O que aquela visão significava a súbita atividade de um sentido novo, que tornava possível perceber o Anima Mundi, uma Luminositas sensus naturae? Mas uma luminosidade maior atraiu minha atenção. Sobre os cadáveres dos assassinos orientais, em efeito, começavam a elevarem-se duas nuvens de vapor ectoplasma tico, também cintilantes, devido à emissão e absorção de milhões de scintillae; a um metro de altura, aquelas nuvens se mantinham girando em espiral, e nutrindo-se constantemente do vapor leitoso que emanava das poças de sangue. Como em um quadro da Escola Impressionista, como em uma obra de Enrique Matisse, Eu via a realidade decomposta em milhões de pontos de cores, raios de luz que giravam com forma de elementum primordiale e da massa confusa, do chaos naturale. Com a visão saturada pela multidão de scintillae, senti que interiormente e irracionalmente uma voz me falava, dizia: “Yod, Yod, cada scintillae é Yod, um olho de Avalokiteshvara”; “e entre todas as scintillae, ha duas que são O Uno, são as scintillae unas, as mônadas de Bera e Birsa que não podem morrer”.

Já escaldado pelo acontecido em Santa Maria, foi só escutar essas vozes procedentes da Alma, da minha própria Alma influenciada pela Grande Mãe, e remeti-me à Virgem de Agartha. Sim, fechei como pude meus ouvidos, já que não podia prescindir a grandiosa luminositas, e entreguei-me ao rapto da Virgem do Menino de Pedra, cujo auxilio espiritual me permitiu manter-me naquele terrível momento. De acordo com o que ocorreu na sequencia, teria sem duvidas perdido a razão se Ela não apoiasse meu Espírito desde a Origem. Porque neste momento, quando a quantidade e multiplicidade das scintilla haviam alcançado sua máxima exaltação, todas se abriram em uníssono e mostraram um olho inexpressivo, um olho que era o mesmo olho repetido dementemente em todos os pontos do espaço. Toda a Natureza, todas as coisas diferenciadas, tudo o que alcançava ver e perceber fervia agora de olhos inexpressivos, de olhos semelhantes que indubitavelmente nos olhavam; e aqueles milhões de olhos de peixes, de oculi piscium, eram os Olhos de Misericórdia que se abriam para contemplar as Almas de seus filhos amados, as Almas de Bera e Birsa que estavam desencarnando em meio a um grande terror.

Analisando a cena: a forma geral dos entes em nada havia mudado, todos são distinguíveis e reconhecíveis, todos são nomeáveis como sempre; a arvore, o piso, a casa, o céu, a nuvem, os corpos, todos os objetos seguem sendo os mesmos; mas agora apresentam uma vida cheia de olhos divinos, de olhos que miram com Amor Natural. Pensar na arvore, toda composta de olhos, e na casa, no céu, também compostos de olhos, e pensar que os milhões de olhares da arvore para a casa, da casa para a arvore, e as de ambas ao céu, são os laços que ligam e religam aos entes, e constituem a superestrutura da realidade: uma estrutura de objetos ligados entre si pela Vontade do Criador e pelo Amor natural da Grande Mãe.

Se já o havia imaginado, ha de pensar que agora eu me encontrava nessa cena, espantado pelos onipresentes olhos de Avalokiteshrava, “que a tudo vê”, e estremecido ate a raiz de meus sentimentos, agitado em minha natureza emocional pelo intenso Amor da Grande Mãe, por sua Piedade ilimitada. Assim foi, pois, primeiro, a fascinação pelas scintillae, e logo o espanto pela ebulição pan-óptica; e o espanto maior foi comprovar que meu próprio corpo estava constituído por milhões de olhos compassivos. E este fenômeno terrível, demente, explica porque minhas mãos se detiveram antes de tomar os corações do chapéu cogumelo.

