La Montagne

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Fechados contra o Mundo e seu Rei, Espírito contra Matéria!

terça-feira, 2 de abril de 2013

A REVELAÇÃO DAS QUINZE PÉROLAS DO CATARISMO [3/5]


A REVELAÇÃO DAS QUINZE PÉROLAS DO CATARISMO [3/5]
Potencial Divino e a Guerra Espiritual



“Entenda, que aquele que está na escuridão não poderá ver nada, a menos que receba luz, e por intermédio da luz recupere a visão. Examine a si mesmo, para ver se possui a luz em tal quantidade que, ao se perguntar sobre as coisas elevadas, possa compreender como irá escapar; pois muitos estão buscando nas trevas, e eles tateiam sem rumo, desejando compreender, uma vez que não há luz para eles.
Meu filho, não permita que a sua mente olhe para baixo, mas que por intermédio da luz olhe sempre para as coisas que estão acima. Ilumine sua mente com a luz do Céu, para que possa se dirigir a ela.”
(d’O Livro de Tomás o Competidor)


                A espiritualidade cátara está longe de ser pacífica; aqueles homens simples e abnegados, que praticavam a bondade e pregavam o ascetismo e a Paratge – os valores inatos condensados sob a égide do que chamamos Honra -  abdicaram deste mundo, abdicaram de tentar interferir no devir deste mundo para purificarem a si mesmos para a grande guerra: a guerra que acontece dentro de si mesmo, contra os próprios instintos, visando quebrar os grilhões do psicológico e mergulhar nas águas da consciência na busca do Theoantropos, o Homem Divino que existe corrompido dentro de nós: essa busca implica uma batalha microcósmica mortal contra o Rei do Mundo, o Demiurgo criador e mantenedor deste mundo.

                Esses homens mal compreendidos – doces, porém duros, justos, porém cruéis com as próprias almas, negadores do mundo e da vida, e afirmadores da vida na morte – são tomados pelos reconstrucionistas e teóricos modernos como pacíficos pregadores de uma religião de amor e tolerância universal. Isso é uma meia-verdade perigosa.

                Evoco um artigo do filósofo russo Alexander Dugin sobre o contraste, nas tradições religiosas, entre as vias “do leite” e “do vinho”, para posicionar depois os Cátaros no segundo grupo:

“A humanidade sempre teve dois tipos de espiritualidade, dois caminhos -  ‘o caminho da Mão Direita’ e o ‘caminho da Mão Esquerda’. O primeiro é caracterizado pela atitude positiva em relação ao mundo ao redor; o mundo é visto como harmonia, equilíbrio, bem, paz. Todo o Mal é um caso particular, um desvio da norma, algo não-essencial, transiente, sem razões transcendentais profundas. O Caminho da Mão Direita é chamado a ‘Via do Leite”. Essa via nunca fere uma pessoa, ao contrário, a preserva da experiência radical, a protege da imersão no sofrimento, no pesadelo da vida. Este é um caminho falso. Um caminho que leva a um sonho. Um sonho que, se seguido, não levará a lugar algum.
O segundo caminho, o ‘Caminho da Mão Esquerda’, vê tudo como uma perspectiva invertida. Não como uma tranquilidade diária, mas sofrimento negro; não como a calma silenciosa, mas o drama tortuoso e ígneo da vida destruída. Este é uma ‘Via do Vinho’. É destrutiva, terrível, o ódio e a violência reinam aqui. Pois aquele que segue neste caminho percebe toda realidade como inferno, como exílio ontológico, tortura, imersão no coração de alguma catástrofe inconcebível originada nas alturas do espaço. Se no primeiro caminho tudo é visto como bem, no segundo tudo é visto como mal.
Este caminho é monstruosamente difícil, mas é o único verdadeiro. É fácil tropeçar nele, e mais fácil ainda perecer. Ele não garante nada. Não tenta a ninguém. Mas este caminho é o verdadeiro. Quem o segue – achará glória e imortalidade. Quem resistir conquistará, receberá o prêmio, que é mais elevado do que a própria vida. Aquele que segue o Caminho da Mão Esquerda sabe que um dia a prisão terminará. A prisão da substância irá colapsar, tendo se transformado na cidade celestial. A cadeia de iniciados apaixonadamente prepara o momento desejado, o momento do Fim, triunfo da libertação total”.
(Alexander Dugin, “The Gnostic”)