- Neffe! Arturo! - a voz de tio Kurt se fez ouvir de vários metros de distancia - Sabia que isto ocorreria e sei o que esta vendo: não tema que é tudo ilusão. Ainda podemos cumprir nosso objetivo. Pode ouvir-me? - Sim tio Kurt! - respondi atordoado - Te escuto como se sua voz procedesse de longa distancia, e me encontro muito sugestionado por essa profusão de olhos que se manifesta na Natureza, por esse monstro em que se converteu o Mundo. - Escuta-me bem, Arturo! Fará exatamente o que eu te pedir e respondera as minhas perguntas. Irá me comunicar tudo o que verá. Pois aqui não ha mais olhos que os seus; todos os olhos de Avalokiteshvara são ilusórios, são projeções de sua própria debilidade emocional. Fiz um esforço e voltei-me para a direção da qual vinha sua voz. Vi milhões de olhos brilhantes, vi que toda a realidade continuava integrada por olhos de peixe, mas onde estava tio Kurt, mas onde deviam estar seus olhos, só vi dois espaços vazios, duas crateras de negrura impenetrável, duas janelas abertas a Outro Mundo; soltei um grito de horror e retornei o olhar ate adiante.

- Esta comigo, Arturo? - perguntou insolitamente tio Kurt.

- Sim, tio Kurt! - respondi uma vez mais.

- Você realizará a obra. Eu só colocarei, no Principio, o Signo de Origem sobre a Pedra de Fogo!
Recordei as palavras de Birsa na Carta de Belicena Villca: “os homens mortais, homens de barro, que evoluíram a partir do barro, desde a Pedra de Fogo do Principio que refletia uma mônada semelhante ao Uno, chegariam ao final como indivíduos idênticos à Pedra de Fogo, como Metatron, o Homem Celeste, o arquétipo realizado, o Cordeiro Filho de Binah; seriam assim quando o tempo estivesse cumprido, e cada um ocupasse seu lugar na construção, de acordo com o símbolo do Messiah; seriam assim no dia em que o Reino de YHVH se concretizasse na Terra, e reinasse o Rei Messiah; e a Shekhinah se manifestasse”... Tantos olhos! Sim, aquela manifestação de Avalokiteshrava, da Grande Mãe Binah, era também a Shekhinah, como a qualificaria Zacarias: “essas raízes óticas da arvore de YHVH representam a Israel Shekhinah”! No principio do tempo, o homem criado era como estrutura de barro; ao final seria como Pedra de Fogo. As tais Pedras, as plasmou irreversivelmente o Signo da Origem, transformando-as em Pedras Frias, em Pedras Não Criadas, segundo se escandalizavam os Demônios, marcando-as com o abominável sinal: “Eles gravaram o Sinal Abominável na Pedra de Fogo, na qual cada Alma dos homens de barro se assentava. E o Signo Abominável esfriou a Pedra de Fogo, Aben Esch, e a tirou do final. Entao, Cohens, a Pedra que deve ser lavada com lixívia no Final, e a Pedra Fria que não tinha que estar onde esta, porque não foi posta no Principio pelo Uno, pelo Criador”. “Pedra maldita, Pedra de escândalo, Semente de Pedra. Eles a plantaram depois do Principio na Alma do homem de barro e agora se acha no Principio”.

- Transmutemini de lapidibus in vivos lapides philosophicos![1] - escutei tio Kurt repetir as palavras do Magister Dorn - Olha na Matrix! - Vejo uma água dourada, uma aqua aurens, agitada por incontáveis raios de luz: e o anima panoptes! - Ponha os corações na Matrix! Sem pensar, busquei pelo tato o chapéu, extrai os órgãos viscosos, e os introduzi pela boca da garrafa. Nem bem se misturaram ao acido sulfúrico, uma emanação de vapor toxico me obrigou a retirar a cabeça: pela abertura do uterus philosophorum, surgiu durante um momento um vapor rubro, dando a impressão que o liquido havia entrado em combustão; porem, logo se acalmou, e um novo resplendor começou a brilhar do interior da garrafa, desta vez, negro. Nesse momento apenas pude adverti-lo porque tio Kurt queria que eu não tirasse os olhos do acido e seu macabro conteúdo, mas foi evidente que diminuiu substancialmente a manifestação morfo-otica geral. - O que vê agora? - perguntou de seu posto.

- O firmamento estrelado!

Em efeito, o acido havia mudado de cor e agora a garrafa continha um liquido negro, nigredo, que apresentava uma superfície brilhante e iluminada por uma infinidade de scintillae fixas, raios de luz que eram as estrelas de um particular microcosmos.

- O que vê agora? - repetiu.

- O Zodíaco. Centenas, milhares de constelações, todos os Arquétipos do Universo estão neste céu.


- O que vê agora? - insistiu.

- Duas estrelas que se destacam. Duas estrelas mais brilhantes que todas as outras, avançam e se situam no lugar central, abaixo do Pé da Virgem da Espiga, perto do Corvo.

- O que vê agora? - inquiriu.

- As constelações parecem mais vivas do que nunca, os Arquétipos vibram no Céu, animais de todas as classes se preparam para descer. Vejo-os e escuto seus sons. Em verdade os sons dos animais celestes haviam se tornado tão reais, que só ao deixar por um instante a vista da matéria, compreendi que certamente, alguns deles estavam presente ao meu redor: distingui com sobressalto três rugidos, e por isso dirigi essa fugaz mirada ao redor; eram o grunhido do porco, o latido do cachorro e o rugido do urso. Com crescente espanto, comprovei então que as nuvens ectoplasma ticas que flutuavam sobre os cadáveres de Bera e Birsa, haviam adquirido a inconfundível forma de javali: sobre os cadáveres dos assassinos orientais, materializavam-se enormes javalis brancos, que grunhiam ameacadoramente e mostravam em seus corpos os mil olhos de Avalokiteshrava, os mil olhos do Anima Mundi, os mil olhos do Uno, os mil olhos de Purusa. Os cães daivas haviam se aproximado, sem duvida chamados por tio Kurt, e pareciam vê-los sem problemas, porque latiam com ímpeto incontrolável. Mas a maior impressão, tive ao observar tio Kurt. Como explicar o que vi? Só talvez dizendo que sua forma mudava; que por momentos era tio Kurt e por momentos um enorme urso irado, um ursus terrificus. Mas tal explicação não seria de todo correta porque, certamente, tio Kurt havia se convertido em um Homem-Urso: era a fúria de tio Kurt, a Fúria do Guerreiro Urso, o berserkr gangr, a forca que o transformava.  Busquei a tio Kurt com os olhos e descobri um Berserkr, a um Guerreiro da Ordem Einherjar de Wothan, a um Iniciado Hiperbóreo nas Vrunas de Navutan. E a visão regressou espantada aos olhos, acompanhada por um violentíssimo rugido e o movimento compassado, quase Ritual, de suas garras poderosas. Mas quando falou, era novamente tio Kurt.

- O que vê agora? - exigiu.
- As duas estrelas mais brilhantes se transformaram em dois javalis gêmeos!
- O que vê agora?
- Os javalis fogem apavorados e buscam a proteção de sua Mãe, o Dragão do Universo!
- O que vê agora?

- Vejo os javalis abrigarem-se no regaço do Dragão! E vejo o Dragão: tem mil cabeças e mil olhos; e em cada cabeça uma estrela de Davi; e em cada cabeça aparece o rosto de Binah; e suas mil bocas cantam a Canção do Cordeiro. O Dragão acolhe em seus braços o Cordeiro e os Javalis, a destra e sinistra, grunhem sem cessar. E fazendo coro ao Dragão e aos Javalis, três terços das estrelas do Céu cantam assim:

Avalokiteshrava!
Grande Mãe Binah!
Já chega, já chega
O Holocausto Final!

- O que vê agora?

- O Dragão Binah sustenta com sua Mão direita o Cordeiro, enquanto que com a
esquerda toma uma taça transbordante de lixívia humana. Agora derrama o conteúdo da
taça sobre a Terra.

- O que vê agora?

- As mesmas estrelas cantam:

Avalokiteshrava!
Grande Mãe Binah!
Sua Piedade, sua Piedade,
Lava a Terra com a lixívia de Jehova

- O que vê agora?