                As três Pérolas seguintes possuem relação com a Meta Sacra do Catarismo – esta “libertação total” da “prisão da substância”, a restauração do homem em Theoantropos, no Espírito Divino criado pelo Deus Verdadeiro e aprisionado pelo Arconte-chefe, o Demiurgo Jehova-Satanas, Yaldabaoth, Sakla, e sua hoste de arcontes. Então, em síntese, o Catarismo é necessariamente uma via da Mão Esquerda, pois chegam a ele aqueles homens cuja busca espiritual os ensinou a visão pesadélica da vida terrestre, e uma nostalgia da Vida Eterna cujo valor é maior do que a vida e a morte.

                O Segundo Luminar, Oroiael (Uriel), aquele por quem os Bogomilos chamavam em momentos de grande necessidade, governa estes Mistérios; Uriel                                                                       é um Siddha belicoso, e seus Custodes são aqueles que entronam o Iniciado, vencedor da Guerra Sagrada, nos Tronos de Glória: Bariel, Nouthan, Sabenai.


Potencial Divino

·         Modelagem Adaptativa:

                A cada encarnação terrena do Espírito aprisionado, Satanás impõe uma re-modelagem adaptativa.

“Este é meu mundo”, – ele diz – “e para executar sua finalidade, você deve estar adaptado às suas leis e convenções. De outra forma não viverá”.

               
Aceitar passivamente essas adaptações, de natureza psicológica, sela o destino fatal do Divino dentro da pessoa. A remodelagem torna a vítima sujeita aos algoritmos e programas arquetípicos, um prisioneiro do arquetípico, e do abismo quadridimensional Terra. A forma de imposição desse programa é a energia satânica que vive e age independente dentro de nós, chamada ALMA. A Alma pertence a Yaldabaoth, foi criada por ele, e não deve jamais ser confundida com o Espírito eterno criado pelo Pai.

                Vale dizer, que não se trata de uma simples imposição de ideias externas, como uma hipnose ou possessão, mas uma modelagem da psique naquilo que Nimrod de Rosario chama de “Estrutura Cultural Habitual”: as próprias formas de pensar, os algoritmos que geram o pensar racional, são feitas para processar e assimilar a obra do Demiurgo, e a cada descoberta adorá-lo. Essa é a primeira modelagem, a que não nos permite enxergar por vias racionais NADA do que está fora do Universo criado, porque a mente humana foi modelada para lidar apenas com o criado. Restam-nos a consciência da Nostalgia, e a orientação espiritual para nos guiarmos.

                A segunda remodelagem adaptativa, buscada como “Iniciação” pelos adeptos das religiões satânicas, é o cancelamento da união da pessoa com o Espírito Divino, quando o Espírito transfere à alma mortal sua última energia e desaparece. Não há mais Theoantropos. Só o anthropos permanece – um homem isolado, alienado de sua origem Divina para sempre.

·         ‘Não tomarás o Usurpador pelo Pai!’:

                Jehova Elohim, ‘Senhor Deus’ – a formula já aparece em Genesis, III. Assim Elohim se declara o Deus do todo. É um engano! – ele não é o Pai, mas um impostor.

                O desastre da remodelagem adaptativa é esquecer o verdadeiro Senhor e continuar a venerar este Arconte malicioso, a desejar e amar sua criação medíocre.

‘A Terra pertence a Jehova, mas não nós! – Os Cátaros diziam a todo momento, como Noria dizia a todo momento. – Não tomarás o Usurpador pelo Pai’.

·         Restauração de um Ícone:

                Jehova-Satanás, Yaldabaoth, põe o Espírito num sopor instantâneo, e nas suas manipulações astrais, insere a modelagem adaptativa que faz o Espírito crer que é o homem de barro, que impõe o esquecimento sobre sua origem e condição. Mas esta modelagem adaptativa não afeta a origem profunda da pessoa.