- A lixívia cai sobre a Terra. Dois javalis brancos correm no céu de leste a oeste anunciando a viva voz: “A peste, a peste!” Tudo o que a lixívia toca perece. A Terra se converte em um deserto de Pedras! Só sobrevivem cento e quarenta e quatro mil que pertencem a casa de Israel: mas estes fogem do deserto e se refugiam em um vale, que logo será inundado pela lixívia. O Dragão e os Javalis se enfurecem porque ainda sobram as Pedras do Deserto, porque a lixívia não as calcinou e dissolveu como o resto dos seres viventes!

- O que vê agora?

- O Dragão envia então ao Cordeiro, custodiado por seus irmãos, os Javalis brancos a pastar na Terra. Mas a Terra esta estéril e o Cordeiro desfalece entre as Pedras  sem poder alimentar-se.

- O que vê agora?

- O Dragão, dono de uma terrível ira, amaldiçoa as Pedras e ao Deserto de Pedras. E grita que buscará ao Cordeiro antes que o deserto cause sua morte!

- O que vê agora?

- A imunda lixívia caída do Céu, e a sujeira que conseguiu arrancar da Terra, escorreram ate um vale, a Leste do Deserto de Pedras, e formaram um grande mar! Éden e Paraíso, são os nomes desse mar. E Tártaro e Tharsis, são os nomes do Deserto de Pedras.

- O que vê agora?

- O Deserto empurrou o cordeiro ate sua borda, que e assim mesmo a borda do mar de lixívia! O Dragão, no Céu, voltou a gritar que auxiliara seu filho, que se acha entre o Éden e o Tártaro.

- O que vê agora?

- Os mil olhos do Dragão, brilhantes como Sois, se concentram sobre o Deserto das Pedras e as Pedras padecem de mortal sufocação. A maioria das Pedras se abranda e derrete, e o Deserto se torna um enorme lago de lava fervente: só as Pedras mais duras permanecem em seu lugar, mantendo com tenacidade sua forma separada!

- O que vê agora?

- Um terrível clamor se eleva do Deserto e sobre alem do Dragão: as Pedras reclamam ao Incognoscível ajuda contra o Cordeiro e contra a Mãe do Cordeiro, o Dragão Binah, que lhes jogou a lixívia de Jehova e os separou da Terra, e pretende calcina-los no Deserto por não servirem de alimento para o Cordeiro.

- O que vê agora?

- Apareceu um sinal no Céu: uma Virgem, mais Negra que a Noite, com a Lua debaixo de seus pés, e usando uma Coroa com Trezes Estrelas Não Criadas! E a Virgem de Agartha que veio socorrer as Pedras em Nome do Incognoscível.

- O que vê agora?

- A descida da Virgem produz como um manto de negrura refrescante sobre o Deserto, que havia se transformado em lago de lava ardente, e traz imediato alivio as Pedras. A presença da Virgem refresca e endurece novamente as Pedras, porque se interpõe com sua obscuridade ante os mil olhos cadentes do Dragão! E a Virgem porta uma espiga na Mao; e vai deixando cair os grãos sobre o Deserto de Pedras; e as Pedras que recebem os grãos se tornam imunes ao Fogo do Céu, já não podem ser amolecidas, e ficam assinaladas com uma Marca, um Signo único que significa o Negro, o Duro e o Frio. E a Marca da Virgem se chama “Signo de Vril”.

- O que vê agora?

- Agora o Cordeiro esta perdido entre as Trevas, a Dureza e a Frieza das Pedras. E chama com desespero sua Mãe, o Dragão Binah, porque as Pedras ameaçam estrangular sua garganta ou submergi-lo no mar de lixívia.

- O que vê agora?

- A Virgem esta grávida, e grita pelas dores e angustias do parto. E apareceu outro Sinal no Céu: um Dragão de um vermelho aceso, que tem mil cabeças e mil olhos e mil estrelas de Davi em suas cabeças; sua cauda varre a terça parte das Estrelas do Céu e as joga na Terra; e descem sobre o mar de lixívia, comandadas pela e estrela Thuban. E o Dragão também desce para cuidar do Cordeiro e atacar a Virgem.

- O que vê agora?

- O Dragão se deteve frente a Virgem que estava a ponto de parir, para devorar seu filho quando for dar a luz. E Ela da a luz a um Menino de Pedra, que há de reger todas as Nações com um Tridente de Vajra. Führer é o nome do Menino de Pedra. Mas seu filho foi protegido do Dragão ao ser confundido com as Pedras do Deserto, e a Virgem se refugiou no Deserto, onde tem um lugar disposto pelo Incognoscível para residir durante dois mil, cento e oitenta e oito dias.

- O que vê agora?

- Ha uma batalha no Céu! Kristos-Lucifer, o Capitão Kiev e os Siddhas Leais, se levantaram a lutar contra o Dragão. O Dragão apresentou batalha, e também seus Anjos Imortais, seus Javalis e estrelas. Mas não prevaleceu nem houve lugar para eles no Céu. Foi precipitado o Grande Dragão, que se chama Jehova-Satanas, o que organiza o Universo inteiro; foi precipitado na Terra, e seus Anjos foram precipitados com Ele.

- O que vê agora?

- Ouço uma grande voz no Céu que diz:

Agora chegou a Libertação
E o Poder e o Reino do Incognoscível
E o Império de seu Kristos
Porque foi precipitado o aprisionador
De nossos Camaradas
O que dia e noite os marcava ante a
Vista do Incognoscível
Mas os Siddhas Leais o venceram.
Pelo Sangue Puro
E pelo testemunho de Valor que deram
Pois não amaram a Vida Quente
Tanto que retiraram a Morte
Por isso temei, Céus,
E os que moram neles
Ai da Terra e do Mar!
Porque baixou entre vós o Diabo,
Possuído de grande ira
Sabendo que lhe resta pouco tempo.

- O que vê agora?

- Quando o Dragão se viu precipitado na Terra, perseguiu a Virgem que havia dado a luz o Menino de Pedra. Mas a Virgem dispunha de duas asas do Grande Condor e podia voar ao Deserto, ao se lar, onde resistiria por um tempo, e por dois tempos, e metade de um tempo, longe da presença do Dragão. O Dragão vomitou por suas bocas, atrás da Virgem, lixívia como um Rio, para fazer com que o Rio a arrastasse. Mas o Deserto ajudou a Virgem. E o Deserto abriu sua boca e tragou o novo Rio de Lixívia que o Dragão havia vomitado; e ele escorreu ate o mar de lixívia, onde estavam o Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil. E o Dragão se enfureceu contra a Virgem e foi fazer guerra contra os demais descendentes dela, os que exibem Sua Marca e tem o Testemunho de Kristos Lúcifer. E se situou na margem do mar de lixívia.

- O que vê agora?

- Vejo subir do Deserto um homem com o Poder de uma Besta. E um ser metade homem, metade urso; ou metade homem, metade lobo; por momentos e como urso e por momentos e como lobo; quando deve enfrentar as Abelhas de Israel e como Urso; e quando ha de lutar contra o Cordeiro e semelhante ao Lobo. E o Filho da Virgem de Agartha que cresceu como Pedra no Deserto; e o Führer que regressou para combater a guerra contra o Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil! Seu rugido estremece a Terra, e a seu passo se levantam as Pedras do Deserto, as que levam o Signo do Vril! E as Pedras Geladas pela Virgem de Agartha são também homens-lobo que uivam com fúria que não pode ser contida!

Não exagero em nada se asseguro que o rugido que surgiu neste momento do lugar onde estava tio Kurt perguntando monotonamente “que vê agora?” fez tremer a terra. Eu descobri quando vi sobre a superfície do aqua vitae da garrafa, mas minhas palavras haviam adquirido uma formalidade profética que se conformava diretamente no inconsciente. Fazia tempo que eu não pensava no que dizia: simplesmente expressava o que chegava a minha mente, que a essa altura não podia explicar se realmente o via ou o imaginava. O que, claro esta, não era produto da minha imaginação, era a transmutação de tio Kurt e seus bestiais rugidos e uivos; nem os javalis ectoplasma ticos que, cada vez mais nítidos e patentes, se materializavam sobre os cadáveres dos assassinos orientais.