                Mas a comunidade dos Cátaros sabe: a personalidade, o eu terreno, o mar de emoções e raciocínios não é o Espírito, mas este, aprisionado, aporta sua energia para a psique. Desta forma, todo o mal, toda a malícia e imundície humanas, todo o comportamento demoníaco, não incorrem em culpa alguma. O Espírito é Santo, Puro, Inocente e Honrado, como um Ícone que se desgasta e deteriora não por sua própria culpa, mas pela exposição indevida ao pó e aos elementos a que o submeteram. Todas as vítimas da remodelagem adaptativa satânica devem ser instruídas a viver sob constante Catarse, alertas para as armadilhas que brotarão, espontaneamente, de dentro da Alma. Então poderão ser restauradas pela Paraclese Divina do Pai manifesta no Batismo pelo Espírito Santo Divinizador.  Citando uma passagem importante:

“Então, quando o útero da alma, pela vontade do Pai, volta-se para dentro de si mesmo, a alma é batizada e imediatamente limpa da poluição externa que foi lançada sobre ela, assim como as roupas, quando estão sujas, são postas na água e reviradas até que a sujeira seja removida e as roupas se tornem limpas. Tal é a limpeza da alma para recuperar a juventude de sua antiga natureza e para retornar a si mesma: tal é seu batismo”.
(A Exegese da Alma)

·         Potencial Divino, e Potencial Satânico:

                O Catarismo ensina que o Potencial Divino se realiza através do isolamento interno, fazendo de si mesmo um modelo vivo de Montségur, a montanha fortificada detentora do Gral. O processo constante de Catarse leva à polarização dos fenômenos percebidos em divinos e satânicos, o que leva à purificação da consciência fechada em cerco contra o mundo diabólico de Yaldabaoth. 
                Ao contrário, o Satanismo Cósmico reúne todas as religiões e filosofias que pretendem conformar o homem à vida na Terra (judaísmo, grandes religiões institucionalizadas, teosofia, fraternidade branca, thelema, maçonaria etc), que pretendem implantar nele a apatia, a obediência, o conformismo e um falso consolo que inspira à aceitação passiva dos sofrimentos e torturas da vida abismal na Terra, chegando mesmo ao gosto pela vida na Terra. A harmonia, o pacifismo, a conformidade, a libertinagem, a fragilidade psicológica, a carência explorada, o ir com a corrente, tudo isso leva ao desprendimento do Potencial Satânico, que é a obediência às leis de Jehova-Satanas. Há uma guerra no mundo entre forças que querem desprender nos indivíduos um destes dois potenciais, e a todo momento os indivíduos são agentes de um dos dois lados beligerantes, cabendo a cada um escolher o lado que defenderá, de acordo ao Potencial a que aspira.

Theoantropos

              
  Acreditamos que não há ser, não há homem, fora da Divindade. O homem só existe de fato na Divindade, e a separação da consciência humana da supraconsciência transubstanciada Ehre, fruto da modelagem adaptativa a que Yaldabaoth nos submete, faz com que o humano sem o divino perca sua existência real.

                Ora, sendo o mundo uma ilusão miserável, é possível que existam criaturas de todas as espécies – inclusive homens – que são manifestos (na ilusão) mas não possuem existência real. Nós definimos o grau de existência real pela manifestação da Consciência espiritual (como definida em Gurdjeff, Ouspensky e Nimrod de Rosario), que é a própria Divindade a ser restaurada.

                A Divindade habita o homem através das composições divinas inseridas em seu nascimento.

                O corpo é apenas um vaso para atrair e prender o Espírito Imortal; os selos que atraíram e prenderam o Espírito na Carne, chamamos de Signo da Origem, e a consciência deles permite a reunião com Minne e o retorno ao Pleroma, ao nosso Lar Espiritual. Tais Selos foram postos pelos Arcontes eras atrás, e são passados geneticamente. Todos nós os possuímos, e, portanto temos em nós a essência divina.

                O objetivo e missão do homem na terra não é desfrutar da ilusão miserável de Yaldabaoth, Jehova-Satanas, o Rex Mundi, mas mergulhar na consciência catártica e compreender o Signo da Origem, compreender o próprio aprisionamento, tornando-se novamente divino de acordo com a vontade amorosa do Pai – um Perfeito, um Iniciado, um homem-deus – Theoantropos.

                A essa elevação do humano ao sobre-humano, à superação de todos os grilhões e compreensão da Origem – a isto chamamos a Meta Sacra.

                Existe, na nossa prisão, um Mistério que faz com que mesmo a malícia de Yaldabaoth e todo o sofrimento do mundo acabem servindo à Glória do Espírito, do Pai Celestial. Este Mistério está contido no conceito de Desafio.