Aos rugidos do homem-urso, os Javalis respondiam com o maldito zumbido apícola que também conhecia agora; mas quando o homem-lobo uivava, os Javalis se jogavam a tremer, vitimas do pânico, em pelo ouriçado de terror e grunhindo em desespero. E eu, ao perceber o que ocorria ao meu redor, tratava de manter a vista hipnoticamente fixa na matriz com o acido e os corações, contemplando umas visões que, por mais fantásticas que pudessem ser, eram menos terríveis que a Realidade da Chácara de Belicena Villca.

- O que vê agora? - perguntou claramente a voz de tio Kurt.

- Vi avançar um Exercito enorme formado pelos que levam a Marca da Virgem e são como a Besta, os inimigos do Cordeiro. E vejo que vão conduzidos pelo Führer, que e como um lobo furioso, e acompanhados pela Virgem, que voa sobre eles levando o estandarte do Signo do Vril e da Espiga. E o Exercito de lobos se aproxima do mar de lixívia. E o Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil membros do Povo Eleito, se estabelecem em uma Ilha Branca situada no meio do mar de lixívia, que havia se formado com o cume do Monte Sião. Jerusalém Celeste e Chang Shambala são os
nomes dessa Ilha.

- O que vê agora?

- Ao Cordeiro, de PE sobre o Monte Sião, e os cento e quarenta e quatro mil que tem seu nome e o nome de seu pai escrito na fronte. E ouço vozes do Céu que sonham com a harmonia da Natureza múltipla. E cantam uma canção nova frente ao Trono de Jehova, frente aos dez Sephiroth, ante aos Anciãos de Israel e ante a Shekhinah. Ninguém pode aprender o Cântico da Criação, senão aqueles cento e quarenta e quatro mil que foram resgatados da Terra. Estes são os que não conhecem o amor da mulher porque são Sacerdotes sodomitas. Estes são os que seguem o Cordeiro onde quer que este vá. Estes são os que constituem a hierarquia das Almas, que vai desde o homem, ate Jehova e o Cordeiro. Não conhecem a Verdade da Criação. São animais-homens perfeitos.

- O que vê agora?

- Observo agora uma Época anterior a queda do Dragão: se veem sobre a Terra aos homens que já tinham o Sinal do Vril e a uns Anjos do Dragão que os ameaçavam desde o Céu. Um deles, o que voa mais alto no Céu, leva o Evangelho do Cordeiro e anuncia o Holocausto de Fogo aos moradores da Terra, a toda Nação e Tribo, a toda língua e Povo, e diz com grande voz:

“Temei a Jehova e dai-lhe gloria
Porque chegou a hora de seu juízo
Adora a quem criou o Céu, a Terra
E o Mar e os mananciais de água!”
E outro anjo, o segundo, o seguiu dizendo:
“Caiu, caiu, Babilônia a Grande
A que deu de beber do vinho do
Império Universal a todas as Nações”
E outro Anjo, o terceiro, o seguiu dizendo com forte voz:
“Se alguém adora a Besta e sua Imagem
E recebe sua Marca na fronte ou na Mao
Beberá ele também do
Vinho da fúria de Jehova
Vinho puro, concentrado, lixívia humana
Da taça de sua ira.
E será atormentado com Fogo e Enxofre
Na presença dos Anjos Santos
E na presença do Cordeiro.
A fumaça de seu tormento sobe
Pelos séculos dos séculos
E não tem repouso nem de dia nem de noite
Os que adoram a Besta e sua imagem
Os que recebem a Marca de seu nome”
“Aqui esta a Constancia do Povo Eleito, os que guardam os mandamentos de Jehova e a fé no Messias!”

- O que vê agora?