                Abandonar o Deserto material é um poema de Amor celeste escrito com o sangue. O grito de impotência e inveja do Rex Mundi quando um prisioneiro escapa, é uma vitória de Deus sobre Satanás. Por isso a vida humana, em si própria um lamento eterno nas cinzas, ganha força e brilho quando, imbuído no Amor celeste, o homem toma para si o desafio de transmutar a si mesmo em Theoantropos.

                Os Éons e Luminares olham comovidos de seus tronos no Pleroma, quando dos Céus Caóticos enevoados de Satanás um não-mais-humano eleva sua última gota de sangue às esferas supracelestes em retribuição ao Amor recebido, na forma da Luz Imaterial, consubstancial ao Pai, que chamamos Vril, a Essência do Espírito. 

                Cada vez que esse brilho se produz na escuridão da Matéria, como um raio trovejante em meio às nuvens, marcando o nascimento  do Theoantropos, a Vitória Celeste sobre os Arcontes é assinalada com uma certeza absoluta e incontestável.

                Vencer o desafio de se libertar de Yaldabaoth – eis a Meta Sacra.

Reencarnação Estratégica

                Uma imagem aristocrática da reencarnação dos filhos de Set:

                 A reencarnação é a terceira armadilha de Yaldabaoth, o mecanismo infernal para sugar todo o  sofrimento da alma. Na versão farisaica do Cristianismo a reencarnação é negada: o medo do julgamento mantém as pessoas na escravidão pecadocrática da moral "cristã". O Tibet entende a reencarnação como metempsicose (reassentamento da alma). O Budismo geralmente tem uma visão acertada do mecanismo infernal da reencarnação, conhecido como Chave Kalachakra, e as punições reservadas às almas, reencarnando em seres cada vez mais baixos e sofridos. Os Arcontes e seus anjos são às vezes chamados Senhores do Karma, pois sua ocupação é torturar e extrair dor das almas, dor que é o alimento espiritual de Yaldabaoth.

                Os Puros conseguem se libertar deste ciclo, mas a maioria deles não quer ser retida no Pleroma. O Espírito não quer retornar aos Céus enquanto outros seus iguais estão sofrendo. O Espírito se torna sedento em multiplicar sua experiência de transfiguração e é ávido por levar consigo mais alguns Espíritos para fora dos Gólgotas de Jehova Satanas. O Espírito sabe que jamais, na eternidade, o Pai irá abandoná-lo sob nenhuma condição... a menos que ele conscientemente renegue e traia sua missão terrena, se afastando voluntariamente do Pai, e da própria Paratge.

                A noção de reencarnação estratégica deixa o homem confiante e incapaz de ceder ao medo. Mesmo na prisão infernal de Yaldabaoth, temos a vida eterna, manifesta na Guerra e na camaradagem com nossos irmãos em Espírito. Uma fase passageira numa longa e ininterrupta existência. O guerreiro flui através da vida e da morte nessa dinâmica ascendente e descendente, até que seu Potencial Divino se cumpra e o último Espírito seja liberto da rede de Jehova Satanas. 

                Essa é a Aristocracia do Espírito, descida dos céus para a guerra contra Satanás, encarnada nos atlantes, nos dórios, nos tartésios, romanos, citas orientais, germanos, turcos e mongóis, em diversas civilizações dos vales ibéricos até os confins dos montes Altai, que da sua forma particular cantaram em honra a Minne. Tal Aristocracia sempre coexistiu e combateu os filhos do horror, as crias do Demiurgo, e hoje, numa modernidade de trevas que destruiu todos os povos e culturas, os castelos e cercos são microcósmicos, individuais.

                A imersão nestes Mistérios revela à Consciência mais do que nossa identidade espiritual, mas nosso propósito, nossa missão – em nome de cuja consecução devemos estar sempre alertas às armadilhas do demônio. Afinal de contas, a existência de uma Meta Sacra, e a revelação da verdade de uma guerra cósmica que se reproduz dentro de cada um, faz com que o Catarismo, como todas as filosofias e religiões vistas sob a ótica da “Mão Esquerda”, seja muito mais do que um pessimismo Sans Volonté, como em Cioran ou Schopenhauer, mas uma via bélica e contundente de obliteração do mundano e reafirmação vigorosa do Divino.


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