- Outro Anjo Imortal. Aponta para a Cidade que esta no Monte Sião, no meio do mar de lixívia, e diz: “eis ali a desposada, a esposa do Cordeiro”! Este Anjo fala para os que adoram ao Cordeiro, e lhes promete a salvação dos homens-lobo escondendo-se na cidade de Jehova. Assim lhes fala:

“Baixara uma cidade do Céu
Sobre o Monte Sião
Da parte de Jehova
Seu resplendor será semelhante a uma Pedra preciosissima
Que emite beleza cristalina
Terá uma muralha grande e elevada
Na que haverá doze portas
E sobre as portas, doze Anjos
E os nomes escritos em cima que são
Os das doze tribos dos Filhos de Israel
Ao Oriente, três portas; ao Sul, três portas;
E ao Oriente, três portas.
A muralha da cidade terá doze bases
E sobre elas doze nomes,
Dos doze apóstolos do Cordeiro.”

E o Anjo utiliza um bastão de ouro para medir a cidade, suas portas e sua
muralha.

“A cidade estará assentada em forma quadrangular, e seu comprimento será igual a sua largura.” E mede a cidade com o bastão e tem doze mil estádios. Seu comprimento, largura e altura são iguais. E mede a muralha e tem cento e quarenta e quatro côvados, segundo a medida humana, que e a do Anjo. E o Anjo disse:

“O material da muralha será jaspe e a cidade de ouro puro semelhante ao cristal puro. As bases das muralhas da cidade estarão adornadas com toda a classe de pedras preciosas. A primeira base será jaspe; a segunda, safira; a terceira, calcedônia; a quarta, esmeralda; a quinta, calcedônia; a sexta, coralina; a sétima, crisolito; a oitava, berilo; a nona, topázio; a décima, ágata; a décima primeira, jacinto; e a décima segunda, ametista. As doze portas serão doze perolas; cada uma das portas será uma só perola, como cristal brilhante. Não haverá santuário nela, porque seu santuário será Elohim, Jehova Sebaoth, e o Cordeiro. E a cidade não necessitara de sol nem de lua para que a iluminem;
porque a Gloria Sephiroth de Jehova a iluminara e sua lâmpada será o Cordeiro. E caminharão as Nações a sua luz, e os Reis da Terra levarão a ela sua Gloria. Suas portas jamais se fecharão de dia e ali nunca haverá noite. E levarão a ela a Gloria e a honra das Nações. Não entrara nela coisa impura, não consagrada pelos sacerdotes de Israel, nem os que levam o Sinal Abominável, senão os inscritos no livro da vida do Cordeiro.”

- O que vê agora?

- Um rio de água vivente, do que saem todas as coisas criadas, que surge do Tronco Kether de Jehova e do Cordeiro. O Anjo pronuncia as ultimas palavras:

“No meio da praça, e de um lado e de outro deste Rio, haverá uma arvore da Vida que dará doces frutos, um a cada mês. E as folhas da Arvore servirão para curar as Nações dos pecados contra Jehova. E não haverá condenação para ninguém, e estará nela o Trono de Jehova e do Cordeiro, e seus servos lhe prestarão culto. Verão o Seu rosto, e levarão o nome dele na fronte. E não haverá noite, e nem negrura infinita, mas não necessitarão de lâmpada nem luz do Sol, porque Jehova Elohim os iluminara, e reinarão pelos séculos dos séculos.”

- O que vê agora?

- Vejo a Batalha Final. Vejo o Führer e seu Exercito de Homens-Lobo tomar por assalto a Ilha de Sião, e surpreender a Jerusalém Celeste, que é Chang Shambala, e causar grande mortalidade entre seus moradores. Nem Thuban e a terça parte do Céu, postos de guarnição, conseguem deter a manada furiosa! O Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil sacerdotes se encontram encurralados na Cidade Maldita, construída com o corpo do Dragão. E morrem aos milhares. Preferem morrer que ver o sinal do Vril dos Homens-Lobo. E a Cidade-Dragao palpita e se contorce, sem conseguir tirar de cima os Homens-Lobo. E os imortais olhos do Dragão derramam inúmeras lagrimas; lagrimas que escorrem ate o quádruplo Muro das Lamentações; lagrimas de piedade pelos Filhos de Israel, no Cordeiro e no Dragão; e a Virgem de Agartha crava seu estandarte no Muro das Lamentações, o qual é como o Coração de Binah, a dona de todos os corações; sim, no coração de Avalokiteshvara foi plantado o Signo do Vril, a Marca que causa o Negro, o Duro e o Frio das Pedras, e pelo Muro das Lamentações correm suas lagrimas como surgidas de uma cascata milagrosa. E trevas duras e geladas se abatem sobre Sião: e a Morte Fria da Virgem; a Morte que arrebata o calor dos corações do Cordeiro e dos cento e quarenta e quatro mil Santos de Israel; a Morte que desata que vem nas Trevas, os Homens-Lobo de Pedra do Exercito do Führer.

- O que vê agora?

- A Batalha Final continua na Terra, mas já não posso ver o que ali ocorre, pois vejo os javalis brancos que fogem vitimas do pânico a esconder-se no Céu; vão perseguidos por parte do Exercito-manada de Homens Lobo de Pedra! Mas no Céu só restam a quarta parte das Estrelas!
- Chegou o momento! O Final é igual ao Principio! – exclamou surpreendentemente tio Kurt.

Fui surpreendido por aquelas inesperadas palavras de tio Kurt. Contudo, perguntou na sequencia:

- O que vê agora?

- Os Javalis gêmeos subiram ao céu estrelado buscando o Dragão. Mas o Dragão não esta no Céu e sim na Batalha Final. E os Javalis se converteram novamente em estrelas, e se situaram abaixo dos pés da Virgem, perto do corvo. E no céu faltam muitas constelações, como um livro de imagens do qual arrancaram muitas paginas.
 
- O que vê agora?

- As estrelas do Céu, todas as que sobraram, abandonam seus postos e giram em torno das estrelas-Javalis. É o chaos primordialis, a massa confusa.

- Projetarei o Signo de Origem sobre a massa confusa! - gritou tio Kurt. Ao que parece colocou-se muito próximo de mim, as minhas costas. Imaginava suas orbitas vazias e negras, profundas e infinitas, somando-se ao recipiente alquimista, cuja superfície brilhante alojaria sem remédio o que ele era: o Signo da Origem, o Signo do Vril, a Marca da Virgem, o Signo de Lúcifer, o Signo de Shiva. O imaginava, pois não desejava olhar e ver, como antes, a Morte Fria, ao Homem-Urso e ao Homem- Lobo.

Na matéria, a superfície Sulphur Philosophorum mostrava a imagem de um rodamoinho de lumen naturae que giravam ao redor das estrelas gêmeas, as mônadas de Bera e Birsa. Quando a primeira Runa se refletiu sobre elas, perderam grande parte de seu brilho e começaram a solidificar-se. E assim continuaram tornando-se opacos e solidificando-se a medida que se sucediam as seguintes Runas. E quando, ao fim, se plasmaram as Treze Runas, as duas estrelas experimentaram uma metamorfose e se transformaram em flores de Pedra. Entao, como se tio Kurt me houvesse feito a pergunta, descrevi em voz alta o que via:

- As estrelas são agora duas flores de Pedra. São dois padmas ou lótus: Esther é o nome dessas Pedras. E as Treze Runas se movem e se associam entre si de incompreensível maneira. E as Treze Runas formam um Signo que desintegra o redemoinho, ao chaos confusum, e o posiciona pelas trevas mais impenetráveis; só as flores de Pedra caíram no Sulphur Philosophorum: e agora se precipitam ao fundo da matéria. Opus consumatum est!


- Possui agora dois lapis philosophorum! - disse tio Kurt - Você completou a Obra por intermédio da Virgem, porque você viu a Obra! E você recebeu o descensus spiritus sancti creator! Você e igual a Mim, e Eu sou igual a você! Naturalissimum et perfectissimum opus est generare tale quale ipsum est!”